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Foto: Reprodução/Instagram

Ele poderia ser mais um que está rodando o mundo e gastando muito dinheiro sem pensar no amanhã. Mas o bauruense Renan Quinhoneiro é muito mais do que isso. O jovem pediu demissão do bom emprego que tinha para ir em busca de histórias que só o mundo pode lhe contar.

Em apenas quatro meses, o administrador já conheceu 28 cidades em 14 países; foi hospedado pelo vencedor do programa ‘O Aprendiz’, da Ásia, aprendeu a cozinhar com um chef francês e viveu um dia de celebridade em Hong Kong.

“Um dos momentos mais engraçados pra mim foram meus 15 minutos de fama em Hong Kong, quando um grupo enorme de turistas chineses me abordou pedindo pra tirar foto comigo, já que eles não estavam acostumados com a presença de ocidentais. Acabei tirando umas 20 fotos e chegou a ter umas cinco câmeras ao mesmo tempo! A população de Hong Kong não é acostumada com ocidentais, então eles me olhavam achando que eu fosse alguém famoso”, comenta.

E engana-se quem pensa que Renan esteja fazendo tudo isso porque tem muito dinheiro. Pelo contrário, o jovem está economizando muito, ficando em acomodações baratas e controlando todos os gastos.

“Não vou dizer que uma viagem dessas é barata e que só não faz quem não quer. Mas se engana quem pensa que precisa ser rico pra isso: é tudo uma questão de prioridade. É muito mais barato do que muita gente imagina, e por incrível que pareça, dependendo dos gastos que se tem em casa, como aluguel, condomínio, manutenção e seguro do carro, entre outras despesas, pode ser inclusive mais barato estar viajando o mundo do que sentado no sofá de casa – acredite!”, afirma.

Nesta entrevista, Renan comenta sobre as dificuldades dessa aventura, dá dicas para quem quer viajar gastando pouco e está sendo viver sem roteiro.

“É como ter vivido várias vidas em uma só, ver o mundo novamente como uma criança. Não consigo expressar o suficiente o quão incrível é uma experiência dessas – você precisa ver com seus próprios olhos”.

Confira:

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Foto: Reprodução/Instagram

Você está viajando há quatro meses, certo? Como surgiu a oportunidade?
Renan: Isso mesmo. Saí do Brasil no dia 25 de fevereiro, portanto, já estou há mais de quatro meses viajando. Na verdade, podemos dizer que não surgiu nenhuma oportunidade, tive que criá-la, digamos assim.

Vi em seu Instagram que você saiu do emprego para viajar, foi isso? Qual o emprego que você tinha?
Renan: Exatamente, foi dessa forma que a oportunidade foi criada, guardando dinheiro por um tempo e criando coragem para pedir demissão de um bom emprego. Eu trabalhava como Consultor de Implantação de Sistemas de Gestão Empresarial pela TOTVS, prestando consultoria a clientes de Bauru e região.

E por que decidiu viajar sozinho?
Renan: Viajar sozinho não chegou a ser totalmente uma escolha, já que assim como eu, meus amigos mais próximos já trabalhavam e conciliar a minha agenda com a deles ou convencê-los de abandonarem seus trabalhos também não seria tarefa fácil. Claro que viajar acompanhado é divertido e tem suas vantagens, principalmente em viagens de menor duração, mas eu acredito que em viagens de longo prazo, viajar sozinho é a melhor opção. Principalmente quando se tem amigos chatos como os meus! (risos). Brincadeira!

Até agora, o que te surpreendeu ao viajar sozinho? É mais difícil do que imaginava?
Renan: Eu já havia viajado sozinho anteriormente, mas no máximo por vinte e poucos dias. Confesso que me preocupei com isso antes de iniciar essa viagem mais longa, mas agora não mais, apesar de sempre bater aquela saudade da família e dos amigos. Viajar sozinho te proporciona uma liberdade sem igual, você pode fazer o que quiser, ir pra onde quiser e quando bem entender. Porém, o mais importante é que sozinho em um país diferente, você se torna mais aberto a se comunicar com locais, tornando a viagem e o aprendizado muito mais rico quando você abandona por um tempo a realidade que te cerca e sua zona de conforto.

