A bauruense Fernanda Pires comentou sobre a noite em Nova Deli, na Índia
A bauruense Fernanda Pires comentou sobre a noite em Nova Deli, na Índia

Bauru é considerada uma cidade jovem, animada e com algumas opções de diversão à noite: desde bares e festas de repúblicas a baladas que são conhecidas em toda a região. E, mesmo sendo uma cidade do interior, apresenta características semelhantes – já outras bem diferentes – em relação a diversos lugares pelo mundo. Para saber como é a vida noturna em países, como Itália, Irlanda, Colômbia e Índia, entre outros, nossa equipe conversou com alguns moradores da cidade que já tiveram a oportunidade de passar um tempo fora do nosso país e puderam fazer esta comparação. Confira os depoimentos!

 
 

1vida-juliaJulia Gonçalves
Durante três dias, no feriado de Páscoa, eu fiquei em Budapeste, a capital da Hungria. Por conta do feriado, a cidade estava bem cheia de turistas e mochileiros de todos os cantos do mundo. Durante este período, eu saí dois dias seguidos, numa sexta-feira e no sábado também. No primeiro dia, depois de horas de viagem, fomos num bairro cheio de barzinhos e clubes bem próximos uns aos outros. Estava viajando com uma amiga e encontramos três amigos lá que moravam na cidade, então tínhamos guias com conhecimentos que não poderíamos encontrar online, por exemplo. Depois de tomarmos alguns drinks em um bar bem simples, andamos num frio congelante até uma balada chamada Club Akvárium, que era literalmente embaixo de uma das praças da cidade! O lugar não foi muito barato e as bebidas também não, mas me apaixonei pelas músicas. Só músicas animadas alternativas e muita gente diferente. Sem contar que toda a ‘vibe’ de você estar numa balada literalmente ‘underground’ deixa as coisas muito mais interessantes. No sábado, pensamos em visitar um dos bares mais conhecidos e emblemáticos de Budapeste: o Szimpla Kert. Esse bar é diferente por estar literalmente em ruínas e conter diversos ambientes. Podíamos dançar com muitas pessoas, tinha uma mistura de samba brasileiro com eletrônico, ou podíamos até comer uma pizza, ou mesmo alugar um narguilé com essências únicas! A experiência foi novamente muito rica, porque as pessoas que frequentavam esse bar combinavam perfeitamente com a vibe ‘diferentona’. Acho que a primeira diferença em relação a nossa cidade, é que como as cidades europeias têm centros muito concentrados, diferentemente de Bauru, onde os bares não são tão próximos uns aos outros (salvo a Avenida Getúlio Vargas, mas que ainda assim, a proximidade entre os locais nem é comparável com a proximidade em Budapeste), então para você migrar de um bar ou de uma balada para outra é muito mais fácil. Além disso, as pessoas são bem mais ‘recatadas’, o que fez com que mesmo num bar lotado, ainda fosse possível conversar sem ter que gritar. Além disso, eu, pessoalmente, não vi diferenciação de valores de entrada para homens e mulheres, o que acontece aqui. Também, conversando com outras pessoas, descobri que festas ‘open bar’ não são tão comuns. Por fim, vi que os bares e baladas são localizados em lugares muito interessantes e históricos, o que dá uma sensação diferente para toda a ‘experiência noturna’ e você pode sair de qualquer lugar, a qualquer hora da noite e voltar para casa da maneira que for mais conveniente para você, sem se preocupar tanto assim com segurança.

 
 

1vida-beatrizBeatriz Akane
Durante dois meses, eu morei em Praga, capital da República Tcheca. Logo na primeira semana saí pra conhecer um pouco mais da vida noturna de Praga e depois durante o tempo lá, fui conhecendo um pouco dos bares e festas. Por ser universitária aqui em Bauru, estou mais acostumada com festas de repúblicas e não com baladas ou coisas do tipo, então as diferenças são grandes. A vida noturna acontecia todos os dias da semana – não que eu saísse todos os dias – e a maior parte dos lugares não cobravam taxa de entrada, e isso era bom quando não sabíamos onde queríamos ir, porque a gente podia entrar, ver como era e se não estivesse legal, era só sair e procurar por outra! (risos). E ah, como as bebidas compradas em mercado eram muito baratas. Eu acho que, algo que poderia ser implementado aqui em Bauru, é opção de não cobrar a entrada. Além disso, lá, muitas baladas trabalhavam com a cultura de atender diferentes gostos musicais em uma mesma noite, dividindo por andares e/ou ambientes, assim todo mundo aproveitava de tudo um pouco sem ficar cansativo ou algo do tipo.

