cronica-menina-interior
Ilustração: Marcella Marchesan

Quando eu me despedi dela pela primeira e única vez, não tive medo de olhar para trás. O que eu não sabia é que ela nunca mais voltaria a ser a mesma. Agora em que voltei para os seus braços, não a vejo como a via antes. Antes meus passos eram grandes e que com ela eu não me sentia sozinha. Com ela eu estava em casa e isso bastava.

A primeira vez que eu voltei, já não era mais ela. Mas eu demorei para descobrir. Foi quando eu voltei para ficar, que percebi. O que antes eu achava ser grande, se tornou pequeno. Agora ela é só uma menina de interior. Não me leve a mal, pois eu também sou uma menina do interior. Foi com ela em que eu aprendi a ser quem eu sou, foi com ela em que eu passei todas as etapas da infância e adolescência sem reclamar. Foi também por estar perto dela até hoje, que eu não tenho muito o que dizer no momento. Me falta a ausência e a saudade e não me vem a inspiração para entoar o ‘back in bahia’ em seu nome.

A menina de quem eu falo se chama Bauru. Ela vive no coração do Estado de São Paulo. A menina de quem eu falo é a cidade em que eu nasci, cresci e hoje moro. Eu deveria ter mais que poucos parágrafos para falar sobre ela. O meu primeiro rascunho trazia um texto animado, menos dramático e até cômico. Afinal, Bauru sempre tem uma história engraçada. Mas não era o que eu queria dizer. Dela eu ainda carrego amores e situações que guardo com carinho e que mereciam atenção e uma escrita detalhada. Talvez não nesse momento. Me falta dobrar a esquina e pensar em Bauru com o pesar da distância.

Mas a verdade é que, no presente, quando penso em Bauru, o meu estado de espírito se fecha em nuvens carregadas. E minha inquietação não cabe em qualificá-la e compará-la com outras moças, mulheres e senhoras. O meu receio é que, assim como ela, eu também seja só uma menina de interior. Antes grande e que caminhava em passos largos. E, no momento, acomodada, proscrita em um pedaço do mapa, inerte, enquanto alguns chegam em nossas vidas e outros vão, sem olhar para trás.

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