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O que a música significa a você? Para Bruno Sanches, Lucas Scaliza e Gabriel Sacramento ela significa vida. Os três são os integrantes do Escuta Essa Review, blog destinado a resenhas musicais onde o preconceito sai de cena e dá lugar ao bom trabalho. “Por aqui não há problema com rótulos, desde que a música seja boa!”, comenta Bruno.

Com dois anos de existência, Bruno, Lucas e Gabriel já receberam elogios que cantores consagrados, como Gal Costa, Lenine e Moska, entre outros, que reproduziram suas resenhas em diferentes canais de divulgação. Reconhecimento merecido e que só os impulsiona para continuar com o hobby/trabalho levado muito a sério.

Nesta entrevista, eles comentam sobre o projeto, a rotina de postagens, falam sobre o mercado atual da música e ainda dão dicas de talentos que você deve prestar mais atenção. Confira o bate-papo:

Quando você fez o blog e por quê?
Bruno Sanches: O blog está no ar desde 9 de junho de 2014, quando eu e o Lucas Scaliza fizemos o lançamento oficial nas redes sociais. Duas semanas antes, já estávamos testando a página e produzindo resenhas para o dia do lançamento. Já temos quase dois anos de existência! Ah, e sobre a criação do blog: eu e o Lucas fizemos uma pós graduação na USC Bauru em Antropologia; no horário de almoço e intervalo das aulas, conversávamos bastante sobre música, e era interessante que conhecíamos alguns artistas que os nossos colegas de sala sequer tinham ouvido falar. Quando as aulas da pós terminaram, continuamos mantendo contato a respeito de música e literatura, e então surgiu a ideia do blog – que serve para a gente conhecer ainda mais música, poder discutir com os leitores e entre nós mesmos os novos lançamentos musicais.

Quais as pautas do blog?
Lucas Scaliza: O blog lida com resenhas críticas de álbuns musicais. Não publicamos notícias do cenário da música e nem falamos de fofocas de celebridades da música. Fazemos análises dos discos que estão saindo ao longo do ano, fazendo com que o blog sirva como um guia do que está sendo produzido atualmente. Ouvimos os discos que artistas e bandas de diversas partes do mundo estão produzindo e resenhamos, contextualizando o álbum, fornecendo informações sobre eles e dizendo se, de acordo com nossos pontos de vista, o álbum é bom, muito bom, ruim, regular, se faltou alguma coisa, se o artista se superou, etc. Tratamos de quase todos os tipos de música, de samba a heavy metal, de música eletrônica a trilhas sonoras de filmes, de pop a experimentações tão abrangentes que fica até difícil definir um estilo musical. Resenhamos desde grandes nomes da música – como Foo Fighters, Rihanna, Taylor Swift, David Bowie – até bandas de nicho ou mesmo desconhecidas do grande público. Uma das metas do blog é fazer com que as pessoas ampliem seu leque de bandas e artistas.

Quem participa das postagens?
Lucas Scaliza: Três participam. O cientista social Bruno Emmanuel Sanches usa o pseudônimo brunochair para postar, escrevendo de Bauru. Eu sou jornalista e escrevo de Barra Bonita. E o novo integrante da equipe é o Gabriel Sacramento, estudante de computação, que escreve de Feira de Santana, Bahia.

E existe alguma rotina nas publicações? Como vocês se dividem?
Lucas Scaliza: Assim como todas as semanas há novos lançamentos de discos dos mais variados artistas e de interesse dos mais variados públicos, ficamos ligados em (quase) tudo que está saindo e separamos o que é mais interessante para nós e para o público. Não há como três pessoas resenharem toda a música que é produzida, mas tentamos abarcar o máximo possível. Dividimos as resenhas de acordo com o gosto pessoal de cada um e o conhecimento que cada um tem sobre uma banda/artista ou estilo musical. Tomamos o cuidado de não dar uma opinião baseada puramente em nosso gosto pessoal. É importante acompanhar o artista, saber do que ele está falando e tratando, quais são seus objetivos com seus álbuns e analisar do ponto de vista técnico também. Por exemplo, se eu preciso resenhar o novo disco da Rihanna e nunca ouvi nenhum trabalho dela, eu preciso ouvir a discografia dela antes de achar que eu posso falar do novo lançamento. Essa ‘pesquisa’ é bastante recorrente e faz parte de nossa rotina.

