No dia 5 de setembro, a partir das 14 horas, haverá a 1ª Passeata das Crespas e Cacheadas em Bauru. O evento é uma iniciativa das jovens Josiane Ribeiro e Jacqueline Rodrigues que, durante uma conversa no Facebook, perceberam que faltava essa iniciativa na cidade.
“Sabemos que o Brasil tem a maior população negra fora da África, mas, mesmo assim o que predomina é o ideal de beleza europeia. Assim nasce o ‘Encrespa Bauru’. Decidimos colocar em prática o projeto para fortalecer a memória e a autoestima de mulheres e homens de cabelos crespos e cacheados da cidade de Bauru. A mensagem que queremos passar é que as pessoas podem escolher o seu próprio caminho, buscamos a conscientização de que os cabelos crespos e cacheados são lindos. Assumir o cabelo crespo não é moda, é um grito de liberdade. É a devolução da nossa autoestima”, afirmam as organizadoras.
O ponto de encontro do Encrespa Bauru será na Praça Rui Barbosa. O Social Bauru conversou com as organizadoras para saber mais detalhes desta iniciativa. Confira:
Essa é a primeira vez que têm uma iniciativa como esta?
Jacqueline: O Encrespa Bauru nasceu a partir de uma conversa informal em uma rede social. Nos inspiramos na passeata ‘Orgulho Crespo’, que ocorreu no dia 29/07 em São Paulo.
Ivana: Sempre acompanhei os movimentos nas redes sociais, de cabelo e moda Afro, mas até então não tinha surgido nada em específico. Quando surgiu o convite para comandar a passeata, me deu um ‘start’ e as ideias foram surgindo. Com a ajuda de todos, o evento só está crescendo.
Já passaram por alguma situação de discriminação por causa do cabelo?
Jacqueline: Faz três meses que tirei toda a química do meu cabelo e resolvi assumir meu cabelo natural, o chamado Big Chop (Grande Corte). Nesses meses, tenho notado o estranhamento de várias pessoas, que até dizem: ‘Nossa, que coragem’… ‘Ficou diferente’. É difícil no começo, mas descobrimos em Bauru muitas pessoas nessa mesma situação. Inclusive, montamos um grupo no Whatssap com o intuito de darmos forças umas para as outras e trocarmos experiências.
Ivana: Tento pensar em curiosidade excessiva sem noção. Muitas pessoas perguntam se é peruca, se os cachos são feitos em uma máquina ou no dedo e grosseiramente puxam ou ficam colocando a mão, dizendo: ‘Nossa como é macio’. Definitivamente, nós não gostamos disso! Sabemos que crespos e cacheados chamam a atenção, mas existem maneiras de se estabelecer um contato. Afinal quando você é convidado para casa de um desconhecido você aprende a pedir licença. Nossos cabelos são a nossa casa, nosso espelho. Se quer conhecer, peça licença. Mas não garanto que o toque ocorra! (risos). Mas é claro que às vezes percebo alguns olhares de reprova. Penso que quanto mais cara feia, mais ele cresce.
Como vocês se conheceram?
Jacqueline: Sou administradora de empresas e para a organização do evento precisava de uma pessoa com conhecimento em comunicação, logo pensei na Ivana e fiz o convite.
Ivana: Nós somos amigas de Facebook, mas já tínhamos nos encontrados em alguns lugares aos fins de semanas. Um dia, a Jacqueline me mandou uma mensagem perguntando se gostaria de participar desse evento. Topei na hora, pois a ideia era boa e eu já tinha um pouco de conhecimento de comunicação, pois tinha acabado de me formar em jornalismo.
E todo mundo pode participar?
Jacqueline: Queremos mostrar que não somos fashion, que ninguém escolhe o tipo de cabelo quando nasce. Somos pessoas normais, querendo ser respeitados por nossas escolhas, que simplesmente se resume em sermos do jeito que fomos feitos. Imagina, se você não pode escolher o jeito de usar o cabelo que nasce na sua cabeça, o que mais se pode fazer? É por isso que a gente precisa se reunir. Porque a normalidade é passada a partir do momento em que aparecemos juntos mais vezes. Ainda que nosso trabalho seja pequeno, ele está fazendo bem para várias pessoas. A união traz a força, e a força quebra barreiras. A partir do momento em que você muda um comportamento, isso te faz enxergar outras coisas. Ou seja, o cabelo natural te leva a avaliação do racismo, que existe de forma velada, mas que fica ainda mais explícita quando você usa black power, e isso te leva a todas as questões sociais que envolvem esse tema e a nossa realidade social, gerada pela política é questionada sim.
Ivana: Claro! É um evento aberto. Estamos na defesa dos cabelos crespos e cacheados, mas afinal todo liso tem um amigo cacheado que sempre diz: ‘Queria o meu assim’. A iniciativa do projeto é apresentar que cabelos crespos e cacheados hoje vivem o seu melhor momento, tanto no surgimento de novos produtos diferenciados, quando na transição, ou seja, a libertação do uso de produtos químicos, para o cabelo natural. O momento que essa transição é aceita, o psicológico quase sempre se abala, e muitas desistem no caminho é ai que entramos com o evento para fortalecer!”
Para saber mais, acesse: www.facebook.com/events/152620571738560/