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Foto: Reprodução/Instagram

E em suas fotos dá para perceber que você sempre está com alguém. Acabou fazendo amigos nesse caminho?
Renan: Sim, e muitos! Viajar sozinho não significa exatamente ter que ficar sozinho o tempo todo. Na verdade só fica sozinho quem quer. Fazer amigos pela estrada é muito mais fácil do que parece, até porque tem muita gente viajando sozinho também. Ter amigos de diferentes países, culturas e religiões te torna uma pessoa muito mais aberta e tolerante. Conhecendo realidades diferentes você passa a repensar tudo o que faz no dia a dia, até as tarefas mais simples, como não sendo uma verdade universal, o que gera reflexões muito ricas.

Qual o roteiro que você fez? E qual era a prioridade para esse roteiro?
Renan: E se eu dissesse que não planejei roteiro nenhum? Eu já tinha em mente vários lugares que gostaria de conhecer, mas nenhum roteiro planejado, muito menos datas. Eu cheguei no Aeroporto Internacional de Guarulhos apenas com uma mochila e uma passagem só de ida para o Marrocos, ou melhor, a passagem era pra França, mas com parada no Marrocos que era pra onde eu queria ir, perdi o segundo trecho de propósito, as companhias aéreas não gostam nem um pouco quando fazem isso, mas saiu pela metade do preço! Desculpa aí Air Maroc Airlines! A prioridade era o sudeste asiático por ser exótico e barato, mas no fim das contas, acabei chegando na Ásia só depois de três meses de viagem.

Quantos lugares você já visitou?
Renan: Até hoje, nesta viagem, 28 cidades em 14 países. Já visitei Marrocos, França, Polônia, República Tcheca, Áustria, Eslováquia, Hungria, Sérvia, Grécia, Turquia, Hong Kong, Malásia, Singapura e, atualmente, Tailândia.

Quais experiências que você pode contar desses locais?
Renan: São tantas que eu poderia conversar por horas sobre isso. Você está com tempo? (risos).
Entre as mais marcantes estão: ter dormido por duas noites em uma tenda no Deserto do Saara, apreciar aquele pôr do sol sentado no topo de uma duna e depois descer para jantar em um tapete debaixo do céu mais estrelado que eu já vi – com direito até à estrela cadente. Foi inesquecível! Ter sido hospedado por um chef francês em Paris também foi muito interessante, já que gosto de cozinhar. Deu até pra aprender alguma coisa. Eu também almocei com uma família nômade que não falava inglês no Deserto Negro no Marrocos; voei de balão na região da Capadócia e foi incrível, a imagem de 150 balões no ar ao mesmo tempo, durante o nascer do sol em meio àquela paisagem única não vai sair da minha memória tão fácil. Explorar toda a ilha grega de Santorini de buggy com amigos que fiz por lá mesmo por cerca de uns dez dias também foi muito divertido, principalmente quando encontramos uma parte isolada da ilha, sem nenhum turista, onde pulamos no mar mediterrâneo pra nadar. Outra experiência inusitada e que me proporcionou muito aprendizado foi ter sido hospedado pelo ganhador do programa ‘O Aprendiz’ da Ásia em Kuala Lumpur na Malásia, acabamos nos tornando amigos e aprendi muito com ele profissionalmente. Um dos momentos mais engraçados pra mim foram meus 15 minutos de fama em Hong Kong, quando um grupo enorme de turistas chineses me abordou pedindo pra tirar foto comigo, já que eles não estavam acostumados com a presença de ocidentais. Acabei tirando umas 20 fotos e chegou a ter umas cinco câmeras ao mesmo tempo! A população de Hong Kong não é acostumada com ocidentais, então eles me olhavam achando que eu fosse alguém famoso.

