Com 29 anos, Adrielli vive a realidade das ruas desde os 19. O motivo? “Por causa da droga”, conta. A bauruense não está sozinha. De acordo com o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), existem mais de 100 mil pessoas vivendo em situação de rua no Brasil. Ela está sempre pelo cruzamento da Rodrigues com a Nações – onde Felipe, seu marido, trabalha. Ali, ao lado de pessoas que vivem a mesma realidade, Adrielli é direta: “a gente mora na rua, mas a gente é uma família, a gente é unido”.
Felipe passa o dia no farol limpando os para-brisas dos carros. Adrielli não economiza elogios ao falar sobre ele: “minha vida tá melhorando muito, esse homem que eu achei é muito bom, ele me dá força”. Em meio a um sinal aberto e outro eles conversam, riem, bolam um fumo. Financeiramente o farol dá lucro pra se virar e sobreviver. Difícil mesmo é lidar com a falta de educação das pessoas que o cruzam.
Enquanto a cor vermelha não o chama para o trabalho, Felipe traz um punhado de amendoim para a mulher. “O moço daquele carro me deu, come aí”, diz. Ela reforça: “tudo nós reparte, se ele ganha um pedacinho de sorvete a gente reparte”.
Antes de se apaixonarem, Adrielli esteve presa por oito meses. Tráfico. Foi solta após o exame toxicológico – que detecta a ingestão de substâncias tóxicas ao organismo. Quando saiu, conta com um sorriso de orelha a orelha: “eu trombei ele, na hora que eu trombei ele bateu a química”.
Mas o amor nem sempre foi tão generoso com ela. Viveu sete anos ao lado de alguém que a maltratava, espancava e traía. Amor é “coisa cega”, diz. O ex-marido hoje está preso por tráfico e faz ameaças de encontrá-la quando sair da cadeia.
Sobre paixões, fala com os olhos radiantes sobre os filhos: “o João Vitor tem onze anos, o Gustavo dez, o Bruno tem seis e tem o Luiz Felipe de um”. Os três primeiros moram com a avó Berenice, mãe do ex-marido de Adrielli. O último, união do seu amor com Felipe, com sua tia em Avaré. A bauruense conta que a ex sogra, quando vê que Adrielli está bem, a deixa sair com os filhos. “Quando ela vê que eu tô magra, ela não deixa”, diz. Quando não podia vê-los, “eu hibernava na droga, era dia e noite na droga, não poder ver eles me corroía por dentro”.
A gravidez na rua não foi fácil, mas nunca deixou de fazer os exames necessários. Quando Luiz Felipe nasceu, a luta para conseguir mantê-lo por perto não foi fácil. O Conselho Tutelar não permitiu deixá-lo aos cuidados dos pais, então foi adotado pela tia de Adrielli e atualmente mora em Avaré. O casal não deixa de visitá-lo aos finais de semana.
Da família ela não quer ajuda, a única coisa que quer é que a vózinha, Maria Isabel, com seus 73 ou 74 anos tenha bastante saúde. “Já sou uma mulher barbada, né? Não gosto de levar problema nem pra minha irmã nem pra minha avó, gosto de viver a minha vida”, afirma. Mas, vira e mexe alguém da família vai até lá pra perguntar como ela está e fazer o convite: almoço na casa da avó. E se ela vai? “Lógico que eu vou, comida da vó é boa”.
A única ajuda que Adrielli faz questão de pedir é pros filhos. “Eu não quero que meus filhos entrem em coisa errada, por isso eu converso bastante com eles”, conta. Sempre que sobra um dinheirinho leva algo para os meninos. Sobre sonhos, Adrielli não hesita em responder: uma casinha sua.