 
 

1vida-fernandaFernandes Pires
Eu vivi um tempo em Nova Deli, na Índia. Lá, eu costumava sair, pelo menos, duas vezes na semana. A primeira coisa que me chamou a atenção é que a noite termina muito cedo! Mais ou menos, meia noite e meia, as luzes se acendiam e o pessoal já mandava todo mundo embora. Aí, a gente costumava, aos finais de semana, fazer ‘after parties’ na casa de amigos indianos. Além disso, um fato curioso, é que eles davam entrada de graça e open bar para mulheres e estrangeiros duas vezes por semana. Ah, lá, o lugar de baladas era um só. Então eram cinco prédios de quatro andares cada. Em cada andar, um bar ou balada. Era muito legal e tinha muita diversidade! Algo de lá que poderia ser repetido aqui é o fato de a festa começar mais cedo. Sempre trabalhava no dia seguinte e nunca estava cansada. Outra diferença é que as pessoas de lá (os nativos) que iam pra balada eram muito cabeça aberta! Porém, mesmo sendo cabeça aberta, ainda ficavam olhando muito as meninas de saia e etc. Outra curiosidade é que todos, quando chegavam, guardavam os casacos num canto, deixando todos amontoados. Ao fim da noite, ninguém tinha pego o de ninguém; todo mundo era bem honesto.

 
 

1vida-nayaraNayara Anzolin
Eu morei, durante seis meses, em Dublin, na Irlanda. Saía praticamente todos os dias. A noite em Dublin é de segunda a segunda. A cidade possui mais de 400 pubs e, com toda a certeza, eu conheci a maioria. E lá tudo é diferente, em relação aqui: a cultura das pessoas ao se socializar, a forma como eles interagem com você, é bem diferente do que estamos acostumados. Tudo é motivo para tomar uma ‘pint’ de cerveja. Aqui em Bauru, eu sinto falta de bares com som ao vivo para tomar um drink em dias de semana. Nossa cidade é jovem e muitas vezes é difícil encontrar um lugar para tomar um chopp e escutar uma música. Outra diferença que eu senti é que o brasileiro é mais expansivo e extrovertido, e isso fica facilmente visível quando saímos do nosso país. Os irlandeses dançam muito mais que nós brasileiros, porém são mais discretos.

 
 

1vida-raphaelRaphael Sigolo
Recentemente, eu fiz uma viagem para o Peru e Colômbia, onde tive a oportunidade de conhecer Cartagena. Lá, eu fui a bares e pubs na Calle Media Luna e Na Plaza de los Coches, na parte de dentro do monumento do relógio. O que me chamou mais atenção foi a falta de timidez dos colombianos, eles dançam no meio da rua mesmo e não estão nem aí! A Praça fica cheia de gente dançando e bebendo, lembrando muito o carnaval de rua de São Paulo, mas me dá impressão que é assim sempre. Uma coisa legal que vi em uns quatro bares que passei, foi o fato de as músicas serem controladas por um tablet, que passava entre as mesas, mas sempre com uma regra: só toca um tipo de música e um moderador autorizava ou não as músicas na playlist. Óbvio que o objetivo nosso com espírito brasileiro foi quebrar a regra e fazer todos os bares tocarem funk carioca… e conseguimos! Não sei como poderia ser implementado aqui em Bauru, mas é uma evolução das jukbox e ajudaria na interação do público. Lá, eu me senti em um lugar muito próximo ao Brasil, mas não sei se é da cultura ou se é por ser local turístico. Senti que eles se entrosam muito mais fácil. Começamos uma noite andando em quatro pessoas e no fim estávamos em uma turma de 15 entre brasileiros e colombianos. Isso, por exemplo, eu não vejo acontecendo em Bauru.

 
 

1vida-vitorVitor Rosseto
Eu tive a oportunidade de morar um ano em Milão, na Itália. Eu saí bastante, inclusive nas outras cidades e países que tive a chance de visitar (visitei mais ou menos 18 países durante esse ano). Em Milão, gostava bastante de uma balada que chama-se ‘Old Fashion’. Era um local situado dentro do parque mais famoso da cidade (Parco Sempione) e durante o verão (porque a temperatura permitia) a festa acontecia a céu aberto. Lá, ainda frequentei outras baladas, como Just Cavalli (da marca Just Cavalli), Le Banque (que era um antigo banco), Alcatraz, Divina Club… Em relação à estrutura, as baladas de lá são realmente muito bonitas, com iluminação sempre bem elaborada e, geralmente, muitos sofás. Outra peculiaridade é que as pessoas costumam beber durante o dia, em quantidades menores, mas era comum ver pessoas com uma bebida na mão todo fim de tarde/começo de noite, mesmo sendo mais difícil encontrar pessoas bêbadas como aqui – eles bebem sempre, mas com moderação. Quanto à roupa (acredito que por se tratar de Milão que é a capital da moda e à noite lá ser muito famosa) era bem elegante, era comum encontrar homens de terno completo, inclusive gravata nas festas. Sendo vetada a entrada na maioria dos lugares sem camisa de botão e calça; em alguns lugares nem mesmo jeans era aceito. Em relação ao nosso país, acredito que poderia ser melhor utilizado os espaços abertos, tendo em vista que em Bauru e o Brasil, como um todo, o clima favorece. Espaços abertos são muito valorizados por lá porque a temperatura só permite a utilização desse tipo espaço durante uma certa parte do ano. No resto do ano todos sentem muita falta desses espaços.

