Paulo Eduardo Palma Beraldo é um jovem jornalista natural de Cafelândia e já mororu aqui em Bauru por algum tempo, quando estudou na Unesp. Ele está entre as 100 pessoas selecionadas, entre mais de 1,2 mil candidatos do mundo todo para a Youth Ag-Summit, em Bruxelas, na Bélgica.

A Youth Ag-Summit é uma conferência global com o objetivo de inspirar e conectar a próxima geração de jovens líderes à agricultura e às disciplinas relacionadas. Na conferência, os jovens com idades entre 18 e 25 anos vão se reunir para discutir a questão tema deste ano: “Como alimentar um país faminto?”.

Apesar de jornalista, Paulo sempre teve contato com a agricultura, já que seus pais são da zona rural. O interesse por esses assuntos o levou a enviar uma redação sobre “Integração, lavoura, pecuária e floresta” para participar da seleção para a Youth Ag-Summit. Conheça um pouco mais sobre a história deste jovem jornalista e como tudo aconteceu:

Como começou o seu interesse pela agricultura?

Meu interesse pela agricultura começou porque meus pais são da zona rural. Eu morei a vida toda no campo e depois morei na cidade para estudar. Então eu tenho essa relação com a agricultura e com o campo desde os meus primeiros dias de vida; é algo natural. Eu quis unir as duas coisas: trabalhar o jornalismo e a agricultura juntos. Meu TCC foi um blog sobre o assunto, chamado “De olho no campo“, ele nasceu em 2014 e eu toco ele como um projeto paralelo às minhas atividades.

– Como ficou sabendo deste concurso?

Eu fiquei sabendo do concurso porque eu sempre procuro oportunidades de bolsas de estudo, de concursos, seja de jornalismo ou redação. Já participei de alguns concursos de agricultura e consegui até ganhar, inclusive, com matérias que estão no blog. Eu encontrei esse concurso sobre redação e agricultura, dois temas que eu tenho afinidade e resolvi escrever. Quando eu vi pela primeira vez, pensei: “meu, isso é muito difícil, eu nunca vou conseguir ganhar um negócio desses!”. Jamais imaginei que a redação seria selecionada. Mas eu estava de férias, na casa dos meus pais, o clima bem tranquilo, e decidi fazer a redação. Eu fiz entrevistas com pesquisadores e agricultores para escrever e tinha que ser em inglês, então eu escrevi tudo em português e depois eu traduzi para o inglês. Enviei a redação e esqueci do concurso.

– Imaginava que a sua redação seria selecionada? Qual a emoção de saber que você foi um dos cinco representantes brasileiros?

Quando eu recebi a ligação, eu não acreditava, fiquei muito emocionado. O Brasil é um dos principais países agrícolas do mundo e todo o planeta, no futuro, vai depender da agricultura brasileira. Porque nós somos o maior produtor de grãos, de açúcar, de carne de boi e de frango. Ou seja, o Brasil não é só produtor, ele está entre os principais produtores. Se você analisar as áreas de um país como os Estados Unidos, verá que ele já chegou a sua fronteira produtiva; a França não tem mais espaço; a China tem um clima ruim; a Austrália é cheia de deserto. Não existe país no mundo que tem as condições que o Brasil tem de produzir e aumentar a produção de forma sustentável. Então é uma responsabilidade e uma honra muito grande representar o Brasil nesse fórum internacional de agricultura sustentável. É uma emoção muito grande, porque foram 170 redações. O Brasil foi o segundo país a mandar mais redações, perdendo apenas para a Indonésia, então, ser escolhido entre cinco me deixa muito feliz e orgulhoso. É uma grande responsabilidade.

– E qual o assunto principal da sua redação?