O blog hoje é um hobby? Vocês têm a intenção de transformá-lo em profissão?
Bruno Sanches: É um hobby, como também não é. Para mim, hobby é tudo o que fazemos por prazer, fora do período de trabalho. E sim, é o caso. Posso até ouvir um pouco de música no trabalho, mas as resenhas escrevo no período da noite, ou aos fins de semana. E considero parte da minha diversão, ouvir os lançamentos do mundo da música e escrever sobre eles. E poder debater com os leitores. E poder receber o feedback de algum artista. Portanto, é algo que faço com muito prazer. Ao mesmo tempo, não é um hobby ‘banal’, digamos. Toda a resenha escrita no blog provém de intensas pesquisas, tanto do disco em si quanto do artista em questão. Logo, é um trabalho sério, que toma bastante tempo dos nossos cotidianos. Quanto a transformá-lo em profissão, a tendência é que possamos torná-lo rentável, daqui a algum tempo. Não sei se ‘profissão’ como a de um funcionário público, batendo o ponto e etc… mas sim algo que possa ficar nesse meio termo, entre o hobby e a seriedade do material que é desenvolvido.

Hoje vocês acompanham mais o mundo musical? O que cada um mais ouve; qual estilo?
Gabriel Sacramento: Sim, eu acompanho bastante. Antes de escrever sobre música, precisamos viver música. Estar totalmente envolvido em tudo que é relevante, para que isso nos ajude quando analisarmos os discos. É importante acompanhar notícias, entrevistas, estar atualizado com relação ao que surge de novo. Sou muito curioso com relação à música, isso me leva a ouvir bastante coisa (inclusive o que não gosto). Ouço de Ed Sheeran à Slayer. Não dá para falar tudo, mas vou citar alguns estilos favoritos: blues, rock, soul, gospel e jazz.
Lucas Scaliza: Sim, acompanho bem mais o mundo da música agora para ficar por dentro de quem lança o que e quando, para saber das motivações dos artistas e bandas e o contexto de seus trabalhos. Uma resenha crítica não pode se basear puramente no que ‘eu acho’. É preciso ter uma visão analítica, e informação ajuda muito a dar um norte a sua análise. Escuto variados tipos de música, desde pop até black metal, mas escuto principalmente muito rock progressivo, trilhas de filmes e essas bandas que vêm da Islândia, sabe?
Bruno Sanches: O blog nos faz acompanhar muito mais o mundo da música, como os colegas já disseram. É engraçado que todos nós somos bastante ecléticos, e temos gostos similares. Gosto de rock progressivo como o Lucas, gosto de soul como o Gabriel. Eu sou o cara do blog que curte uns punk rock e derivados, mas também curto samba. Enfim, por aqui não há problema com rótulos, desde que a música seja boa!

