O aluno me pergunta qual o coletivo de pobre, diante de minha surpresa e pensativa resposta, vocifera de supetão: Ônibus!

Brincadeira de mau gosto, no entanto, ônibus vem do Latim “Omnibus” e significa “para todos”, segundo a lenda, verdadeira ou não, tratava-se de uma espécie de transporte por carruagem que servia a todas as classes na Inglaterra de 1832! A verdade é que somente quem andou de ônibus sabe o que é! Geralmente, lotados, pessoas em pé, em queda nas curvas, olhando os outros nas ruas e sentindo-se, no mínimo , momentaneamente, superiores por estar de carro, de veículo, ainda que seja por minutos ou horas! Nos ônibus , aprendi a ser educado ao ceder meu lugar a mulheres, gestantes, idosos e mães com crianças ao colo!

Nos ônibus, aprendi a figura de linguagem da catacrese, pois quem nunca foi vítima ou opressor com frases como: “Perdeu o ônibus?” “Estava no seu bolso?” “Vai pegar o ônibus?”, “Você é forte, hein?” ou algo como “Vai tomar o ônibus?” De canudinho ou no copo?” Mas, afinal, que frase usar?” Você vai adentrar o lotação?”

Aliás, lotação, lembra-me um filme com Sônia Braga, “A dama do lotação” de Neville D’ Almeida, bem Nélson Rodrigues e suas nuances sobre adultério, sedução, imprevisibilidade!

Na nossa Bauru, nos anos setentas, havia a Empresa Circular Cidade de Bauru, ECCB, nós brincávamos que a sigla significava Este Carro Carrega Burro, o bauruense dos tempos de parquímetros, “Batistar”, Praça Ruy Barbosa costumava chamar a empresa de “Quaggio” referindo-se ao proprietário Alexandre Quaggio, bons tempos dos ônibus amarelos, lembro-me de vários episódios, um deles, Esporte Clube Noroeste com jogos decisivos pela frente para fugir ao rebaixamento, a promoção: “Quem trajar vermelho Norusca não paga a passagem do ônibus!

Talvez a mais hilária de que me lembre e também a mais assustadora, morávamos na Vila Cardia e pegávamos, seja para “Batistar” ou Estádio Alfredo de Castilho ou Centro local a que chamávamos de “Cidade”, éramos um grupo: Aldemar e Beto Maffini, Reinaldo e Maurício Botelho e eu, sempre provocávamos um motorista que fazia o translado Cardia – Monlevade e Falcão – Bela, o nome dele era Garcia e quando o veículo passava dirigido por ele, bradávamos: Ô, Cururu!”, ele fingia que ia brecar para nos pegar, até que um dia brecou e foi falar com a mãe do Aldemar e do Beto ameaçando – nos de uma surra, um misto de medo e brinquedo!

Quando me mudei para o Jardim Marambá, tomava o Praça das Cerejeiras que retornava como Jardim Cruzeiro do Sul, vivi nessa linha uma das maiores paixões da minha vida, adentrava o ônibus em um determinado ponto e em outro uma namorada, íamos e voltávamos milhares de vezes de ponto final a ponto final em busca de um feliz final que com o tempo não houve mais!

Os ônibus tinham um horário máximo de circulação e quantas e quantas vezes, estávamos no Clube dos Bancários ou na Stalus, dançando uma música lenta do Bee Gees e nossa momentânea amada, despedia-se , pois tinha que adentrar o último lotação da noite, nós, Nilson Franco, Astor Vilani, Antônio ” Tatu ” Franco, Arnaldo Ribeiro, Miro e Pedro Belini, ficávamos até o final da noite e voltávamos a pé para nossas casas, lamentando não ter carro e nunca , como outrora , amando os ônibus amarelos do ” Quaggio ” , éramos os sem carros, felizes, notívagos, andarilhos, os pobres do coletivo sem coletivo!

Hoje, como nós, os amarelos amadureceram e sumiram, não há mais cobrador, mas ainda se cobra a passagem, seja do desempregado ou do estudante, o que é um absurdo! Quereria morrer um “Pescador de Ilusões” , dizendo que valeu a pena e que os ônibus serão “sem final, final…”

Professor Sinuhe, ainda esperando no ponto!

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