Depois de crescer na coxia dos teatros, não tinha como Thiago Neves, administrador de empresas, não seguir os passos de seu pai, Paulo Neves.
“Decidi ajudar meu pai e foi aí que percebi a oportunidade de cuidar e gerenciar um negócio, já que minha formação é em Administração de Empresas (com habilitação em Comércio Internacional). Sempre gostei da área artística, especialmente, a parte de Produção e Iluminação Teatral. Pude então unir o útil ao agradável e optei por assumir a parte administrativa do curso”, diz.
Há dez anos, Thiago trabalha ao lado de seu pai e aprende, diariamente, a compreender ainda mais o trabalho do próximo. Nessa entrevista, o profissional fala um pouco do curso que está comemorando 15 anos de história, as experiências ao lado de seu pai e os seus maiores sonhos.
“O que eu mais sonho é que o curso transforme as pessoas, que elas sejam pessoas melhores através do teatro e que elas se realizem com aquilo que estão fazendo”.
Confira:
O curso existe em Bauru há quanto tempo?
Thiago: 15 anos. No entanto, o Diretor do curso – Paulo Neves – dá aulas de teatro e dirige há 47 anos.
E há quanto tempo você trabalha nele com o seu pai? O que faz?
Thiago: São dez anos trabalhando juntos. Hoje trabalho na parte administrativa e produção de eventos culturais do Curso de Teatro Paulo Neves e Casa de Cultura Celina Neves.
E como surgiu essa oportunidade? Quando era criança já sonhava em trabalhar ao lado do seu pai?
Thiago: Eu fazia estágio e quando terminou me vi desempregado. Decidi ajudar meu pai e foi aí que percebi a oportunidade de cuidar e gerenciar um negócio, já que minha formação é em Administração de Empresas (com habilitação em Comércio Internacional). Sempre gostei da área artística, especialmente, a parte de Produção e Iluminação Teatral. Pude então unir o útil ao agradável e optei por assumir a parte administrativa do curso.
Em Bauru, ele é referência no assunto. Como é ser filho de uma pessoa que já ensinou tanto?
Thiago: Ele não é uma referência apenas em Bauru. Talvez em outros cantos de São Paulo ele tenha até mais reconhecimento do que aqui. Ano passado ele recebeu uma homenagem do atual Secretário de Cultura (Fábio Nougueira) em Presidente Prudente. Nasci no meio artístico: minha avó era diretora de teatro, meu pai é diretor de teatro, minha irmã é diretora de teatro. Cada um deles desenvolveu a sua própria pesquisa… Minha mãe é instrutora de yôga, Doutora em Psicologia e Especialista em Psicodrama.Tentei fugir do caminho, mas quando vi, estava de volta e feliz naquilo que fazia. Não me sinto pressionado na área, não sou uma pessoa diferente, me sinto orgulhoso da família que tenho… Acho que soube aproveitar as coisas boas que eles me passaram. Até os pontos negativos que meu pai achava ou acha que tem. Ele vive me falando: ‘meu filho não faz isso que seu pai já fez, e você pode dar cabeçadas’. Mas a gente precisa tentar, mesmo que bata a cabeça de vez em quando. Apesar de o meu pai ser uma pessoa às vezes polêmica, ele é muito amado e eu não conheço pessoa igual com um coração tão grande como o dele. Foi ele quem me ensinou a ser extremamente agregador – talvez uma coisa que ele gostaria de ter feito e por muitas vezes ser incompreendido não fez.
E quais as lições que você aprendeu ao lado dele?
Thiago: Aprendi a buscar sempre ser correto na profissão; ser justo; tentar ao máximo ser uma pessoa boa, educada; fazer o meu melhor sempre; ajudar as pessoas. Procurando fazer o bem e ajudar ao próximo – e para isso é preciso estar bem consigo mesmo. Cometo muito erros, mas tento cometer e mudar. Hoje tento resolver meus problemas com mais diálogo. Não era uma pessoa muito fácil, mas tenho procurado trabalhar meu lado mais compreensível. Procuro trabalhar pelo bem ao próximo e pela cultura.
E na profissão, por que você acha que o curso existe em Bauru há tanto tempo?
Thiago: Acho que o curso se mantém pelo amor ao teatro, pela qualidade, pela referência, pelo corpo docente competente que conseguimos montar ao longo dos anos, pelo respeito à família e à figura do Paulo Neves. Acho que outra coisa importante é termos profissionais competentes em suas áreas, trabalhando sempre com respeito mútuo. Temos grandes artistas que são referências em Bauru: Grupo Ato com a Bete Benetti e o Carlos Batista; Protótipo Tópico com o Fábio Valério e a Lidiane Marques; Mariza Basso Formas Animadas com a Mariza Basso e o Kyn Junior; Celeiro da Arte com a Madê Corrêa; ATUCAEC com o Manoel Fernandes e Grupo de Teatro Abertura da Dora Girelli. O Teatro Municipal conta com profissionais competentes: Fábio Valério, Hélio Andreotti, Susan Lopes, Marco Giafferi. Temos o Nilceu Bernardo em Lençóis Paulista, o Osmar Nunes Junior em Pirajuí, o Centro de Dança Corpo Livre com a Merene e Lúcia Lobato. Há tantos outros que poderiam ser citados, gente competente que merece nosso respeito e que é de extrema importância também para o curso. Meu pai sempre me ensinou sobre isso: respeitar o trabalho do próximo. Teve uma época que eu comecei a ficar muito chato para assistir teatro, não gostava de nada, e meu pai me mostrou outra maneira de ver o teatro, procurando sempre o que tem de melhor nas peças e não as coisas ruins. Isso mudou completamente a minha maneira de ver as peças, consigo sempre ver coisas positivas.
Você tem alguma história para contar dos bastidores? Cresceu na coxia?
Thiago: Muitas. Acompanhei muito minha avó e meu pai quando era criança. Vi muita peça com meu pai, como ele é muito na dele, gosta de assistir no fundo e logo em seguida ir embora… Já fiz muito disso com ele (onde muitos criticavam até meu pai por não ir assistir os trabalhos deles). Uma história engraçada foi quando eu assisti a um espetáculo em São Paulo, a peça ‘Prometeu Acorrentado’. Estava lotado, estávamos assistindo em pé, e saí de perto do meu pai. Acabou o espetáculo, ele me achou quietinho na escada assistindo a peça, para ver se o ator ia ser acorrentado em uma cruz de verdade…
E o que mais sonha para o curso para os próximos anos?
Thiago: O que eu mais sonho é que o curso transforme as pessoas, que elas sejam pessoas melhores através do teatro e que elas se realizem com aquilo que estão fazendo. Tenho percebido uma evolução dos nossos alunos em relação à preocupação com o próximo. Eles não procuram tanto na intenção de fazer novela e sim como uma atividade de formação humana. Sonho também em transformar em um curso profissional. E que as pessoas respeitem mais os artistas e deixem de pedir para fazermos trabalho de graça. Ser artista é uma profissão como outra qualquer. Um médico não atende de graça; mercado não dá comida de graça… Na nossa profissão, parece que só somos respeitados se estivermos na Rede Globo. O interior de São Paulo tem muito artista competente com trabalhos grandiosos e de qualidade, então a valorização da profissão é muito importante. Espero que as pessoas prestigiem mais o teatro e que a educação esteja envolvida nesse projeto.