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Foto: Reprodução/Instagram

Tem como destacar o local que tenha sido mais legal?
Renan: Passei por experiência marcantes em praticamente todos os lugares. Só o fato de experimentar comidas diferentes já vale pra mim. Mas pensando nos meus lugares favoritos até agora me vem em mente: Budapeste na Hungria e Praga na República Tcheca por serem cidades lindas e ao mesmo tempo baratas se comparadas a destinos mais tradicionais na Europa; Santorini na Grécia e Goreme na Turquia por suas belezas naturais exuberantes e Marrakesh no Marrocos e Hong Kong por serem destinos bastante exóticos para nós brasileiros.

Você fica em média quanto tempo em cada local?
Renan: Viajando a longo prazo eu sempre fico por mais tempo que o normalmente recomendado para esses locais em uma viagem de turismo comum, já que tenho tempo, quero conhecer melhor a cultura, conversar com locais e não apenas visitar atrações turísticas. Tem também sempre aqueles dias em que prefiro apenas sentar em uma praia ou um café pra ficar lendo um livro. Levando isso em conta,nunca fico menos menos de cinco dias em um lugar. Em alguns casos, cheguei a ficar mais de 15 dias na mesma região, mas em média, diria que uma semana por destino. A tendência é a viagem ficar mais barata quando se viaja num ritmo não muito acelerado já que deslocamento, principalmente de avião, pode consumir boa parte do seu orçamento.

Muitas pessoas deixam de viajar por falta de dinheiro. Como você está controlando? Dá para dizer quanto ela custará?
Renan: Não vou dizer que uma viagem dessas é barata e que só não faz quem não quer. Mas se engana quem pensa que precisa ser rico pra isso: é tudo uma questão de prioridade. É muito mais barato do que muita gente imagina, e por incrível que pareça, dependendo dos gastos que se tem em casa, como aluguel, condomínio, manutenção e seguro do carro, entre outras despesas, pode ser inclusive mais barato estar viajando o mundo do que sentado no sofá de casa – acredite! Pesquisando na internet e em livros, eu cheguei no valor de 50 dólares ao dia. Esse valor considera uma viagem de volta ao mundo incluindo países mais caros e também destinos bem mais em conta, ou seja, é uma média, em países do sudeste asiático, 20 dólares por dia ou até menos pode ser suficiente. Além dos destinos escolhidos, diversos outros fatores influenciam nos gastos com a viagem, sendo os principais, os que citei anteriormente; o ritmo em que se viaja, tipo de acomodação e o valor do dólar que no momento não está ajudando muito. No meu caso, cheguei ao valor de aproximadamente 30 mil reais para 6 meses, com certa folga, sem se preocupar muito em economizar o tempo todo e pagando cursos de mergulho, passeio de balão, entre outros. Ainda assim, de acordo com o que venho gastando, daria pra viajar mais tempo do que isso ou não gastar todo o dinheiro.
Por mês, então, eu diria algo entre 2500 a 4500 reais.

Até quando irá continuar viajando e quais os lugares pretende conhecer?
Renan: Continuarei viajando muito provavelmente até quando o dinheiro reservado para essa viagem durar! (risos). No momento, acabei de chegar na Tailândia e tenho muitos planos por aqui, como obter um certificado internacional como mergulhador na ilha de Koh Tao que me permite mergulhar em praticamente qualquer lugar do mundo até uma certa profundidade e aprender a cozinhar a comida tailandesa que é fantástica, no norte do país. Além disso, ainda pretendo conhecer o Vietnam, Cambodia e Indonésia. Mas nunca se sabe, eu pretendia ficar uns 15 dias na Europa e acabei ficando três meses. Meus planos não são fixos, vou comprando passagens de última hora, que algumas vezes acabam saindo mais caras, mas a liberdade é incrível.