E vocês já foram reconhecidos por cantores famosos, certo? Como foi isso? Quais cantores e como foram estes contatos?
Lucas Scaliza: Diversas de nossas resenhas acabam chegando ao conhecimento dos artistas, que por fim as utilizam – quando a resenha é positiva, claro – para divulgar seus novos discos em redes sociais. Dentre as resenhas que fiz, o Lenine e a Gal Costa foram dois dos que endossaram minhas palavras para seus fãs. O administrador do site do guitarrista John 5 (que tocou com o Marilyn Manson e tem uma carreira solo) também entrou em contato e pediu uma tradução para o inglês da minha crítica para que publicasse no site do artista.
Bruno Sanches: Ficamos muito satisfeitos quando recebemos esse retorno dos artistas. Obviamente, não é pra eles que fazemos a análise, e sim para o público. Mas existem artistas que merecem todos os louros e elogios pelo trabalho realizado, e isso acaba revertendo em uma resenha positiva da nossa parte. Ano passado, o Paulinho Moska publicou em sua página oficial a resenha que escrevi sobre o seu novo disco com Fito Páez, chamado Locura Total. Foi um feedback muito especial, pois acompanho a carreira do Moska há tempos, considero um dos melhores compositores da MPB contemporânea. Tive uma resenha de uma banda de rock progressivo chamada Barock Project vertida para a italiano, já que são da Itália. O Leoni também elogiou a resenha, o Bixiga 70, enfim… muitos retornos legais.
Gabriel Sacramento: Vários artistas já nos deram feedbacks, o que é muito importante para nós e para que melhoremos em nosso trabalho. Um deles, foi o Emmerson Nogueira, que tem um projeto que transforma músicas famosas em versões acústicas, voz e violão. O Emmerson leu a resenha, gostou muito, indicou para o pessoal da gravadora e compartilhou em sua fanpage. Foi uma experiência muito interessante.

Vocês são daqueles que acham que antigamente as músicas eram melhores? Como veem o mercado atualmente?
Lucas Scaliza: Não somos esse tipo de pessoas, definitivamente. Se fôssemos, faríamos um blog apenas falando de discos que gostamos, ignorando completamente os lançamentos atuais. E o Escuta Essa Review é justamente o contrário: falamos de discos do passado, sim, como recuperação da história da música e das bandas, mas nosso foco é justamente a música contemporânea, aquela que se faz hoje, e nos propomos a analisar os discos na época em que são lançados. Acredito que quem prefere ‘a música de antigamente’ sejam pessoas ou acomodadas ou que não procuram com muito afinco e vontade a boa música que se faz hoje. É verdade que a música de hoje não é como a de ontem, mas aí vai de você acompanhar o mundo e não se fechar em seus próprios gostos adquiridos na juventude. A música de hoje não é como a de ontem no campo da expressão, mas no campo da qualidade há coisas tão boas quanto sempre houve. E há coisas ruins também, como sempre houve em toda a história do século 20. É preciso procurar atualmente e não esperar que o Faustão vá te apresentar à música que realmente vai fazer seu gosto. É aí que o Escuta Essa Review entra: nem tudo o que está lá será do seu agrado, mas certamente a diversidade dele é maior do que qualquer programa de televisão e de rádio e vai te surpreender uma hora ou outra.
Gabriel Sacramento: Há uma tendência comum das pessoas em afirmarem que a música de hoje é ‘ruim’ e a música do século passado é ‘boa’ e ‘bem feita’. Obviamente, eu não penso dessa forma. Mesmo sendo um grande entusiasta de discos dos anos 70 e 80, eu reconheço a qualidade da música atualmente e gosto bastante de discos modernos também. Não dá para comparar. Cada tempo tem sua música. O que é tido como ‘ruim’ hoje, pode ser as referências de amanhã. Existe música boa? Sim. Existe música ruim? Também. Mas isso sempre existiu independente de tempo. Nós do Escuta Essa Review gostamos tanto do que é produzido hoje, quanto do que foi produzido no século anterior. Afinal tudo é, simplesmente, música.

