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Um tema delicado e complexo, cheio de feridas não cicatrizadas. Abordar o nazismo num filme por si só já é uma tarefa complicada. Pior ainda é se o foco da película ganha destaque nos jornais poucos meses antes da estreia. Foi com todos estes complicadores que “Caçadores de Obras-Primas” precisou lidar. É uma pena, no entanto, que muitas das boas intenções tenham ficado pelo caminho.

Quinta experiência por trás das câmeras do mundialmente famoso George Clooney, o filme retrata um fato da Segunda Guerra Mundial pouco explorado pela sétima arte. Em meio ao holocausto, Hitler ordenou que o exército alemão roubasse obras de arte de museus e de colecionadores particulares. As pinturas e esculturas de gênios como Michelangelo, Picasso e Rodin, entre muitos outros, seriam a principal atração do museu que o chefe nazista planejava erguer na Áustria. Para frustrar os planos do ditador, um grupo de especialistas em arte se uniu ao exército americano para vasculhar a Europa, encontrar as obras saqueadas e evitar que ícones da arte ocidental caíssem em mãos erradas.

De volta às manchetes em novembro, quando o governo alemão localizou 1.500 quadros pilhados durante a Segunda Guerra, o fato histórico flerta na telona com as aventuras de Indiana Jones, mas infelizmente não tem o brilho do herói criado na década de 70. Mesclando desproporcionalmente ação, sentimentalismo e uma comédia pouco inspirada, falta ao filme transmitir a real gravidade do roubo das obras de arte e a importância da missão de resgate. Ao saquear e destruir obras-primas, Hitler pôs em perigo uma parte significativa da História. Mesmo que não sejamos amantes de arte, esses símbolos culturais representam o mundo ocidental e, indiretamente, cada um de nós. Ao ofuscar a nobreza dos heróis e o drama da situação com uma abordagem e uma trilha que transformam tudo em piada, George Clooney colocou “Caçadores de Obras-Primas” abaixo de filmes recentes como “Bastardos Inglórios” e “Operação Valquíria”. E tudo porque não consegue fazer o público se importar com o destino da humanidade.

Além disso, mesmo com astros como Cate Blanchett, Matt Damon e o próprio George Clooney, criar nove protagonistas é um exagero que só dificulta a identificação com a história. No final, sabemos tão pouco sobre cada um deles que não faz diferença se eles vivem, morrem ou voltam para suas famílias.

“Caçadores de Obras-Primas” mostra que um grande orçamento não fez bem à criatividade de George Clooney. Faltam a ele a sensibilidade de “Boa Noite, Boa Sorte” e a coragem de “Tudo Pelo Poder”. No entanto, o pior problema do filme talvez não esteja na tela, mas sim em cada pessoa na plateia. Afinal, o golpe mais dolorido é na expectativa de que o filme estivesse à altura da pequena, porém consistente, filmografia do diretor, que nunca havia amarelado diante de assuntos difíceis.

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