Ele fundou a coluna social em Bauru e fez história na comunicação da cidade. Mas, muito antes de trabalhar no Jornal da Cidade, Roberto Rufino já conquistava o seu espaço em outras empresas e revolucionava por onde passava. A seguir, você confere algumas histórias do homem que foi engraxate, entregador de jornal, estudou direito, foi professor, trabalhou em um banco e atua, há 37 anos, no ramo imobiliário. Confira!
SB: O senhor é de Bauru?
Rufino: Eu nasci em Duartina, mas vim para Bauru ainda criança. Sou bauruense porque recebi o título de cidadão bauruense da câmara.
SB: E o senhor veio para cá com qual idade?
Rufino: Ah, bem criança. Para ser bem sincero, não tinha nem um ano de idade. Por isso que eu falo que Bauru é a minha praça mesmo! (risos).
SB: E como foi a sua infância?
Rufino: Foi uma infância de dificuldade. Meu pai abandonou a minha mãe, quando ela ainda estava grávida da minha irmã. Depois a minha mãe casou-se de novo e esse foi o meu pai. O meu pai biológico não aguentou e esse aguentou firme. Então, como muita gente, eu também passei por dificuldades. Fui engraxate, entregador de jornal, mecânico e tive outras atividades para poder sobreviver. Mas sempre sonhei em cursar uma faculdade e ter um caminho melhor. Passei por várias etapas: fiz curso de contador, depois fiz 5 anos de Direito e trabalhei como professor.
SB: E como surgiu a coluna social?
Rufino: Eu trabalhava na Antártica e fazia um jornal semanal, que era distribuído na porta dos cinemas. Na época, Bauru tinha seis cinemas! E lá eu fiz uma coluna social. E isso despertou o interesse de um outro jornal e fui convidado para fazer a coluna social da publicação. Eu até falei para o Nilson Costa, que era do jornal, que eu fazia esse trabalho, mas não era jornalista e ele me disse que acompanhava o meu trabalho e me queria fazendo a coluna mesmo assim. Então lá foi a minha vitrine.
SB: Como o senhor começou a trabalhar no JC?
Rufino: Bom, como eu já tinha envolvimento com jornal, eu me identifiquei muito com o Jornal da Cidade e foi aí que eu comecei a ter mais contato com o povo. Eu promovi muita coisa a partir do JC. Aos poucos a gente foi ganhando nome e hoje é uma bandeira do próprio jornal, muita disputada. Graças a Deus todo mundo quer sair na coluna.
SB: Então o senhor teve muitos trabalhos…
Rufino: A sequência profissional foi assim: meu primeiro grande emprego foi na Antártica, onde eu fiquei 13 anos. Aí eu saí e fui trabalhar como relações públicas de um banco que estava em uma situação difícil e o gerente me contratou para poder aumentar o depósito do banco. E eu consegui aumentar bastante, tanto que até cogitaram me chamar para gerência em outro banco. Mas depois o gerente do banco que eu estava saiu e eu assumi o lugar dele. E eu revolucionei, comecei a impor a emissão de carnês das empresas daqui de Bauru. As pessoas levavam os carnês e iam pagar no banco e com isso, o banco cresceu muito com depósito. Como eu nunca fui de carreira bancária, até o presidente do banco que era de Minas Gerais queria me conhecer pessoalmente porque eu fiz muita coisa. Esse é um orgulho meu! Depois eu fui procurado pela Valorama, uma empresa que mexias com investimentos e com ações. Mas quando eu senti que a Valorama estava correndo o risco de fechar por problemas de administração, eu fui procurar um professor que ensinava Economia e ele me aconselhou a pedir demissão, por causa da situação da empresa. Depois disso eu abri uma imobiliária e estou nesse ramo até hoje, há 37 anos. E eu sempre ando com dois cartõezinhos: um que é do meu escritório e onde eu ganho o meu dinheiro e o outro que é do jornal, que eu falo que é a minha cachaça! O jornal não paga o que eu acho que devia pagar. Mas é a minha cachaça, o meu ideal, o que eu gosto de fazer.
SB: E como o senhor conheceu o Miguel Daré?