Vocês são músicos? E sempre foram muito ligados à música de um modo geral?
Bruno Sanches: Tenho um violão e um baixo em minha residência. Talvez sejam os instrumentos mais tristes que existem neste planeta, porque eu sou péssimo em instrumentos de cordas. Já me convenci a deixar para quem sabe. Sempre gostei de música, curtia ficar mexendo nas fitas cassete do meu pai e da minha mãe, nas bolachas do meu tio… ouvia Bee Gees, Genesis, Pink Floyd e ao mesmo tempo Originais do Samba, Djavan e Paralamas do Sucesso. Na adolescência, pegava a mesada pra comprar CD’s na London (quem nunca?) e ficava lendo os encartes. Enfim, música sempre fez e continua fazendo parte da minha vida. Apenas como ouvinte de música.
Gabriel Sacramento: Sim, toco baixo e canto. Mas também sei violão, teclado e bateria. Desde criança, a música sempre esteve presente em meu cotidiano e sempre que podia, arranjava uma forma de fazer um som. Com 10 anos eu já cantava e com 12, aprendi bateria, instrumento pelo qual eu era fascinado. Depois vieram as paixões pelas cordas e teclas. Hoje, isso me ajuda bastante na hora de sentar e analisar discos, pois consigo uma visão mais profunda do que estou ouvindo.
Lucas Scaliza: Sou músico amador. Toco há bastante tempo violão e guitarra, gosto de estudar técnicas e harmonia, mas não mais para tocar por aí. Gosto de aprender música para poder falar sobre o assunto cada vez melhor. Tenho um grande interesse no assunto e não paro de buscar novas referências e novidades para entender sua História e acompanhar seus desenvolvimentos atualmente.

Dos últimos trabalhos que ouviram, qual poderiam indicar? Alguma resenha que esteja no blog…
Gabriel Sacramento: Ouvi muita coisa boa ultimamente, mas tem um disco que me veio à mente quando li a pergunta: Higher Than Here do James Morrison. Um disco pop bem interessante, com muito sentimento envolvido e uma beleza admirável. Para quem curte uma pop bem cool, é uma boa pedida.
Lucas Scaliza: Indico os seguintes discos: Everyday Robots, do Damon Albarn (vocal do Blur); Hand. Cannot. Erase., do Steven Wilson; Currents, do Tame Impala; Carbono, do Lenine; I Love You Honeybear, do Father John Misty; Vulnicura, da Björk; Once More Round The Sun, do Mastodon; Convoque Seu Buda, do Criolo; You’re Dead!, do Flying Lotus; e Lazaretto do Jack White. Todos esses têm resenha no blog, foram lançados entre 2014/2016 e mostram nossa diversidade musical.
Bruno Sanches: O Lucas fez um apanhado legal. Fizemos listas de melhores dos anos de 2014 e 2015, e creio que há muita coisa lá que possa interessar aos leitores do Social Bauru. Indico mais dois: Stretch Music, do Christian Scott; e Grow, da banda Chon. O Christian Scott é um trompetista que propõe um jazz menos tradicional, próximo também do rock, hip-hop e música latina. E o Chon é um troço absurdo, difícil até de explicar. Quem gosta de rock, música instrumetal e guitarra, faça o favor de mergulhar nesse disco.

E se pudessem indicar uma música que seja a preferida de vocês, qual seria?
Bruno Sanches: Difícil falar em uma música que tenha marcado. Músicas me lembram momentos. Lembro da primeira vez que ouvi ‘Wonderwall’, do Oasis. Fazia parte da trilha sonora de uma novela. Achei a música incrível! Lembro do primeiro show do Los Hermanos aqui em Bauru, na Cervejaria dos Monges. Eles abriram com ‘O Vencedor’, e ouvir esta música até hoje me faz arrepiar. Lembro do primeiro CD que ganhei: Nimrod, do Green Day. De jogar videogame ouvindo ‘Dreamer’ do Supertramp, ou qualquer música do Neon Ballroom, do Silverchair. Tá mais fácil enviar uma playlist! (risos).
Lucas Scaliza: Aí é como escolher entre a comida da mãe e a comida da vó. Não tem como escolher uma preferida.
Gabriel Sacramento: Essa pergunta é muito complicada de responder! Aliás, este é o preço que se paga quando se tem um gosto muito variado – é um tanto injusto escolher entre tantas. Mas resolvi selecionar uma delas, que tem me feito refletir bastante ultimamente e com um legado incrível: ‘Like A Rolling Stone’ do poeta Bob Dylan.

Para conhecer melhor o blog, acesse: escutaessablog.wordpress.com

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