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A cidade de Bauru viveu momentos de grande júbilo nas últimas semanas. Em um momento histórico, onde o país se depara com uma crise política e econômica sem precedentes, a cidade recebeu uma golfada de brisa agradável e revigorante, como contrapartida. Pousou em Bauru o avião Bandeirante, devidamente pilotado por seu criador, o ilustre bauruense Ozires Silva.

Mas a aeronave não veio pelos ares, mas, chegou em solo bauruense a bordo de caminhões. Nem teve como destino o aeroporto de Moussa Tobias, nem mesmo o aeroporto central. O Bandeirante teve como campo de pouso a Praça Duarte Silva, na Avenida Mário Mattosinho, que liga a Avenida Getúlio Vargas à Rodovia Marechal Rondon.

Este avião, que até pouco tempo servia à Força Aérea Brasileira, em Pirassununga, foi doado à Prefeitura de Bauru, que o transformou em monumento. Isto foi possível devido à pessoa do seu criador, uma das figuras mais impolutas do cenário aeronáutico, empresarial, político e acadêmico deste país.

Ozires Silva é oficial da Aeronáutica e engenheiro formado pelo ITA-Instituto Tecnológico de Aeronáutica. Em seu currículo, o bauruense não só coordenou a construção do Bandeirante, como foi fundador da Embraer, empresa estatal que presidiu até 1986. Saiu da estatal para assumir o desafio de presidir a Petrobras, onde atuou até 1989. Em 1990, assumiu o Ministério da Infraestrutura. Ozires Silva retornou à Embraer, em 1991, conduzindo o seu processo de privatização, encerrado em 1994. Além dessas realizações, Ozires Silva também presidiu a Varig, de 2000 a 2003. Criou, em 2003, a Pele Nova Biotecnologia, empresa focada em regeneração e engenharia tecidual. Atualmente, é reitor da Unimonte.

Mas, como surgiu o Bandeirante? O governo brasileiro, em fins dos anos 1960, levava a cabo políticas públicas de expansão da indústria nacional. Havia, naquela época, demandas para aeronaves de uso geral, para utilização civil e militar, para o transporte de cargas e passageiros. Este avião deveria ter algumas características desejáveis: baixo custo operacional e capaz de integrar regiões remotas e dotadas de pouca infraestrutura aeroportuária.

O Centro Técnico Aeroespacial, localizado em São José dos Campos, sob a liderança do projetista francês Max Holstee, supervisionado pelo engenheiro aeronáutico Ozires Silva, teve a nobre e desafiadora missão de desenvolver o produto. O projeto foi iniciado em 1965, teve duração de cerca de 36 meses, até que o Bandeirante realizou o primeiro voo, em 22 de outubro de 1968.

A Embraer, hoje, a 3ª maior fabricante de aviões do mundo, só seria criada em agosto de 1969, e teve como primeiro presidente, Ozires Silva. A partir de 1971, teve início a produção em série do Bandeirante e, em fevereiro de 1973, a Força Aérea Brasileira recebeu o primeiro de um pacote de 80 unidades. A Embraer fabricou quase 500 unidades até o final da produção, em 1991. Destas, cerca de metade ficou no Brasil e a outra metade foi vendida a outros países.
O monumento composto pelo Bandeirante, modelo EMB-110, um avião turboélice com capacidade de 15 a 21 passageiros, presenteia a Capital da Terra Branca, que deve ter sido palco de muitas das inspirações criativas desenvolvidas pelo bauruense ilustre.

Ozires Silva não é considerado como um dos filhos mais ilustres de Bauru somente por este fato. Apesar do extenso e respeitável currículo do engenheiro bauruense, este homem é um exemplo de cidadão, com uma humildade surpreendente para os dias atuais.

Ozires sempre que pode retorna a Bauru e, não deixa de se referir pública e recorrentemente à sua cidade e sua gente, que ele tanto ama e honra com o seu exemplo de vida.

A inauguração do monumento, em 19 de março de 2016, trouxe de volta Ozires Silva a Bauru. No dia anterior, Ozires, sócio benemérito da Assenag-Associação dos Engenheiros, Arquitetos e Agrônomos de Bauru, fez questão de lá comparecer para participar, num gesto cidadão e de respeito a seus pares e à própria classe, da eleição para a nova diretoria da entidade, agora capitaneada pelo Eng. Luiz Bombonato Filho.

Ozires, após a realização do pleito, permaneceu na Assenag, participando das rodas de conversas com os colegas. Ao final, o presidente cessante, Eng. Eduardo Pegoraro, fez uma sincera e merecida homenagem da Assenag a seu sócio ilustre. Ele, como é de seu feitio, agradeceu, dizendo que não se achava merecedor. Ora vejam, se ele não for quem o será?

Não há como não enaltecer o capital humano deste insigne filho de Bauru. Ele é respeitado no mundo todo. Hoje, com a crise sem precedentes de valores que assola o Brasil e o mundo, onde aflora falta de políticos e administradores com reto caráter, Ozires poderia ter sido presidente do Brasil. Tenho certeza de que seria uma administração competente e proba, virtudes estas tão raras em políticos e gestores públicos na história recente.

Bauru é grata, não somente pelo Bandeirante que pousou e agora repousa na cidade, mas por tudo que este seu filho tem por ela feito e também ao Brasil. Que bom seria se o país tivesse muitos Ozires!

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