silvio santos
Foto: Divulgação

Ele enfrentou a fome, a solidão, a falta de dinheiro e o cansaço para conhecer o apresentador Silvio Santos. Em 2008, Mário Benedito Lima, estudante de jornalismo da Unesp, saiu de Nossa Senhora das Dores, sua cidade em Sergipe, e foi até São Paulo de bicicleta para realizar seu sonho.

Foram 23 dias para chegar em São Paulo – loucura enfrentada com apenas 100 reais no bolso – e mais três meses até conhecer seu grande herói, como ele mesmo fala. E o que era para ser apenas um encontro acabou mudando completamente sua vida.

Conheça um pouco mais dessa história inspiradora:

Quando você viveu essa aventura?
Mário: Eu saí de Sergipe dia 30 de novembro de 2008.

E por que você quis viver isso?
Mário: É que eu sempre tive o Silvio Santos como um herói para mim. Eu tenho a biografia dele e já li três vezes. Então, o meu sonho era conhecê-lo. Eu só queria uma foto e um autógrafo dele. E aí fiquei pensando: ‘como vou fazer isso’? Foi quando pensei na viagem e comecei a programar. Fiquei um ano programando tudo.

E você viajou sozinho?
Mário: Não, eu chamei um dos meus irmãos para ir junto comigo. Eu não ia contar para ninguém, porque sabia que todo mundo ia achar loucura, mas dias antes de viajar, eu resolvi contar para o meu irmão. Na hora que eu falei, ele já começou a chorar e provou que eu estava certo: todo mundo ia achar uma loucura! (risos). Aí eu o chamei para me acompanhar e contamos para a minha mãe que nós íamos para a Aracaju, capital de Sergipe. E saímos de casa, só nós dois. Mas depois de alguns dias, meu irmão começou a passar mal, quando estávamos na divisa da Bahia com o Espírito Santo. Nós tínhamos viajado 12 dias, mais ou menos. Como saíamos com 100 reais no bolso, vivíamos de doação de comida e dormíamos no chão, em rodoviária, sem estrutura. E meu irmão não estava muito bem. Foi aí que eu resolvi ligar para o meu tio para pedir dinheiro. Liguei e contei a verdade, disse que estávamos passando fome e expliquei tudo o que estava acontecendo. Mas não queria dizer o local que estávamos. Como ele insistiu para dizer pelo menos o banco que ele deveria depositar a quantia, acabei contando. Quando estamos nessas situações, não pensamos muito, né? Aí eu acabei dizendo que estava em Posto da Mata em frente à uma agência do Banco do Brasil. Inclusive, abri essa conta só para a viagem, caso acontecesse alguma emergência. Mas o dia passou e nada desse dinheiro cair. Aí eu percebi que estavam vindo atrás da gente. No outro dia, estávamos na praça e parou um carro com um policial, o motorista do prefeito da minha cidade e a minha mãe. Aí começamos a discutir, a praça encheu de gente e eu com medo de ser linchado lá! Bom, depois de um tempo, eu disse que não ia voltar e pedi para o meu irmão cuidar da minha mãe. Eles foram embora e eu fiquei sozinho. Nessa hora eu chorei muito porque me senti um solitário.

E você manteve o contato com a sua mãe?
Mário: Sim, a cada cinco dias ela me ligava e eu falava que estava tudo bem. Aí depois de mais 12 dias, eu cheguei em São Paulo. Demorei, no total, 23 dias. E eu achando que ia demorar só 12 no total!

Você já tinha ido para São Paulo?
Mário: Não, nunca nem tinha saído de Sergipe.

