O bate-papo estava marcado para as nove horas da manhã, em uma quinta-feira, mas Fernando Fischer pediu uma hora a mais para podermos conversar e fazer esta entrevista.
E tinha como falar não?
O jogador de basquete do Bauru Paschoalotto tinha competido (e vencido!) no dia anterior e, mesmo com o cansaço, estava disposto a conversar e relembrar o seu início no esporte. Fernando joga há 24 anos e já passou por times em São Paulo, Suíça e Espanha. Em Bauru, há quase cinco anos, ele é uma das estrelas do time que virou o orgulho da cidade. Levar a população aos jogos e empolgar a cada partida não é uma missão tão fácil assim. Mas com o talento de Fernando e de seus companheiros, isso já virou rotina. Apesar dos tempos difíceis – Fernando passou por uma cirurgia e enfrentou as dúvidas de pessoas que não acreditavam na sua volta – ele sabe que nasceu para isso: encantar nas quadras. Nesta entrevista, o jogador fala sobre a rotina no esporte, como está sendo jogar ao lado Ricardo, seu irmão, e confessa: “passei por um desafio muito grande, com pessoas duvidando do meu retorno e achando que eu nunca iria voltar a jogar. Foi muito importante ter pessoas me apoiando e acreditando em mim”.
SB: Quando você começou a jogar basquete?
Fischer: “Eu comecei a jogar com oito anos. Tinha um tio que jogava, não profissionalmente, mas isso mexeu muito comigo. Minha família sempre gostou de esportes e todos acompanhavam o basquete. Além disso, no meu prédio, tinha um amigo que jogava e uma vez eu fui com ele a um treino, quando eu tinha oito anos. Foi aí que comecei a jogar, mas confesso que não gostei muito. Joguei uns seis meses e parei. Depois, comecei a jogar tênis, por seis meses, e parei de novo. Logo em seguida, voltei ao basquete e não saí mais.”
SB: E além do seu tio, havia mais algum atleta na família?
Fischer: “A minha mãe já jogou vôlei, mas nunca competiu. Assim como o meu pai, que também jogou. Mas em competição, somente o meu tio.”
SB: E todos sempre te apoiaram?
Fischer: “Sim, todos me apoiaram desde o começo. Meu avô ia a todos os jogos, junto com os meus pais. Sempre tive o apoio de todo mundo da família. Lógico que eles falavam da importância de fazer algo a mais, sempre estudar, mas nunca deixaram de me apoiar no esporte.”
SB: E como você veio para Bauru?
Fischer: “O Guerrinha (técnico do time) tinha me chamado em 2004, para jogar em Rio Claro, em um projeto que ele tinha lá. Foi o primeiro contato que tivemos. Mas, na época, eu saí de um time da Suíça e fui para o Guarujá e não deu para aceitar a proposta. Lá eu jogava com Hudson, que depois veio para Bauru ser assistente do Guerrinha e que falou de mim para ele novamente. O Hudson me ajudou muito! Aí o Guerrinha me chamou e eu vim para Bauru, em janeiro de 2009. Logo, já faz cinco anos que estou aqui!!”
SB: Mas antes de ir para Suíça, onde você jogava?
Fischer: “Eu joguei muitos anos na Hebraica, em São Paulo. Lá eu fiquei oito anos. Depois, fiquei um tempo na Espanha, no time Casa Branca, no Guarujá, Santos. Mas o principal foi a Hebraica, meu primeiro time profissional. Lá eu comecei em 1996.”
SB: Qual foi primeiro jogo em competição, você lembra qual foi?
Fischer: “Eu lembro que estava perdido! Estava tão perdido que nem sabia quem eu tinha que marcar… Eu até perguntei para um jogador do outro time se era ele quem eu marcava! (risos) Isso foi em 1991. Eu era mais novo que os outros jogadores e estava muito nervoso.”
SB: Como é a sua rotina?
Fischer: “A nossa rotina é muito pesada e a minha está sendo ainda mais, desde a minha cirurgia. Mas, normalmente, nós treinamos às 9h, na quadra, depois vamos para uma academia e ficamos até 12h, e voltamos para a quadra à tarde. Isso acontece todos os dias, inclusive aos finais de semana. A gente não para! E, desde a minha cirurgia, a minha rotina está sendo diferente. Faz sete meses que eu operei e desde a segunda semana já estava fazendo fisioterapia. Então, além dos treinos, tenho que encaixar as sessões de fisioterapia. É uma loucura!”
SB: E faz quanto tempo que você voltou a jogar? Sentiu essa volta às quadras?
Fischer: “Faz mais ou menos um mês que eu voltei. Essa foi a primeira vez que eu me machuquei e passei por uma cirurgia no tendão de Aquiles. Nunca fiquei tanto tempo fora das quadras. O ano passado já estava jogando com dor, mancando, mas não precisei parar. Mas chegou uma hora que não deu mais e precisei dar essa pausa. Passei por uma fase muito difícil, na verdade, a fase mais difícil da minha vida. Quando voltei a jogar eu me senti como numa reestreia. Eu passei por um desafio muito grande, com pessoas duvidando do meu retorno e achando que eu nunca iria voltar a jogar. Foi muito importante ter pessoas me apoiando e acreditando em mim.”
SB: E esta é a primeira vez que você está jogando com o seu irmão?
Fischer: “Quase jogamos juntos na Suíça… Na época, ele treinou lá e quando começou a jogar, eu vim embora. Em outra época, jogamos um pouco em um outro time… Mas esta é a primeira vez que temos esta rotina. O meu irmão cresceu me vendo jogar, meus pais levavam ele no carrinho quando iam me ver em algum jogo. Ele nasceu dentro de uma quadra! Então, foi muito bacana ver essa evolução dele. Sempre incentivei.”
SB: Você acha que hoje está onde sempre sonhou?
Fischer: “Eu acho que sim. Só queria estar na minha melhor forma. Estou indo atrás disso, treinando muito. Agora, já estou até jogando sem sentir dor, mas foi um período muito difícil.”
SB: E pensou em desistir?
Fischer: “Sim. Eu estava menos focado, fiquei com vontade de abandonar tudo. Pensava: ‘se estivesse fazendo outra coisa, não estaria com o corpo assim’. Mas as lições que aprendi nestes últimos meses, eu vou levar para o resto da minha vida. Estou em um dos melhores times do Brasil. Hoje somos vitrine e valorizados como ser humano, o que para mim é fundamental.”