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Juliana Cestaro, formada em arquitetura e urbanismo pela Unesp de Bauru, decidiu inovar no seu projeto de conclusão do curso. Durante 12 meses, a estudante dedicou-se totalmente a um centro de acolhimento e bem-estar animal, bem diferente dos comuns canis que já existem por aí. Apesar de não ser projeto pequeno, Juliana afirma que sua implementação em Bauru é totalmente possível e chama a atenção quanto aos cuidados que os animais abandonados em nossa cidade recebem: “nossos bichinhos merecem a devida atenção”.

Confira:

É bauruense?
Juliana: Sou bauruense, nasci e cresci nesta cidade que tem tanto à oferecer aos cidadãos. Bauru é uma cidade amigável, possui muita cultura, diversidade e sociabilidade. Pecamos um pouco nas nossas áreas públicas, parques, mercado municipal e alguns nichos específicos como, por exemplo, uma instituição de acolhimento e reabilitação animal, mais conhecido como canil ou abrigo municipal. Eu tenho 27 anos de idade e acabo de me formar em Arquitetura e Urbanismo pela Unesp Bauru. Iniciei o curso em 2011 com 22 anos de idade. Trabalhei, demorei um pouco para encontrar a arquitetura em minha vida e o vestibular atrasou em dois anos essa realização. Desde pequena, sempre estive relacionada as artes e não poderia ser diferente em minha carreira.

Gostaria que explicasse como é o conceito do seu projeto.
Juliana: Diferentemente do que é muito difundido no Brasil, em relação aos conceitos de canis municipais, este projeto vai muito além de ser apenas um abrigo para nossos animais. Um Centro de Acolhimento e Bem-Estar Animal tem a função de recolher cães e gatos abandonados das ruas, reabilitá-los através de tratamentos médicos como castração, por exemplo, oferecer uma moradia digna, promover adoções no próprio centro e, através de eventos, ser um apoio à educação ambiental para as escolas com enfoque na guarda e posse responsável de nossos bichinhos. Também tem a intenção de ser um local onde instituições e empresas privadas também poderiam usufruir da área para realizar convenções e eventos. Além disso, o Centro é dotado de um parque interativo de cães, aberto à toda a população e voltado ao lazer e atividades caninas. Um espaço onde os cães podem ficar totalmente livres, com esguichos de água para refrescá-los em dias quentes, áreas de corrida, túneis e obstáculos divertidos, bebedouros na escala canina, cercados higiênicos e espaços para os donos poderem observar este divertimento todo.

E como você teve esta ideia?
Juliana: Bauru não possui um abrigo municipal ou outro equipamento com a finalidade de recolhimento, tratamento e adoção de cães e gatos, além disso, temos o fator da Leishmaniose tratada como endêmica na cidade e todas as Ong’s e o CCZ (Centro de Controle de Zoonoses) juntos que temos, ainda não dão conta da quantidade de animais abandonados. A atribuição dada ao CCZ de um município é de cuidar e tratar animais doentes. O órgão não recolhe animais das ruas e as castrações e adoções que fazem, acabam sendo um acúmulo de responsabilidades que não deveriam por não ser uma questão de saúde e sim do meio ambiente. A ideia surgiu para suprir essa necessidade básica do município que não é muito discutida e, analisando os centros de canis municipais existentes no exterior, a ideia surgiu também para mudar o conceito que temos no Brasil de canis municipais serem isolados e longe do centro da cidade, de ser um local triste, sempre superlotados e de infraestrutura precária. O projeto de um Centro como este, seria bastante benéfico para nossa cidade tanto para saúde pública e animal, quanto para a saúde da própria cidade. Além de tornar-se, conceitualmente, uma cidade modelo para todo o Estado de São Paulo, ou até mesmo, em todo o Brasil.

E você sempre lutou pelas causas animais?
Juliana: Meu contato íntimo com diversos tipos de animais vêm desde a infância. E mesmo com todos os cuidados, doações e grande afeto por eles, acredito que nunca ajudei o bastante para fazer a diferença. Esse projeto é um grande passo para realizar a vontade de fazer a diferença na causa animal de uma forma inusitada e espero poder um dia ver a concretização dele.

Foram quantos meses de trabalho?
Juliana: Foram 12 meses de pesquisas, análises, leituras e desenvolvimento do projeto. Um projeto como este, envolve estudos do abandono de animais na cidade, legislações e código sanitário, infraestrutura animal, a escolha do terreno, o funcionamento e programa de um Centro como este, consulta à legislação de Instalação de Estabelecimentos Veterinários e a elaboração do conceito e projeto em si.

E imagino que tenha dado muito trabalho! Não pensou em desistir?
Juliana: A ideia de fazer esse projeto surgiu no terceiro ano da faculdade e, desde então, nunca foi cogitado realizar outra coisa para o TFG. Desistir não era uma possibilidade diante da possibilidade de poder ajudar significativamente os cães e gatos que nos acompanham, que nos trazem alegria, fazem parte e são tão íntimos da nossa vida.

É um projeto possível de se concretizar na cidade de Bauru?
Juliana: Sim, é um projeto completamente possível e plausível de se construir. O terreno escolhido está numa área industrial, uma região pouco adensada para evitar a geração de ruído aos bairros, é de fácil acesso da população e toda a estrutura da edificação é em modulação metálica simples, pensada de forma a diminuir a geração e desperdício de resíduos sólidos de uma construção. A forma adotada do edifício é elegante, com muita interação da paisagem do entorno, porém, de complexidade média. A vegetação de cerrado da nossa região possui uma relação íntima com a edificação e com os cães e gatos ali presentes, o que dá ao conjunto um aspecto de aconchego e um contato maior com nosso meio ambiente.

Você chegou a falar com alguma autoridade daqui?
Juliana: Entrei em contato e enviei todo o trabalho para a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SEMMA) e SIMAB (Semana Integrada do Meio Ambiente de Bauru), um evento que ocorre duas vezes ao ano na cidade para divulgação do projeto. Também enviei o trabalho para três ONG’s da nossa cidade, com intuito de divulgação e conhecimento de como os abrigos poderiam ser construídos e tratados, assim como no mundo afora. Porém, ainda não houve uma boa visibilidade por parte da população dessa ideia e espero que, agora, as pessoas fiquem sabendo ainda mais da importância de uma instituição dessa na cidade. Teríamos que discutir mais e melhor a situação da questão animal em Bauru. Nossos bichinhos merecem a devida atenção.

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