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Afinal, toda família é sagrada? Jota Crepaldi e Eveline Rodrigues acreditam que sim e defendem essa ideia em peças de arte que começaram a fazer há poucos meses, por acaso. De lá pra cá, o sucesso só cresceu, as encomendas aumentaram e a obra tomou uma proporção que eles não imaginavam – até o deputado Jean Wyllys já demonstrou sua admiração pela obra.

O Social Bauru conversou com Jota e Eveline e falou sobre a nova estrutura familiar, preconceito, homossexualidade e, principalmente, amor. “O amor não tem forma, explicação e nem regra. Amor é amor. E ponto”, afirma o artista. Confira o bate-papo:

Como surgiu a ideia de produzir essas peças?
Jota: Eu não lembro exatamente quando, mas provavelmente foi por causa de alguma polêmica do Facebook. E eu estava com o meu sketchbook (caderno de anotações) e fiz um esboço de uma família gay. Foi aí que pensei: ‘nossa, ficou legal isso’. Aí conversei com a Eveline e pensamos em transformar em um quadro para as pessoas poderem encomendar. Porque eu já caí no erro de fazer coisas bem grandes, monumentais e aquilo ficar parado. Aí fizemos o primeiro e ‘bombou’.

E quando vocês fizeram essa primeira peça?
Jota: Foi no final do ano passado, um pouco antes do Natal. A gente até pensou por causa do Natal, por ser Sagrada Família, já que toda família é sagrada.

Quantas peças foram feitas?
Jota: Nossa, não sei! (risos) Mas já viajou bastante, foi para o Rio de Janeiro, São Paulo… inclusive, um casal de senhoras bem influente no Rio de Janeiro.

Mas como elas entraram em contato?
Eveline: Ah, foi passando de amigo para amiga até que chegou nelas.
Jota: Teve muita gente que compartilhou a primeira foto que colocamos no Facebook, da primeira peça. E nesse compartilhamento, chegou nelas. Tanto que, até o deputado Jean Wyllys, curtiu essa imagem.

E alguém bateu de frente com essa proposta de vocês?
Jota: Sim, várias!
Eveline: É que assim, eu sou professora, dou aula de Biologia e uso muito as redes sociais. Mas nunca sobre trabalho, as pessoas até comentam: ‘sobre Biologia você nunca fala nada…’ (risos). Porque eu quero deixar mais descontraído. Mas eu percebo que, como eu tomei essa postura, os meus alunos se sentem mais à vontade. Eles sabem que ali eles podem falar de tudo e não têm preconceito. E eles compartilham muito e, muitas vezes, esses compartilhamentos chegam em pessoas que não apoiam.
Jota: Eu, por exemplo, já tive problema no Instagram e no Facebook. Antigamente, eu tinha um pouco mais de paciência para conversar e colocar meus pensamentos. Mas hoje eu não tenho mais.

Mas até pessoas próximas?
Jota: Sim, até pessoas próximas que são totalmente homofóbicas. Eu já ouvi muito: ‘Nossa, eu não sou preconceituoso, mas…’ ou ‘poxa, tenho até amigos gays, mas não aceito que eles se casem…’ . Oi?
Eveline: Tem ainda quem fala: ‘não é que eu não aceito, eu não concordo’. Mas eu acho que a gente tem que se prender muito mais no que esse trabalho está levando de bom. Nem que seja só pelos meus alunos, que gostam de opinar. É bom porque eles começam a ver tudo de um outro jeito. Mas no geral a obra foi muito bem aceita.

E vocês acham que fica mais contraditório por vocês terem uma família margarina?
Jota: Não, mas a gente não tem uma família ‘margarina’. Pode até parecer, mas não é! (risos). Os filhos são meus e adotados pela Eveline de coração .
Eveline: E eu acredito que nenhuma família é realmente assim, perfeita. Pode até posar, mas não é. Todo mundo tem problemas, né?

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E por que vocês acham importante levantar essa bandeira?
Jota: Nós temos muitos amigos homossexuais que sofrem por causa da religião, família ou até por não se aceitarem. Por estarem aos 30 anos, talvez, descobrindo que gostam de uma pessoa do mesmo sexo. E eles acham que estão errados e isso é muito triste. É uma vida de sofrimento.

Como surgiram as ideias? São todas encomendas?
Eveline: No começo não, mas aí foram surgindo encomenda e a gente foi fazendo. Você pode escolher como você quer que seja a família da peça. Aí a pessoa dá a foto e a gente usa como inspiração. E é só inspiração mesmo, não é uma cópia e nem é muito realista.
Jota: A foto serve só para lembrar o semblante, mas não é uma cópia fiel da pessoa. Aquele casal de senhoras que eu comentei, por exemplo, falou que gostava muito de cachorro. Aí, na peça, eu coloquei elas no meio e enchi de cachorro em volta, porque essa é a vontade delas, ter muito cachorro em casa.

E um não interfere no trabalho do outro?
Eveline: Imagina, a gente interfere muito! (risos). O tempo todo, na verdade. E não só no que a gente trabalha junto, mas eu tenho uma marca de bolsas que é só minha e ele palpita bastante.
Jota: Olha… a gente já teve muita briga! (risos). É difícil vir uma pessoa e falar que está muito ruim. E ela fala mesmo! Vira e diz: ‘ficou ruim, viu?’ Aí eu já digo: ‘ok, mas o que você entende para você falar que isso está ruim?’ (risos). Mas hoje é mais fácil, já estamos há sete anos nessa ‘labuta’ aí! (risos)
Eveline: É, agora já deu para acostumar.
Jota: Mas isso é da criatura humana, né? A gente não aceita que a gente está errado e não ouve a opinião do outro…

E a gente volta no começo da conversa, sobre a intolerância no Facebook, né?
Jota: Exato. Todo mundo tem esses defeitos, mas uns já aprenderam a ouvir e outros não.
Eveline: E eu trabalho muito isso o tempo todo em sala de aula, essa intolerância com o pensamento do outro, o preconceito e o racismo.

E os seus filhos comentam sobre essas peças que vocês fazem?
Jota: Sim, a minha filha mais velha adora desenhar!
Eveline: E eles são muito tranquilos, criados sem preconceito nenhum. É tudo muito natural. E eu sempre falo uma coisa para as pessoas: ‘ se você está preocupado com uma vida que não é sua, tem algum problema aí’. Poxa, imagina que sofrimento você amar uma pessoa e não poder nem andar de mãos dadas? Não poder abraçar? Então tem que ser natural.
Jota: É, imagina você ficar feliz por algum motivo e não poder comemorar com um beijo com quem você ama, que está do seu lado… é muito cruel isso.
Eveline: É por isso que não dá para a gente virar as costas para tudo isso que está acontecendo. Alguém precisa ajudar e mudar.

Se eu pudesse definir a obra em uma palavra eu usaria ‘amor’. Vocês concordam?
Eveline: Nossa, eu fiquei até arrepiada! Eu usaria a mesma palavra porque é amor.
Jota: O amor não tem forma, explicação e nem regra. Amor é amor. E ponto.

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