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Ele já usou spray, canetinha, giz de cera, terra, carvão… de tudo um pouco para fazer as suas obras! Matheus Marques Pinheiro, mais conhecido como Fino, pinta quadros e muros pela cidade de Bauru há mais de dois anos. E, além desse trabalho, Fino também desenvolve oficinas para crianças – coisa que ama fazer. “Eu adoro trabalhar com criança. A alma da criança é muito pura. Você não tem problema de lidar com ela. No trabalho, por exemplo, as pessoas são sacanas, tentam de chantagear. Trabalhar com criança é como entrar no mar: você limpa a sua alma e sai puro”, afirma o artista. Depois de ter seus quadros expostos em duas ocasiões em Bauru, chegou a hora de o Brasil inteiro conhecer o seu trabalho. É que algumas obras do artista foram escolhidas para ambientação do novo programa da Multishow, que vai estrear em abril. Nesta entrevista, Fino comenta sobre esse convite, o início como artista e as dificuldades que enfrenta todo dia. “Acontece muito de eu estar pintando na rua e as pessoas ficarem olhando. E eu tenho o costume de continuar o meu trabalho, normalmente. Se a pessoa quiser vir conversar e estiver disposta a entender, eu paro de pintar e converso com ela. Mas, às vezes, tem gente que já tem o preconceito e eu nem perco meu tempo conversando com uma pessoa tão leiga”, conta.

SB: Como surgiu o convite para ter as suas obras no programa da Multishow?
Fino:
Bom… vou falar como tudo começou mesmo. O meu começo foi com a loja Usare, antes de entrar na faculdade de arte na UEL (Universidade Estadual de Londrina).  Eu era vendedor na loja. Nessa época, a proprietária da Usare já falava para mim: ‘vamos fazer uma marca!’.  Mas eu ainda não sabia quem eu era. Eu já pintava, mas não tinha criado as características que tenho hoje. Depois eu fui para Londrina e fiz Artes Visuais lá. Quando eu voltei, eu fiquei um tempo na casa dos meus pais, mas depois saí de lá e montei a minha própria galeria na nova casa, que é a galeria Residência. Lá é uma galeria independente, então eu tenho sempre que ir atrás de patrocínio. Um dia, eu fui lá na Usare, novamente, e pedi patrocínio. Foi aí que voltou o assunto de criarmos uma marca e foi aí, que eu aceitei. Depois, eu fui comprar as telas e as tintas para começar a produzir o material. E aí montamos a exposição, em 2013, na Usare. Por conta desse trabalho, nós começamos a ter uma assessoria de imprensa aqui em Bauru e em São Paulo e a assessora de lá pediu para eu encaminhar todo o material que eu tinha. Como ela trabalha com a Rede Globo, ela mostrou o meu material e o pessoal da Multishow teve o interesse de utilizar as minhas obras no novo reality show que eles estão produzindo. Foram seis telas para São Paulo que vão participar desse programa.

SB: Então o contato foi em São Paulo?
Fino:
Na verdade foi da Débora (proprietária da Usare) com a assessora em São Paulo. Algumas pessoas acham que sou só eu, mas existe uma equipe por trás. Isso para mim é ótimo porque é muito difícil para o artista ter que ficar preocupado com tudo. A minha única preocupação hoje é pintar.

SB: E como é o reality show?
Fino:
Ele é feito em um hospital mesmo, em São Paulo, e todos os casos são reais. Os meus quadros fazem parte do cenário do hospital. Essa é a primeira vez que os meus quadros são expostos fora de Bauru.

SB: Como foi a sua primeira exposição?
Fino:
Foi lá na minha galeria, em casa. Mas foi uma coisa bem amadora perto do que estou fazendo hoje! Ela aconteceu para dar mais abertura para as outras exposições de lá.

SB: Como funciona a Residência?
Fino:
Eu mudei para Bauru e a gente estava procurando uma casa para morar. Aí, como essa casa que eu fui morar sempre tinha muitos artistas, veio a ideia de abrir uma galeria lá. Em casa a gente não tinha uma sala concreta, uma sala padrão com sofá e tevê. Lá é uma casa totalmente diferente e sempre sobrou muito espaço. Foi aí que tivemos a ideia de abrir uma galeria independente e assim, a gente não tem a preocupação com editais. A maioria dos artistas que procura fazer uma exposição passa por muita burocracia. Não é fácil. Na verdade, é muita dor de cabeça para um resultado que, às vezes, não é tão satisfatório. Mas está dando certo e nesse ano, já temos todas as datas fechadas.