E como conseguiu achar o SBT?
Mário: Eu estava com mapa e consegui chegar no SBT. Mas quando cheguei lá, os seguranças não deixaram entrar. Aí, eu resolvi sair pela cidade procurando a reportagem do SBT para eles me ajudarem. Olha a minha cabeça! Eu achando que eles iam falar: ‘claro! Vamos lá conhecer o Silvio Santos’! (risos)

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Foto: Roberto Nemanis/SBT

O que você fez depois disso?
Mário: Eu fui pedir ajuda em um quartel e perguntei onde eu poderia encontrar a equipe do SBT. Aí o policial Valbão foi quem me atendeu, e que eu falo até hoje que é o meu ‘pai paulista’, fez algumas perguntas e eu contei a minha história. Depois que eu contei, ele disse: ‘menino, você está zoando com a minha cara?’ (risos). Ele não acreditou! Mas eu expliquei de novo e mostrei as fotos que eu tinha tirado durante o caminho. Aí ele resolveu me ajudar e me abrigou. No dia seguinte, ele começou a ligar em alguns veículos de comunicação para contar a minha história e assim, alguém poderia fazer uma matéria comigo. Ligou no SBT e eles disseram que o Silvio estava viajando – o que depois eu descobri que era verdade. Mas eles não se interessaram pela pauta. O único que quis fazer a matéria foi o jornal Agora São Paulo. Com essa matéria, a Sônia Abrão entrou em contato comigo e me levou no programa. Ela disse que se eu fosse contar tudo o que estava vivendo lá no programa, depois ela me ajudava a encontrar o Silvio. Fui, participei do programa e ela não ajudou.

E você ficou esse tempo onde?
Mário: Então, o policial me abrigou um tempo, mas eu não podia ficar no quartel. Aí, a minha mãe entrou em contato com a família de um irmão do meu avô que mora em São Paulo e eles me acolheram. Também fiquei um tempo na casa de uns conhecidos da minha família, lá de Sergipe, que também estavam em São Paulo. Mas eu não podia ficar muito tempo assim, vivendo de favor. Aí eu fui trabalhar e morar na casa de uma mulher muito rica da cidade que eu conheci em uma igreja. Eu sabia que o pastor de uma igreja famosa era sogro da Patrícia Abravanel, filha do Silvio e resolvi ir lá. Mas o lugar é tão de elite que só entra de carro, nem pessoa a pé pode entrar. Aí, uma senhora me viu na entrada e me deu carona até a igreja. Assisti ao culto e fui conversar com o pastor. Contei toda a minha história e ele não quis me ajudar e nem deu muita atenção. Mas, tinha uma senhora do nosso lado que ofereceu ajuda: disse que eu podia trabalhar na casa dela e ela me daria salário e abrigo. Aí eu aceitei.

O que você fazia na casa dela?
Mário: De tudo! Fui quase um escravo dela – trabalhava das 8h às 22h e, às vezes, quando eu tinha folga de final de semana, ela cancelava e me fazia trabalhar.

E por que você continuou lá?
Mário: Porque eu precisava de um lugar para morar. Sabia que o Silvio só voltaria para São Paulo em março e eu não podia ficar morando de favor na casa dos conhecidos da minha família. Aí aceitei ficar nesse emprego por um mês e meio e, quando eu saí, só ganhei 300 reais. Nem o dinheiro que ela tinha prometido me pagou.

O que você fez depois que saiu de lá?
Mário: Eu saí quando descobri que o Silvio já estava em São Paulo. Aí, voltei para a casa dos meus conhecidos e comecei a fazer plantão no salão do cabeleireiro Jassa, porque eu sabia que o Silvio sempre corta o cabelo, quando volta de viagem e tem que gravar. E fiquei indo lá todos os dias. Até que um dia eu vi o carro do Silvio e acabei conseguindo entrar no salão.

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Foto: Roberto Nemanis/SBT

Imagino a sua emoção!
Mário: Nossa, quando eu vi o Silvio, eu dei um abraço tão forte nele! (risos). Aí ele perguntou quem eu era e expliquei que era um fã que tinha saído de Sergipe, de bicicleta, para conhecê-lo. Ele até falou: ‘como assim Sergipe? Depois da Bahia?’ (risos). Aí eu tive que mostrar todas as fotos que tinha tirado no caminho para provar que eu tinha feito a viagem, só por um autógrafo e uma foto com ele. Inclusive, ele me perguntou várias vezes o que eu queria e eu dizia que era só a foto e o autógrafo, que eu estaria muito feliz com isso. Aí ele me chamou para ir ao SBT, disse que eu era convidado dele e escreveu em um papel pedindo para os seguranças deixarem eu entrar, porque eu já havia sido barrado. Nossa, até chegar segunda-feira, que era o dia do encontro, o relógio parou! (risos). Não via a hora de chegar no SBT. E para me ajudar, quando eu estava saindo do salão, o Jassa me deu um dinheiro para eu comprar alguma coisa para comer e eu aproveitei e comprei um cartão telefônico para ligar para a minha mãe. Por coincidência, eu conheci o Silvio no dia do aniversário dela.