O assunto da minha redação eu já havia tratado em reportagens anteriores e já tinha certo contato, inclusive meu pai usa na nossa propriedade rural em Cafelândia, no interior de São Paulo. Chama-se “Integração lavoura, pecuária e floresta”, o que significa que, ao invés de ter um espaço produtivo onde se planta somente eucalipto ou só o gado, há um espaço que permite conciliar outra produção. Então, por exemplo, se você plantar as árvores do eucalipto e deixar um espaço um pouco maior, de forma que nesse espaço dê para plantar uma cultura de milho, que é temporária, em três meses você pode retirá-lo, enquanto os eucaliptos continuarão crescendo. Quando você tirar o milho, se plantar capim e colocar o gado e vender posteriormente, você poderá plantar o milho de novo. Eu acredito que essa integração (ILPF) é um dos caminhos para intensificar a produção agropecuária no Brasil e no mundo de maneira sustentável. Porque isso pode ser aplicado em qualquer país que tenha um clima parecido com o nosso. A África tem vários países que poderiam utilizar a ILPF. Isso está crescendo muito, justamente porque ela permite uma maior renda para o produtor, além de ser sustentável e permitir o aumento da produção no local, sem a necessidade de abrir novas áreas, que é o mais interessante. Escolhi esse assunto porque acredito que representa o Brasil e pode ser replicado em outros lugares. Além disso, o ILPF nasceu aqui nos anos 70, com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

– Para você, existe uma solução para acabar com a fome no mundo?

Eu acho que não existe uma solução para acabar com a fome do mundo; existem várias. Um conceito que nós cinco, os representantes do Brasil, temos trabalhado e conversado muito é que existem falhas na cadeia produtiva. Desde quando se planta a semente do milho, até o consumo do produto em casa. Cerca de 30% de todos os alimentos no mundo, são desperdiçados, então uma das soluções que nós entendemos é que devemos aproveitar melhor os alimentos que existem. A forma como consumimos os alimentos precisa ser repensada. Por exemplo, imagina o maracujá: a gente utiliza apenas a polpa da fruta, mas a casca pode ser usada para fazer muita coisa, como cosméticos e uma série de outras utilidades. Se começarmos a aproveitar melhor o que é produzido, vamos poder gerar mais renda e, gerando mais renda, será possível distribuí-la melhor. Ao mesmo tempo, se a gente tiver um consumo mais sustentável e mais consciente, a gente pode evitar um desperdício enorme. Existe hoje no mundo, comida suficiente para atender todas as pessoas, mas mais de 800 milhões passam fome diariamente. Isso acontece não porque a comida não existe, mas ela não chega até essas pessoas, pois existe uma série de problemas que impedem esse acesso à comida. Resumindo, uma das formas de reduzir a fome no mundo é evitar o desperdício e ter um consumo mais consciente.

– O evento será em outubro, certo? Você participará de alguma apresentação, como será?

Esse evento é promovido pela Bayer, federações de agricultores da Bélgica e apoiado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Lá, a gente vai participar de projetos que serão apresentados para a FAO. Eles vão tratar de assuntos que a gente acredita que são necessários para reduzir ou até acabar com a fome do mundo.

– Existe algum prêmio? Qual a sua expectativa para o evento?

O prêmio é a viagem que eles vão dar de 7 a 14 de outubro para Bruxelas. A expectativa é a melhor possível, a oportunidade de estar lá é fantástica. Eu nunca viajei para a Europa, nunca tive a emoção de poder representar o meu país lá fora. Então é uma expectativa muito grande, eu estou muito ansioso, penso nisso todo dia, estudo todo dia. Nós, os cinco brasileiros, temos um grupo no Whatsapp, onde compartilhamos informações sempre.

Sobre Youth Ag-Summit

A conferência faz parte do Programa de Educação Agrícola da Bayer e visa criar conscientização a respeito de alimentos e agricultura em todo o globo. A Youth Ag-Summit é promovida pela Bayer junto a duas associações de jovens agricultores, a Groene Kring sediada em Flandres (Bélgica) e a Fédération des Jeunes Agriculteurs, movimento da juventude e organização agrícola representativa de todos os jovens agricultores da Região da Valônia.

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