danielnascimento-hacker1

Depois de ser considerado o maior hacker do Brasil, deixar os estados do Nordeste uma semana sem acesso à Internet, invadir grandes provedores como de governos fora do país e passar mais de 24 horas preso na Polícia Federal, Daniel Nascimento sentia que era a hora de falar sobre tudo o que tinha vivido.

Mesmo com o medo do julgamento, já que as pessoas ainda se assustam quando ouvem a palavra ‘hacker’, Daniel chamou a sua amiga e jornalista Sandra Rossi para entrar nesse projeto. “Eu guardei tudo isso por dez anos comigo e estava na hora de falar abertamente. Então foi um processo muito bacana. Quando a Sandra topou, começamos a fazer as entrevistas em vídeo. Ela montou um estúdio dentro do quarto na minha casa. Então, ela ia lá e a gente ficava à vontade conversando. Foi muito bacana”, diz.

Depois de oito meses de trabalho, o livro DNpontocom já estava disponível em todas as livrarias e Daniel já era procurado para dar entrevistas, como no programa The Noite, de Danilo Gentili. No bate-papo com o Social Bauru, o bauruense comenta o início de tudo, questiona a forma como o hacker é tratado no Brasil e fala sobre o futuro. “Eu estou fazendo um aplicativo que será muito parecido com uma rede social. Algo que resgata o mIRC de antigamente”, revela.

Confira:

Como surgiu o projeto do livro?
Daniel: Bom, eu já era amigo da Sandra e um dia eu comentei que existiam alguns fatos da minha vida que eu gostaria de falar. Eu sentia que estava na hora de contar tudo o que eu tinha vivido. Só que ela não deu muita bola… acho que pensou: ‘o que esse cara tem para falar?’ (risos).

E quando foi essa conversa?
Daniel: Em abril de 2014. E foi quando eu comecei a contar tudo para ela.

Ela não sabia de nada?
Daniel: Na verdade, ninguém sabia. Era um assunto só de família. Porque depois que aconteceu tudo aquilo (Daniel ficou mais de um dia detido na Polícia Federal de Curitiba), eu coloquei uma pedra e não falava sobre o assunto. Sempre fui conhecido por outros motivos e tinha medo do julgamento.

Na verdade você queria só falar sobre o assunto, né?
Daniel: Exatamente. Eu guardei tudo isso por dez anos comigo e estava na hora de falar abertamente. Então foi um processo muito bacana. Quando a Sandra topou, começamos a fazer as entrevistas em vídeo. Ela montou um estúdio dentro do quarto na minha casa. Então, ela ia lá e a gente ficava à vontade conversando. Foi muito bacana.

danielnascimento-hacker2

Vocês ficaram quanto tempo nesse processo?
Daniel: Ficamos até setembro fazendo as entrevistas e depois montamos o livro. Ele foi lançado dia 15 de dezembro.

E com o lançamento do livro, você sentiu o julgamento que você estava com tanto medo?
Daniel: Ah, ninguém me julga na minha frente, né? Mas eu sei que as pessoas me julgam, achando que eu guardei dinheiro daquela época ou que eu ainda estou fazendo tudo o que fazia. Você acha que se eu fizesse, eu iria publicar um livro sobre isso? Mas as pessoas não pensam nisso e acabam julgando muito.

Eu já li que você foi considerado o maior hacker do Brasil e que você queria esse título. É verdade?
Daniel: Naquela época eu queria sim! (risos)

E isso foi em que época?
Daniel: Eu comecei na Internet entre os anos 2000 e 2001. Eu mudei muito na minha vida: saí de Bauru e fui para Curitiba, depois para Guaratuba, aí voltei para Curitiba de novo… então eu nunca tive muita raiz por causa dessas mudanças. E também não tinha uma vida normal: não jogava bola, não corria, até se eu brincava de esconde-esconde, eu era o primeiro a ser pego. Não servia para nada! (risos) Mas aí na Internet eu era o ‘cara’. Passava 18 horas por dia na Internet. Eu estudava, dormia umas três horas e ficava no computador.

O seus pais sabiam o que você estava fazendo?
Daniel: Não porque nem eu sabia. Eu invadia computadores, derrubava servidores, mas nada envolvia dinheiro até então. Eu ainda não tinha noção que aquilo podia envolver dinheiro. Eu era uma criança, não tinha malícia. Ali eu usava um personagem e estava dando certo.