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Foto: Reprodução/Instagram

Para quem quer viajar sozinho, quais dicas você pode dar?
Renan: Fique em hostels – isso mesmo, com esse ‘s’ no meio mesmo e não hotel. É um tipo de acomodação muito mais barata que hotéis por se tratar de quartos compartilhados com outros viajantes, o que te proporciona conhecer pessoas do mundo inteiro. Se ainda assim, você não se vê compartilhando um quarto com estranhos, a maioria dos hostels possuem quartos privados, mais caros obviamente, mas você poderá usufruir de uma área comum, cheia de outros viajantes ansiosos pra te conhecer, se divertir e explorar o destino com você. Para se ter uma ideia, em Budapeste eu pagava cerca de 20 reais a diária; em Santorini, 30 reais e no sudeste asiático existem opções até por menos de 15 reais por dia. E não pense que por ser barato são ruins não. Já fiquei em hostel com música ao vivo ou show de standup todas as noites, com piscina, cadeira de massagem, sala de cinema, video games, cozinha e transporte de/até o aeroporto incluso. Para reservar eu sempre utilizo o site hostelworld.com. Outra dica seria se hospedar com locais e de graça, quando eu comento com alguém, a maioria das pessoas acha loucura ou não entende como alguém poderia se oferecer para hospedar um estranho e ainda de graça. Mas acredite: funciona e muito bem. Fiz isso algumas vezes e todas foram ótimas experiências, foi assim que eu acabei sendo hospedado por Laurent, um chef francês; Jonathan Yabut, o ganhador do programa ‘O Aprendiz’ da Ásia; Rut,uma polonesa de mãe portuguesa muito simpática que até lavou todas as minhas roupas; e Danusia, uma bartender que me convidou para visitar o bar que trabalhava e preparou caipirinhas pra mim, pra que eu pudesse matar um pouco a saudade do Brasil. Isso é possível com o site couchsurfing.com. Porém, a dica mais importante talvez seja, caso ainda não consiga se comunicar em inglês, aprenda o quanto antes, o mundo de oportunidades que se abre diante de você é incrível. Tenho muitas dicas pra dar, inclusive estou pensando em lançar um site com esse intuito e também para inspirar mais pessoas a fazer o mesmo, assim que eu voltar pro Brasil. Mas enquanto isso, quem quiser, pode acompanhar a viagem pelo meu Instagram ou Facebook e fiquem à vontade para me mandarem perguntas também, será um prazer ajudar.

E para quem quer largar tudo para viajar e não tem coragem, o que você pode dizer?
Renan: Eu diria para pararem de esperar pelo momento perfeito. Muito provavelmente ele nunca virá, então, faça acontecer. Eu nunca ouvi falar de alguém que fez isso e se arrependeu, mas caso você se arrependa, que seja tendo o feito e não se arrepender no futuro de não ter tentado – isso é muito pior. Por mais clichê que possa soar essa frase, ela é clichê por um motivo. Se o medo for em relação à carreira profissional, eu acredito que muito dificilmente uma decisão dessa será algo prejudicial, muito pelo contrário, hoje em dia uma experiência dessas provavelmente trará aprendizados úteis pro ambiente de trabalho e uma boa empresa saberá valorizar isso.
Além do mais, olhando pra frente agora, seis meses por exemplo, pode parecer uma eternidade, mas daqui uns anos você vai olhar pra trás e pensar: o que foram aqueles seis meses em relação ao tempo que eu já vivi? Quase nada! Mas ainda assim, foi um tempo vivido tão intensamente e que te trouxe tanto aprendizado. É como ter vivido várias vidas em uma só, ver o mundo novamente como uma criança. Não consigo expressar o suficiente o quão incrível é uma experiência dessas – você precisa ver com seus próprios olhos.

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