E qual foi a reação dela?
Mário: Achou que eu estava mentindo… para você ver a minha credibilidade! (risos). É que ela sofreu muito nesse período, inclusive meu irmão, que ficou depressivo. Eles foram hostilizados na minha cidade, minha mãe andava na rua de cabeça baixa. Imagina, a minha cidade tem só 25 mil habitantes, no interior de Sergipe. Lá todo mundo se conhece e ficaram me chamando de louco. Então eles sofreram muito.

E o que aconteceu no SBT, quando você voltou?
Mário: O Silvio me chamou para participar do programa dele, mesmo sendo permitida a entrada só de mulheres. O Roque até me disse: ‘é o patrão que estava mandando!’ (risos). E fiquei tão impressionado de estar no programa dele, que nem saía da minha cadeira na plateia, nem para pegar aviãozinho de dinheiro! (risos). Aí, no meio da gravação, o Silvio disse que tinha um fã dele que tinha ido até São Paulo de bicicleta para conhecê-lo e me chamou no palco. Fez uma entrevista comigo! Aí, quando terminou, ele me chamou e disse que era para eu procurar o RH porque ele ia me dar um emprego. Ele ia ver se tinham alguma vaga e, se não tivesse, ele iria pagar a minha passagem de volta de avião para Sergipe.

Você conseguiu o emprego?
Mário: Sim, eu fiz a entrevista e ela disse que era uma ordem do Silvio, que ele tinha pedido esse emprego para mim. Comecei como office-boy e estou lá até hoje. O bom que todo mundo sabia dessa minha história, então, sempre quando tinha que levar algo no camarim, eles me chamavam para entregar para o Silvio. Ficamos amigos.

Você começou a gostar ainda mais dele?
Mário: Sim, ele é um exemplo. Sempre quando anda nos corredores, tira foto com todo mundo, conversa, faz perguntas. Eu o considero meu herói porque ele é uma pessoa diferente. E para mim, herói é aquela pessoa que vence dificuldades, ‘batalhas’ da vida que são inimagináveis. E ele nem se considera um herói. Pelo contrário, é extremamente humilde.

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Foto: Divulgação

E como foi voltar para a sua cidade depois de tudo isso?
Mário: Foi muito bom. Eu conversei com uma das filhas do Silvio para dar um show do Patati Patatá para a minha cidade. Um show beneficente com doação de alimentos para as entidades carentes de lá. Ela concordou, mas eu tinha que ficar com toda a organização e conseguir um público de três mil pessoas. Bom, eu fiz tudo, falei com o prefeito para disponibilizar ônibus para os distritos vizinhos e conseguimos um público de 15 mil pessoas. E eu ainda prestei uma homenagem e entreguei um troféu de ‘Irmão Nota 10’ para o meu irmão que não conseguiu completar a viagem comigo.

E como surgiu a cidade de Bauru na sua vida?
Mário: O Silvio sempre perguntava se eu estava estudando e eu percebi que precisava fazer uma faculdade. Aí, comecei a olhar onde tinha escritório do SBT e vi a cidade de Bauru. Como eu sempre quis fazer jornalismo, deu certo. Fiz dois anos de cursinho e passei no vestibular da Unesp.

E você acha que tudo na vida é possível?
Mário: Olha, não acho porque toda a minha história podia ser diferente. Eu trabalhei na roça, hoje estou no SBT, mas porque eu fui atrás e uma outra pessoa me deu oportunidade. Encontrei pessoas no caminho que me ajudaram. Mas, se o Silvio fosse diferente, a minha história não seria essa. Por isso, não gosto de tornar exceção, uma regra.

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