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Toma-se como base, para contar a história da Praça Rui Barbosa, um brilhante estudo promovido e publicado pela arquiteta, paisagista, professora e doutora do Departamento de Arquitetura, Artes e Comunicação da Universidade Júlio de Mesquita Filho (UNESP), Emília Falcão, com pesquisa e participação por parte da então aluna Amanda Murino Ravacho, com ilustração por fotos históricas assinadas por Carlos Giaxa.

Neste artigo, procuramos relatar as implicações da execução de um projeto paisagístico, datado de 1991, na cidade de Bauru, que incorpora como problema central a revitalização do centro urbano, questionando a validade dos conceitos e métodos utilizados nesse projeto. Foi naquele ano que se conferiu mudança plena na praça, levando em conta o projeto original.

Coloca-se o contexto de criação do projeto executado no início do século XX, assim como suas características, e o do projeto implantado em fins do mesmo século, 1991, numa perspectiva histórica. Antes da implantação do primeiro projeto paisagístico, a área conhecida hoje como Praça Rui Barbosa, era identificada como “Saara”, numa alusão ao ambiente natural da cidade: solo arenoso e clima quente.

Constituía-se, então, uma área quase plana, sem vegetação, configurada pelas construções do entorno onde se colocava uma igreja, derrubada com o objetivo de permitir o prolongamento da rua Batista de Carvalho, que se tornaria a mais importante rua comercial da cidade durante o século XX.

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A implantação do projeto original data de 1914, dentro da linha de paisagismo romântico, ou numa definição mais genérica, do jardim inglês, composto por lago, caminhos sinuosos, vegetação exótica arbustiva e arbórea. O desenho foi elaborado pelo projetista paulistano Heitor de Andrada Campos e muito se assemelha à Praça da República, da capital paulista, e teve como primeira denominação Praça Municipal, depois Praça Régis Bitecourt e finalmente Praça Rui Barbosa.

Nesse artigo, faz-se uma leitura sobre esse espaço em diversos “tempos”, estabelecendo-se relação entre as mudanças sobre as formas de apropriação da população, as transformações que ocorreram na estrutura urbana da cidade, assim como (num segundo plano), em decorrência do aparecimento de novos meios de comunicação.

A ênfase, em um marco temporal específico (a implantação de um projeto de revitalização de 1.990), pretende contrapor aspectos relativos aos interesses que motivaram sua criação e redesenho, e seu valor enquanto espaço referencial para a população do município; valor esse reforçado pela dimensão temportal exercida sobre o espaço e consequente associação deste à vida dos indivíduos e da comunidade.

A implantação do primeiro projeto se dá dentro da linha projetual do paisagismo romântico, do jardim inglês, composto por lago, caminhos sinuosos, vegetação exótica arbustiva e arbórea. Lembrando a Praça da República, de São Paulo, projetada em 1.905, o projeto revela uma transposição de ideias da capital para as pequenas aglomerações que iam surgindo no interior do estado.

O arquiteto Nilson Ghirardello, em 1.992, nos dá a informação sobre as características desse projeto e da cidade onde se insere. Segundo ele, a praça “colocava a cidade em sintonia com o que havida de mais moderno à época, trazendo pela primeira vez ao sertão do Estado, uma contemporaneidade que se destacava em toda paisagem urbana (…).

Foi quando, em decorrência das características do projeto implantado, o uso da praça deixava de ser de caráter religioso e passava a ser de contemplação, de apreciação sobre o conjunto estruturado pelas formações vegetais de espécies exóticas, pelos elementos em ferro fundido (como coreto e luminárias), pelo lago (com 447 mil litros de água), que era a maior que o que armazenava o líquido para consumo da população. “A iluminação era feita por postes decorativos com lâmpadas a arco voltaico em qualidade e quantidade maior que em qualquer ponto local (…)”.

As alamedas eram pavimentadas com asfalto e pó de pedra, sendo os únicos passeios públicos a terem calçamento. A praça cumpria a implementação de linhas projetuais definidas sob denominação de “Ecléticas”, completa Ghirardello. A criação da praça Rui Barbosa, em Bauru, se assemelha ao que ocorreu em outras cidades paulistas, revelando a vontade da elite cafeeira em levar para as pequenas aglomerações interioranas, a imagem de modernidade, mesmo que estas tivessem carências relativas à infra-estrutura geral.

A nova praça criou a referência do centro para uma área que se expandia a partir da estação ferroviária, afastada do aglomerado inicial que deu origem no caso de Bauru, ao “Patrimônio”. A praça era tida como espaço de lazer, frequentada por famílias e grupos de amigos. No entanto, denunciando o provincianismo da sociedade local, nos anos de 1.930, pessoas negras eram proibidas de frequentá-la. A impunidade racial e a existência de contestação, fazia com que as pessoas negras só pudessem frequentar áreas fora dos seus limites. Na década de 1.950, são percebidas mudanças na forma de apropriação da praça. Nesse período, o espaço recebe a primeira reforma, adequando seu traçado ao aumento da intensidade de circulação interna, ao mesmo tempo em que diminuia seu uso como espaço de lazer.

Não se conhece pesquisa específica que possa ser associada às mudanças ocorridas nesse espaço. No entanto, transformações tecnológicas começam a surgir na segunda metade do século XX (nos meios de comunicação e transporte em geral), que podem ser identificadas como a causa para as modificações na apropriação da praça.

Nos 40 anos que separam a década de 1.950 a 1.990, quando foi implantado o projeto de revitalização, as narrativas colhidas dizem respeito à deterioração do local. O espaço passou a ser ponto de prostituição, com os banheiros públicos utilizados para o consumo de drogas.

O processo de segregação espacial e a valorização de determinadas áreas induz a degradação de outras, que são abandonadas. A história da Praça Rui Barbosa encaixa-se nesse contexto. A praça, como muitas outras implantadas pelas cidades brasileiras, sofreu com as transformações urbanas. O deslocamento do centro configura-se como fator determinante para sua transformação.

Dentro desse contexto amplo, uma parcela da sociedade local, interessada em reverter esse processo, reivindicou a revitalização do espaço.

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Não por acaso ou coincidência, foi nesse período, pós 1.980, que surgiu em Bauru o primeiro shopping-center e, para reforçar o centro como de caráter comercial, o poder público cria o “calçadão”, quando reformou totalmente a praça, num modelo igual ao adotado em Curitiba e o objetivo era de acabar a delinquência e conseqüente degradação da praça.
Numa análise sobre o novo projeto, sua inadequação começa a ser identificada pelo corte das árvores, eliminação do lago e aumento de espaço para circulação, avançando onde antes tinha como ocupação as árvores mencionadas.

“Argan defende o conceito de espaço quando trata da teoria que envolve arquitetura e paisagismo, considerando que o espaço é formado por dois elementos: natureza e história.”

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