O Brasil é um País de muitas culturas. Pegamos um pouco das tradições de cada nação e, aos poucos, fomos construindo formas brasileiras de se expressar. O maracatu é uma delas! A dança folclórica tem origem de tradições africanas e surgiu no estado de Pernambuco em meados do século XVIII.

Com forte componente religioso, o maracatu é uma mistura musical portuguesa, indígena e africana e assim se formam as rodas com batuque e danças. Em Bauru, há pouco mais de dois anos surgiu o maracatu Abayomi, que junta homens e mulheres para batucada com muito ritmo e danças.
Apesar de ser uma manifestação antiga, há apenas alguns anos, as mulheres conseguiram mais espaço dentro do maracatu. A necessidade de ampliarem o espaço de atuação das mulheres fez com que a Joana Cavalcante fundasse o Baque Mulher.

“Sempre senti essa necessidade, porque dentro do maracatu as mulheres puderam tocar os instrumentos há 15 anos, antes disso elas eram proibidas de tocar e o espaço era resumido somente à dança. Até quando teve a transição e as mulheres puderam tocar no maracatu, a gente ainda sentia um pouco de dificuldade. Dentro desse contexto surgiu a ideia de formar o Baque e com isso vieram outros segmentos, outas ideias e o grupo foi se desenvolvendo”, conta a fundadora.

A Mestra Joana é da comunidade do Pina, em Recife – PE, onde se encontram duas nações de maracatu: Encanto do Pina e Porto Rico. O Baque Mulher é composto por mulheres que transitam entre essas duas nações e, mesmo originado no Nordeste, hoje já está presente em mais de 18 cidades do Brasil, inclusive em Bauru.

Mestra Joana Cavalvante
Mestra Joana Cavalvante

Ainda em fase de formação, o Baque das Mulheres em Bauru, recebe a Mestra Joana Cavalcante para palestra sobre o maracatu e roda de conversa, onde serão tiradas dúvidas. Fomos conversar com a Mestra e com a Fernanda Ayoub, bauruense que está ajudando a formar o Baque Mulher em Bauru. Confira o bate-papo:

– Como surgiu o Baque Mulher?
Mestra – Eu tive a ideia de ter um espaço só nosso, um momento que só as mulheres pudessem estar juntas tocando e então surgiu o Baque Mulher. Não é só o maracatu em si, não é só o tocar, o Baque é um espaço de empoderamento, de conhecimento e de se educar enquanto mulher, porque surgiu dentro da Comunidade do Bode, uma favela com dificuldade periférica muito grande, então é um lugar onde as mulheres, desde jovens até idosas, não se reconheciam, não se identificavam como mulheres e como mulheres negras. Elas não tinham essa questão de empoderamento, não era falado, e por meio do Baque a gente consegue fortalecer esse trabalho lá e trouxe isso dentro da comunidade. As mulheres não se reúnem apenas para tocar, mas também para conversar sobre o dia a dia, para trabalhar a questão do gênero dentro do grupo.

– Qual a diferença entre o maracatu com homens e mulheres e o Baque Mulher?
Mestra – Dentro do Baque Mulher a gente consegue trabalhar a questão do empoderamento, do movimento feminino. A gente consegue se identificar como mulheres, pois é um espaço de acolhimento para as mulheres. Fazemos um trabalho com homens também, porque dentro do Baque, apesar de só as mulheres tocarem e ser um trabalho nosso, a gente não descarta o apoio dos homens. Eu acredito que não adianta se reconhecer e se construir como mulher e não passar para os homens, tentando educar e tentando mostrar onde é que está o erro. A gente faz um trabalho coletivo de educação.

– Como chegou em Bauru?
Mestra – Na verdade, o Baque Mulher tem em 18 cidades. O maracatu em si está no mundo inteiro e através do novo método, dentro das nações do maracatu Porto Rico e Encanto do Pina, as mulheres vão conhecendo o Baque Mulher, que veio com uma força maior em 2015, quando começou a tratar da violência contra as mulheres e a gente se fortaleceu. Todas as mulheres batuqueiras e que se identifica, vem para o Baque. Hoje estamos em Bauru, no Rio de Janeiro e em vários lugares.

– Em Bauru já tem outro maracatu que são com homens também. O Baque Mulher surgiu depois disso?
Fernanda – Eu acredito que em todas as cidades o movimento tenha sido esse. O Baque Mulher sempre surge sustentado através de um outro maracatu e eles trabalham conjuntamente, essa é a intenção aqui em Bauru, de um fortalecer o outro. O Maracatu Abayomi surgiu há mais de 2 anos e o Baque Mulher foi uma vontade que surgiu há algum tempo das meninas daqui de Bauru que faziam parte do maracatu. A gente conseguiu dar uma visibilidade melhor para o Baque, agora no mês de março, que foi o mês das mulheres e teve diversas intervenções na cidade, diversas articulações onde conseguimos trazer mais meninas para essa ideia do Baque Mulher. Mas um não exclui o outro, um só fortalece o outro, os dois maracatus andam em conjunto.

Michele Távora, Mestra Joana Cavalcante e Fernanda Ayoub
Michele Távora, Mestra Joana Cavalcante e Fernanda Ayoub

– As mulheres que estão no baque mulher também estão no outro maracatu?
Fernanda – Existem mulheres que não fazem parte do Abayomi que estão interessadas no Baque Mulher mas todas as mulheres do Abayomi fazem parte do Baque.

– Como podem participar do Baque Mulher em Bauru?
Fernanda – As primeiras reuniões aconteceram esses dias, então é um movimento muito novo e a vinda da Mestra veio só para firmar isso, porém a gente precisa se consagrar enquanto grupo ainda. Agora são as primeiras movimentações de trazer um grupo novo e as meninas chegarem para somar. Já conseguimos um espaço na Estação Ferroviária para os encontros e qualquer uma pode comparecer, não importa a idade. O mais importante do Baque Mulher em si é falar das questões em torno do universo das mulheres e antes mesmo de chegar e fazer o baque e tocar os instrumentos é importante que haja conversa e ainda estamos bastante nesse momento de conversar e trazer temáticas em torno da mulher.

– O que o Baque Mulher significa para você?
Mestra – Significa resistência, luta diária e empoderamento. É família, onde todas as mulheres se olham, se reconhecem, se identificam e onde trabalhamos a questão da sororidade, que é o respeito umas com as outras.

Quem quiser saber mais sobre o Baque Mulher pode acessar a página no Facebook. Ainda nesta quinta-feira, a Mestra Joana Cavalcante fará uma roda de conversa no bosque da Unesp, às 18h. O evento é gratuito e aberto ao público.

Se você é homem e ficou interessado no maracatu, aqui em Bauru existe o Abayomi, mais informações pelo Facebook: www.facebook.com/MaracatuAbayomi

Serviço
Roda de conversa – 06/04, às 18h
Bosque da Unesp – Av. Eng. Luís Edmundo Carrijo Coube, 14-01
Evento: www.facebook.com/events

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