Rio-I-Love-You-12

Em 2006, foi Paris. Em 2009, Nova York. Agora, cinco anos depois, a franquia cinematográfica “Cities of Love”, que declara amor a cidades icônicas do mundo inteiro, desembarca aqui no Brasil com o recém-lançado “Rio, Eu Te Amo”. Projeto ambicioso que reúne vários cineastas para contar histórias em um cartão postal, o filme poderia firmar o Brasil como cenário para produções internacionais. Mas o resultado é desastroso e, em alguns momentos, chega a envergonhar o espectador.

Formado por dez histórias concebidas, do roteiro à direção, por onze cineastas diferentes, “Rio, Eu Te Amo” utiliza o Rio de Janeiro como pano de fundo para um mosaico sobre o amor. São curtas-metragens sobre relacionamentos em crise, despedidas, reencontros, paixões platônicas, conflitos familiares, amor fraternal e sexo. Pra levar tudo isso para a tela, um batalhão de 25 atores nacionais e internacionais ficou a cargo de dar vida a taxistas, garçons, artistas, tradutores, prostitutas, instrutores de asa delta… Ou seja, parece muito coisa para 1h50 de filme, não?

Extremamente irregular do começo ao fim, “Rio, Eu Te Amo” é um verdadeiro “samba do cineasta doido”. Primeiro de tudo, pela diversidade de diretores envolvidos. São nomes como Fernando Meirelles (de “Cidade de Deus”), José Padilha (de “Tropa de Elite”), Carlos Saldanha (da franquia de animação “A Era do Gelo”), o italiano Paolo Sorrentino (vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro deste ano com “A Grande Beleza”), o mexicano Guillermo Arriaga (de “Babel”) e o australiano Stephan Elliott (de “Priscilla – A Rainha do Deserto”). Cada um dos onze cineastas possui indicações ao Oscar, ao Globo de Ouro ou ao Festival de Cannes e é reconhecido mundialmente por suas marcas autorais. Portanto, são criadores acima de qualquer suspeita.

À primeira vista, parece um time imbatível. Porém, o conjunto não dá liga. Assemelha-se à criação do rosto perfeito pela união dos traços de várias modelos: por mais que cada característica seja linda isoladamente, no mesmo rosto elas originam um Frankenstein. No caso do filme, ele vira um emaranhado de drama, comédia, fantasia e melancolia, sem que nada faça sentido. O drama de um casal que necessita de uma cirurgia antecede a saga de um vampiro (sim, um vampiro!) que vive no morro. Do mesmo jeito, uma separação amorosa cria o território para a fantasia de uma dupla que escala o Pão de Açúcar e dá de cara (literalmente!) com o cupido. Em um projeto como “Rio, Eu Te Amo”, no qual a riqueza de estilos poderia ressaltar a forma como histórias contraditórias convivem entre si em uma mesma cidade, é uma pena que este recurso seja desperdiçado pela forma como as histórias são costuradas.

Uma vez que cada diretor desenvolveu sua história isoladamente, seria natural que elas também fossem exibidas desta forma, em episódios curtos que se fechassem em si. Entretanto, o filme conecta todos os curtas e força a barra para que os personagens se cruzem, em uma tentativa de mostrar que todas as vidas estão interligadas. Além de criar situações constrangedoras, essa narrativa destrói o desfecho de cada curta-metragem e gera a expectativa de que os personagens terão novos desdobramentos ao longo do filme. Como isso não se concretiza, a sensação final é de que existem personagens demais, de que eles não são desenvolvidos suficientemente e de que o filme parece retratar um bairro em que todos se conhecem, não uma cidade com mais de 6 milhões de habitantes.

Ilustrado do começo ao fim com imagens estonteantes da beleza carioca, “Rio, Eu Te Amo” funciona melhor como vídeo institucional da cidade do que como cinema. Reproduzindo clichês como a bossa nova, o samba, as praias e as mulheres, o filme com certeza vai satisfazer a gana do governo carioca, que vê na sétima um importante cartão de visitas para o turismo e que há tempos convida cineastas internacionais para filmar no Rio. Porém, eu continuo torcendo para que Woody Allen aceite o convite que tantas vezes recebeu e repita no Rio de Janeiro o fez em Barcelona e Nova York: transforme a cidade não apenas em cenário, mas em um grande personagem cinematográfico.

Compartilhe!
Carregar mais em Cultura
...

Verifique também

Espetáculo gratuito valoriza música instrumental passando por gêneros de todas as partes da América

Nesta sexta-feira (26), Bauru recebe o espetáculo gratuito “Rente América”, ap…