Nem os seus amigos da escola sabiam?
Daniel: Com alguns amigos sim. Mas eles não acreditavam. Só perceberam mesmo o que eu estava fazendo quando eu apareci com carros e dinheiro. Ah, também teve a história das revistas. Foi assim que meu pai descobriu! Eu consegui entrar no servidor da Editora Abril e assinei todas as revistas que eles tinham. Aí, um dia, o meu pai estava na sala, assistindo tevê, quando ouviu um barulho muito forte lá fora. Eles entregaram as revistas que eu tinha assinado de uma vez em casa! Jogaram tudo no chão. E nem estavam com o meu nome, eu criei ‘Rodrigo Derdal’. E foi assim que o meu pai descobriu.

danielnascimento-hacker3

E não descobriram que era fraude? Porque você colocou tudo no mesmo endereço…
Daniel: Pois é, acho interessante falar disso. Porque tem muita gente que julga hoje e fala que o que eu fiz foi errado. Concordo, mas não podemos esquecer que isso era em 2004. Era tudo diferente naquela época. Eu não tinha nem o Youtube para ler um tutorial. Eu tive que aprender inglês na marra, de tanto que eu li sistema.O domínio que eu tinha de Internet era muito grande.

Eu também já li uma declaração sua falando sobre como os hackers são tratados aqui no Brasil. O que você acha que precisava mudar?
Daniel: A cultura.

E acho que você sentiu isso depois de tudo o que aconteceu, né?
Daniel: Muito! Mesmo com a minha biografia, ainda é difícil. Eu acho que dentro do Brasil a gente tem que mudar o jeito que o hacker é tratado. As pessoas têm medo de hacker. É claro que se o cara pisa na bola, ele tem que pagar por esses erros. Mas podiam criar programas de incentivo para trazer esse cara para a sociedade. Então acho que tinha que mudar a forma social que o Brasil vê. O Mark Zuckerberg (um dos criadores do Facebook) era um hacker respeitado no mundo todo. E, mesmo depois de tudo o que ele fez, foi tratado como um bom aluno de tecnologia. É dessa diferença que eu estou falando.

E como você derrubou o servidor de Internet do Nordeste?
Daniel: Eu cheguei em um ponto que eu tinha muitos servidores inteiros na minha mão, como de governo no exterior. Em 2004, eu participava de um rede e entrei em uma briga com um dos donos. E ele tomou o meu ‘nick’, que é a maior humilhação para um hacker. Aí eu disse que, se ele não devolvesse, eu iria derrubar toda a rede. Como ele também era muito forte, não acreditou que eu iria conseguir fazer isso. E aí eu ataquei. Levei dois dias para conseguir fazer isso e toda a rede da Telemar, no Nordeste, ficou uma semana sem Internet.

Você se arrepende de alguma coisa?
Daniel: Eu não me arrependo de nada que eu faço na minha vida, mas não faria de novo.

E o que você que isso transformou em você?
Daniel: O que me salvou naquela época foi a base familiar que eu tenho. Eram tempos difíceis e eles me apoiaram muito. Se eu não tivesse tido esse apoio, eu não sei que iria acontecer. Mas eu percebi nessa época que, quem eu tinha, eram aquelas pessoas que estavam me apoiando. Mas eu acho que essa foi a maior transformação. Principalmente no dia que eu fui detido, que eu fiquei mais de 24 horas. E mesmo assim eu ainda nem tinha chorado, eu estava tranquilo. Mas quando eu vi meu pai, na porta da polícia federal tentando entrar com um prato de comida na mão, acabou tudo pra mim. Essa é a cena mais forte para mim. Foi ali que eu senti o choque. Porque eu não tinha motivo para fazer isso com os meus pais, sempre fui criado com muito amor. Mas foi ali que tudo transformou para mim e continuo evoluindo até hoje.

Quais os seus próximos planos?
Daniel: Eu estou fazendo um aplicativo que será muito parecido com uma rede social. Algo que resgata o mIRC de antigamente.

E qual o seu sonho agora?
Daniel: Nossa, eu tenho tantos sonhos! Acho que o meu maior sonho é continuar sonhando.

Compartilhe!
Carregar mais em Cultura
...

Verifique também

Série Alma, de Juliana Alvarez, está em exposição em Bauru

De 17 de abril a 17 de maio, o Espaço Cultural Leônidas Simonetti recebe a série Alma. O t…