Rufino: Quando teve a Copa do Mundo, há 20 anos, tinha festa na Cervejaria dos Monges aqui de Bauru. Por conta disso, a gente ia lá tirar as fotos, mas não colocava o nome das pessoas. Só que o pessoal do jornal não gostava disso, porque não dava para conhecer ninguém. Aí eu comentei com o Renato Zaiden que eu precisava de ajuda, porque não ia conseguir anotar todos os nomes. Aí eu comentei com o Daré e ele aceitou o convite. Eu expliquei que era só levar um caderno e anotar os nomes da esquerda para e direita, e foi assim que ele começou. E deu certo! Começou pequeno e virou um grande colega nosso no JC. E eu gosto muito dele.
SB: Levando em consideração as novas mídias e toda a tecnologia que há hoje, o senhor acredita que a coluna social e o jornal impresso podem acabar um dia?
Rufino: Eu acho que a internet é um grande avanço que veio para revolucionar. Antes eu tinha dificuldade para fazer a coluna: pegava a foto, depois achava o foco em uma peça de metal e isso era uma dificuldade enorme! E tinha que fazer lá no jornal, porque de lá, já ia para uma máquina. Hoje é tudo automático e eu posso fazer a coluna pelo meu escritório, não preciso ir até o JC. Eu acho que o jornalismo impresso ainda terá muito tempo pela frente. Não acredito que ele vá acabar. Existem as pessoas que são tradicionais e gostam de jornal. Eu acho que sempre teremos público para o jornal.
SB: E como é a sua relação com a sua família? O senhor tem filhos e netos?
Rufino: Tenho três filhos, todos casados, e dois netos. Um filho trabalha comigo na imobiliária, o outro na CART e a minha filha é advogada na prefeitura. E a minha relação é excelente. Meus filhos são meus amigos. Existe muito amor e carinho na nossa relação.
SB: Ninguém seguiu com a comunicação como o senhor?
Rufino: Ninguém! (risos)
SB: E o senhor tem algum medo?
Rufino: Então, o único medo que eu tive uma vez foi durante a infância. Eu fui a uma sessão do cinema, na época que eu morava na Vila Cardia. E eu vi umas coisas se mexendo no poste, no caminho para o cinema. Fiquei desesperado! Não dava para saber direito o que era. Mas também não dava para voltar e fazer outro caminho. Aí, abaixei a cabeça e segui andando. Quando cheguei perto, eu vi que era um papel que estava preso no poste e se mexia! (risos) Isso foi a única coisa na vida que me deu medo.
SB: E o que foi o “bauruísmo”?
Rufino: Na minha coluna eu sempre gostei de colocar coisas que valorizassem as pessoas que nasceram aqui. Coisas que deixassem as pessoas alegres e orgulhosas daqui. Por isso fiz o termo “bauruísmo”, que é uma forma da pessoa se dedicar pela cidade porque é aqui que ele mora, vive com os filhos, ganha seu dinheiro e é feliz. Qualquer conquista que se possa imaginar, tem que ser valorizada.
SB: Hoje o senhor vê alguém na cidade que ainda faz isso?
Rufino: O Renato Zaiden. Ele é um grande “bauruísta”! É meu colega e um homem muito talentoso. Ele, realmente, continua fazendo isso com muito amor. A minha coluna começou isso e ele dá continuidade. Fico muito honrado.
SB: O que a comunicação trouxe de aprendizado para a sua vida pessoal e profissional?
Rufino: Eu acho que a comunicação é a alavanca do mundo. Se a pessoa se dedicar à comunicação, ela vai estar muito bem de vida, com condições de vitórias em qualquer projeto que ela tenha. O Chacrinha, por exemplo, dizia: “quem não se comunica, se trumbica.” Ele tinha um palco, a festa dele e se comunicava. Por isso eu acho que a comunicação é mesmo a alavanca do mundo. Ela que faz o progresso.
SB: E como é o livro que o senhor escreveu?
Rufino: O meu livro se chama: Um país chamado Bauru. A nossa cidade é o conjunto de nacionalidades. Aqui tem italiano, japonês, árabe… Bauru é a junção dessas famílias. São essas comunidades que fazem a nossa cidade. E esse meu livro, que eu lancei há quase dois anos, já tem 800 unidades vendidas e conta essas histórias.