 
 

1vida-neideNeide Carlos
Quando fui ao exterior, tive a oportunidade de passar mais tempo na Espanha, nas cidades de Barcelona e Salamanca. As duas foram muito marcantes pra mim. Tanto em Barcelona, como em Salamanca, tínhamos um grupo grande de estudantes estrangeiros. Salamanca é uma cidade que recebe muitos estudantes europeus e é muito interessante. É uma cidade menor e são muitas opções de bares, ruas lotadas e muita festa. Você anda a noite toda de bar em bar e só paga o que consome. Mesmo com o frio. Você coloca em uma pilha de casacos quando entra no bar e pega de volta na saída e nem tem controle disso. Impensável aqui. Sem contar que, de repente, você dá de cara com uma festa ou alguém te convida pra uma e você vai! (risos). Em Barcelona você pode andar de bar em bar também, mas é uma cidade maior e tem muitos lugares possíveis. Lembro que tinha até bar de proprietário brasileiro. E tem bares caros também, onde se paga pra entrar. A gente preferia bares mais baratos ou abertos, é claro. Coisa de estudante. Eu acho que os bares daqui poderiam te dar maior liberdade de entrar e sair a qualquer momento. Entrar, pagar o que consumir (com preços razoáveis) e ter a liberdade de sair quando quiser. E até voltar sem pagar por isso. Claro que aqui temos o problema das distâncias, um bar em cada canto da cidade. Isso causa outro transtorno que é conseguir estacionar, ainda mais sendo mulher. Já tive problemas com flanelinha agressivo que queria dinheiro e eu não tinha porque levava só cartão. Em relação ao comportamento das pessoas, eu também senti uma diferença. Lá, você decide sair e pode ir do jeito que está. As pessoas não estão preocupadas com o que você está vestindo. Pode se arrumar se quiser, mas não precisa de tanta coisa. É a conversa que é boa, mesmo que a diferença de idioma não ajude às vezes. O bom é sair, conhecer gente nova. As pessoas estão mais abertas. Acho que é porque estão longe de casa. Nós também fazíamos jantares entre amigos, como aqui. Muito bom! Saudades só de falar. Na última viagem, em 2013, estava sozinha e por isso não saía muito na noite, só pra comer mesmo. Mas frequentei um bar em Madri que ficava perto do hostel. O barman virou meu amigo pra não me deixar sozinha. O que eu posso dizer é que estar com amigos (mesmo que você tenha acabado de conhecê-los no hostel) nesses lugares é muito bom. Diversão garantida e noites inesquecíveis. Recomendo.

 
 

1vida-giovannaGiovanna Falchetto
Quando eu fui para Londres, eu era muito novinha ainda, tinha 17. Mas, apesar de não poder nem beber, eu amei a vida noturna de lá. Parece que é parada obrigatória sair depois do trabalho, não tem desculpa! Pelo menos uma cerveja a pessoa sai pra tomar quando acaba o expediente. Os jovens bebem muito e estão sempre muito animados pra sair, ver uma banda nova tocar, ir a um pub, comer alguma coisa. Mesmo com tempo frio, as pessoas sempre queriam sair e na época isso me deixava muito animada! (risos). E é essa é a maior diferença: aqui as pessoas saem por um motivo, uma festa específica, uma ocasião já determinada. Lá eles saem porque por qualquer motivo e acabam encontrando algo pra fazer por consequência. Também senti que as pessoas respeitam mais umas às outras, não invadem muito o espaço do outro. Por outro lado, há menos interação e você não faz tantos amigos quanto numa noite aqui.