SB: Você sempre quis ser artista?
Fino:
Na verdade, tudo começou em 1998, quando eu ainda estudava no Colégio Seta. Eu ia com a minha mãe pela Avenida Nações Unidas e sempre estava muito atento a tudo que acontecia na rua. Na época, em 98, não existia nada relacionada ao grafite em Bauru! Então qualquer coisa que eu via, já me chama a atenção. Aí eu chegava na escola, pegava minha folha do caderno e tentava copiar o que eu via nos muros. Mas eu era atleta nessa época, fiz 15 anos de esporte. Teve uma época que eu fui morar em Belo Horizonte e depois de uma semana lá, eu liguei para a minha mãe e disse que não queria mais o esporte e tinha vontade de largar o judô. Acho que essa foi a maior decepção dela e o do meu pai até hoje. Eles queriam muito que eu pegasse a minha faixa preta  – e até hoje sou muito grato a isso porque sou professor atualmente. Mas eu não queria seguir essa carreira. Era uma vida muito regrada e eu estava de “saco cheio” de disso. Aí eu abandonei Belo Horizonte, voltei para Bauru, fiz seis meses de cursinho e passei na UEL. Foi a partir daí que eu decidi o que eu queria para a minha vida.

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SB: E você teve apoio dos seus pais?
Fino:
Sim, sempre tive o apoio deles. Eles nunca me reprimiram ou impediram que eu fizesse nada. Teve uma época que a gente morava em um apartamento minúsculo e eu peguei uns sprays que têm um cheiro horrível! Nossa, quando eu pintei o meu quarto, impregnou a casa inteira! (risos) Deixei minha mãe e o meu pai morrendo de dor de cabeça, mas eles não falaram nada.

SB: O que você fala para quem tem preconceito com o seu trabalho?
Fino:
Primeiro eu falo para a pessoa tentar entender um pouco mais do que eu faço e depois tirar as próprias conclusões. Acontece muito de eu estar pintando na rua e as pessoas ficarem olhando. E eu tenho o costume de continuar o meu trabalho, normalmente. Se a pessoa quiser vir conversar e estiver disposta a entender, eu paro de pintar e converso com ela. Mas, às vezes, tem gente que já tem o preconceito e eu nem perco meu tempo conversando com uma pessoa tão leiga.

SB: E você enfrenta muito preconceito?
Fino:
Ah, nessa última exposição que eu fiz agora, que está no Shopping Boulevard Nações, eu coloquei cinco quadros novos. Um deles se chama: Brazilian Politic Arts (artes dos políticos brasileiros). Ele fala muito sobre corrupção, policiais e políticos. Mas o shopping recebeu uma denúncia da polícia pedindo para retirar o quadro, pedindo para censurá-lo e retirá-lo da exposição. Era só uma crítica geral e não para uma pessoa específica. Acredito que eles generalizaram. Eu vejo políticos e policiais bons, que me abordam de maneira correta e também existem os ruins. Mas eles tiraram o quadro e ele está guardado.

SB: E por que você fez esse quadro?
Fino:
Porque eu estava pintando na rua e chegou um policial me dando uns tapas e me abordando como se eu fosse um bandido. Fui para a delegacia e tive que assinar boletim de ocorrência. Isso faz um mês, mais ou menos. Aí, antes de eu começar a exposição, eu já tinha duas telas prontas para serem pintadas e eu não ia falar sobre isso em nenhuma delas. O meu trabalho é completamente diferente disso. Procuro trazer uma energia positiva e não negativa. Mas eu estava tão revoltado com isso que tinha acontecido, que eu tive que fazer esse quadro. Mas, infelizmente, ele foi censurado da exposição. Mas isso é normal. Quem está na chuva é para se molhar, né?

SB: Então os seus quadros não são sempre uma crítica?
Fino:
Não, os quadros não, mas a arte que eu faço na rua é sim. Quando eu pinto na rua, eu sempre tento pegar lugares abandonados que as pessoas passam todo dia. Um muro que está destruído, por exemplo. Quero que a pessoa passe no outro dia e veja a pintura, a frase e perceba que era aquele muro que ela nem reparava. Mas ela começa a reparar pelo fato de ter um desenho e uma frase lá. É muito bom poder quebrar a rotina das pessoas. O dia dela já é outro por ela ter passado por ali e ter visto aquela reflexão.

SB: Qual o seu projeto para esse ano?
Fino:
Se eu for expor novamente esse ano, quero produzir coisas novas e fechar a exposição transcendental com essas telas. O meu maior sonho como artista é conseguir tocar as pessoas com a minha obra. Quero conseguir tocá-las, que elas vejam as minhas obras e tenham uma outra visão da vida.

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