Como Somos – este é o nome do novo documentário que está sendo gravado pelo diretor bauruense Rafael Botta, em parceria com outros profissionais da cidade. Com previsão para lançamento até o início do ano que vem, a produção narra a luta e trajetória LGBT aqui em nossa cidade, com entrevistas, fotos e histórias de quem não desanimou em frente aos desafios – muitos enfrentados até hoje.

Nossa equipe bateu um papo com Rafael, que contou como teve a ideia desta produção, falou sobre detalhes de gravação e como a população ainda pode colaborar com este produtos que só trará bons frutos à nossa cidade. Confira:

Como você teve a ideia de fazer este documentário? Faz muito tempo que você está planejando?
A ideia de fazer o documentário partiu da necessidade em se discutir este assunto, porque eu sinto que, ao invés de andarmos para frente, nós estamos dando alguns passos para trás em relação a direitos, conquistas e tudo o que foi falado até então. Mas pensando especificamente em Bauru, esta ideia surgiu no dia do show da Banda Uó, no encerramento da Parada do Orgulho LGBT, em 2016. Eu estava no show, lá no Vitória Régia, e olhava ao redor e via uma galera de 17, 18 anos, uma turma bem jovem, namorando, de mãos dadas, se beijando e, durante o discurso do Paulo Balderramas, mais conhecido como Rubia Bitencourt, que foi um discurso mais político, eu reparei que estas pessoas não estavam interessadas no que ele estava falando e, sim no show que viria a seguir. Por isso, vi a necessidade de fazer algo para mostrar para essa turma mais nova que, se hoje eles têm a liberdade de andar de mãos dadas no shopping, de poder se beijar no Vitória Régia, é porque muita coisa aconteceu na cidade. O movimento LGBT não pode ser só festa; ele tem que ser militante, tem que ser um ato político e social. Então, a ideia do documentário partiu dessa necessidade e comecei a pensar nele em agosto do ano passado. Aí, Prefeitura de Bauru abriu inscrição para Lei de Estímulo à Cultura no ano passado e eu resolvi inscrever este projeto. Fomos contemplados e a verba saiu este ano.

Em que fase do projeto vocês estão? Já fizeram as entrevistas?
Nós estamos na etapa de pré-produção, etapa de pesquisa e desenvolvimento do roteiro. Estamos realizando algumas pré-entrevistas.

Quem são os personagens?
São alguns personagens que a gente considerou peças-chave no processo da evolução e das conquistas que tivemos na cidade, nas últimas décadas. São donos de boates, drag queens, transsexuais e frequentadores das boates na época. Também iremos abordar temas sobre saúde e educação.

Você comentou comigo que descobriu alguns fatos curiosos sobre a luta LGBT em Bauru. O que pode adiantar?
Sim, durante estes processos sobre a luta LGBT em Bauru, a gente tem descoberto muitos fatos curiosos e interessantes. O mais recente deles é a conquista da carteira social que foi aprovada pela Prefeitura de Bauru em parceria com a SEBES (Secretaria do Bem-Estar Social), e tem algumas curiosidades em torno deste projeto que foi rapidamente aprovado pelo prefeito Clodoaldo Gazzetta. Uma delas é que Bauru é a primeira cidade que instituiu a carteira por meio de um decreto. A nossa cidade foi a primeira nesta questão.

Qual o objetivo do documentário?
O objetivo é de resgatar a memória e a luta de tantos que vêm brigando por direitos, avanços e conquistas há décadas. Muitos deles ainda fazem isso, inclusive. Também queremos conscientizar essa turma mais nova sobre a luta que teve lá trás. Não queremos que a luta LGBT seja somente festa: a festa é muito bacana, muito legal, serve para confraternizar, mas este não tem que ser o foco. O foco desta luta tem que ser mais político e social. Isso é importante para que se tenha cada vez mais conquistas em prol desta população.

Você é o diretor, certo? Quem mais está na equipe?
Isso mesmo. A equipe conta também com a Karin Silva, que é editora; o Fábio Moraes, que é diretor de fotografia, o Tiago Rosa, que também assina o roteiro comigo e produz ao lado da Karin, além do Luiz Campana, que é da ProClipe. A realização deste documentário é uma parceria entre a Cx2 Filmes (minha produtora) e a ProClipe (produtora do luiz). Utilizaremos a estrutura técnica da ProClipe e para mim é um honra tê-los como parceiros. Optei por uma equipe enxuta, pois queria que todos estivessem bem inteirados no processo para ficar mais verdadeiro. É um documentário e a verdade precisa ser passada primeiro pela equipe.

A população e empresários da cidade podem colaborar de alguma forma?
Sim, todo mundo pode ajudar! Estamos abrindo espaço para todos os frequentadores e organizadores de festas desde a década de 80 aos anos 2000. Eles podem participar cedendo imagens de arquivos, fotografia, vídeos… tudo é válido. A população pode nos ajudar a contar esta história, tanto as legais, quanto as mais tristes e dramáticas. E os empresários também podem colaborar. Embora nós tenhamos sido beneficiados com esta Lei de Estímulo, trata-se de uma verba bem enxuta, então os empresários podem colaborar como apoiadores cedendo alimentação, transporte, podem entrar como patrocinadores. Toda ajuda é muito bem-vinda. Quem quiser colaborar, pode mandar email para [email protected]

Quando ele será finalizado?
A previsão é que ele seja finalizado até dezembro. As gravações acontecem entre outubro e novembro, mas algumas coisas já vão acontecendo simultaneamente. Nós já estamos nos preparando para cumprir com todo o processo, até porque temos muita responsabilidade com a prefeitura e com a Secretaria de Cultura, e estamos utilizando verba pública para isso. Temos que prestar contas e cumprir o nosso cronograma já estabelecido. A entrega do material para a Prefeitura deve ser até no começo do ano que vem. Depois, iremos traçar uma rota de exibições e, com certeza, a primeira será aqui em Bauru.

Qual a sua expectativa?
A minha expectativa e de toda a equipe é que este documentário saia de Bauru e voe. Que esses exemplos que nós temos em Bauru sirvam de exemplo para outras cidades, em outros estados. Queremos também eles se inspirem e continuem lutando por seus direitos, além de gerar discussões em torno deste material que iremos apresentar. O desejo é estes assuntos nunca morram. No documentário iremos abordar nove temas e todos eles são muito importantes. Queremos que isso seja só o começo e que tenha muita discussão, já que o que mais vemos hoje no mundo é um retrocesso – o que é muito assustador. Este tipo de discussão nunca pode morrer. Queremos que o nosso trabalho incentive as pessoas a falarem sobre o assunto.

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