 
 

1vida-jessicaJessica Monteiro de Godoy
Eu morei durante quatro meses em La Plata, na Argentina, durante um intercâmbio acadêmico. Apesar da proximidade com o Brasil, presenciei várias diferenças que senti muita falta quando voltei a Bauru. La Plata é uma cidade universitária há mais ou menos 50 min de Buenos Aires de ônibus. É a capital da província de Buenos Aires. Uma cidade famosa na Argentina, tem uma das maiores e mais respeitadas universidades do país, a Universidad Nacional de La Plata (UNLP) e um dos times de futebol mais conhecidos ‘Estudiantes’. A ex-presidente Cristina Kirchner e o antropólogo Nestor García Canclini nasceram lá. Cristina estudou na UNLP e Canclini foi professor na mesma universidade, aliás. A vida noturna é bem agitada. Há muitos bares (alguns com mesinhas nas ruas), recomendo dois: Antares (é maravilhoso, lembra bares europeus e tem cerveja artesanal! Sem palavras!) e Floyd (as mesas estão entre mesas de sinuca, bem legal!). Há baladas (que eles chamam de ‘boliche’) com muita música argentina e hispano-americana (o idioma os aproxima) muito animadas, com gêneros como reggaeton e cumbia, que em Bauru não se ouve falar. Diferente de nós, nas baladas as pessoas costumam dançar sempre acompanhadas em grupos de amigos e acabam interagindo com outros grupos, sempre movimentando muito quadris, pernas, ombros e braços. Em 2013 estava em alta música estilo reggaeton ‘Limbo’, do Daddy Yankee (que quer dizer passar por baixo de braço, corda, não há uma palavra exata para tradução em português) e a balada inteira parava para dançar fazendo cordões imensos! Também tem bastante show de rock (muitas vezes com bandas e composições de lá). Tinha algo que aqui já acabou há algumas décadas, como boy bands, com apresentações de rock em festas de garagem, bem legal também! Nas baladas, a cerveja Quilmes e o Fernet, nunca poderia faltar. Fernet é uma bebida alcoólica de cor preta feita de ervas. Fui a algumas festas de república de centros de estudantes, regadas a muita pizza caseira. Já aqui, o sertanejo universitário é forte, sendo um traço cultural nosso. Mas ainda assim somos muito colonizados. As baladas tocam as músicas top 50 das rádios que, por sua vez, são as músicas do momento na Europa e Estados Unidos. Falta valorizar mais o nosso, aprender a gostar mais do nosso e não digo só da música brasileira, mas também hispano-americana, porque o Brasil faz parte da América Latina e a América Espanhola é linda e muito rica culturalmente! Dançar e nos divertir, interagindo com nossos amigos deveria ser nossa prioridade quando vamos a baladas, não cada um se divertir individualmente, dançando sozinho, ainda que em grupo como acontece aqui. Sinto falta de agitação, da alegria, do requebro na dança, dessa interação. Sei que samba é mais regional, mas é uma pena não termos tanto aqui também, porque deixa qualquer ambiente muito animado.

 
 

1vida-cathatineCatherine Paixão
Eu fiquei em Timisoara, uma das maiores cidades da Romênia. Lá, a gente ia a muitos clubes, mas o principal era o D’arc. Nesta cidade que eu morei, as baladas são muito diferentes. Parecem mais como um bar, na verdade. Geralmente, são subterrâneas, com espaços pequenos e sempre bem tranquilos. É muito diferente de Bauru! O mais me chamou a atenção é que as pessoas iam muito informais e era isso o que eu mais gostava. Eu ia de tênis para a balada e isso era o mais legal! Estranhei bastante no começo, pelas diferenças, mas depois amei tudo isso. Com certeza, o fato de ser mais informal poderia ser assim aqui em Bauru. Não sei quem inventou que tem que ir de salto! (risos). Já ao comportamento, as pessoas da Romênia são mais tranquilas, dançam menos sensualmente e são mais discretos. É um padrão diferente em relação ao Brasil.

 
 

E o jeitinho brasileiro?
Muito se fala a respeito do jeito alegre e expansivo do brasileiro, sendo sempre citado como um dos povos mais animados. Mas será que isso é verdade mesmo? O sociólogo Murilo Cabral Nunes explica melhor: “que somos diferentes, com certeza sim. Nesse sentido, podemos inclusive afirmar que somos muito diferentes entre nós. Sobre sermos mais expansivos e mais alegres, prefiro apontar a reflexão para outro caminho, mesmo que alguns exemplos e experiências pessoais possam nos mostrar o contrário. Na Argentina, por exemplo, os homens cumprimentam-se com beijos no rosto, o que para a maioria dos brasileiros ainda é visto como tabu ou comportamento ‘muito expansivo’. Esse debate passa pela necessidade de uma simples reflexão filosófica: o que significa ser alegre e expansivo em determinada cultura? A dificuldade de respondermos essa questão é o que limita esse tipo de comparação. Ou seja, prefiro afirmar que é relativo e que cada caso merece ser analisado com a complexidade que cada cultura carrega. O contato cultural que aumenta cada vez mais nos dias atuais permitirá que coloquemos nossas certezas em um local de dúvida e possamos atingir as idiossincrasias de cada grupo, desta forma enxergando para além das aparências”.

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