Você pensa sobre o futuro? Mas assim, futuro mesmo, daqui 20, 30 anos? Eu confesso que não penso. Imaginar como será a minha vida nas próximas décadas é algo que nem passa pela minha cabeça. Mas deveria.

Segundo projeções da ONU, se hoje uma a cada nove pessoas tem 60 anos, no mundo, nos próximos 50 anos, essa estimativa vai aumentar para cinco a cada 9 pessoas. E o Brasil acompanha este crescimento. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2012, a população de idosos no Brasil soma “23,5 milhões dos brasileiros, mais que o dobro do registrado em 1991”.

Mas, será que estamos preparados para a terceira idade? Quem também não refletia muito sobre o assunto é o produtor e diretor Evandro Souza. Foi ele quem teve a ideia de gravar o documentário Rugas da Vida, que contou com o apoio do Programa de Estímulo a Cultura da Prefeitura de Bauru, e foi gravado aqui na cidade. Com nove pessoas na equipe e histórias emocionantes, o documentário será exibido ainda este mês no Teatro Municipal de Bauru com entrada gratuita e aberta a todos.

Para saber mais sobre o projeto, como fase de gravação e curiosidades, eu bati um papo com Evandro que, também falou sobre a emoção de falar sobre este tema. Confira:

Como surgiu a ideia de fazer o filme?
Em 2016, minha mãe recebeu a carta de aposentadoria da Previdência. Aí, enquanto comemorávamos, eu percebi que em um campo havia uma previsão de tempo que essa aposentadoria em questão seria paga – 26 anos -. Após isso, eu, que sempre convivi muito com idosos por conta dos meus avós, percebi que eu nunca havia refletido de fato sobre o que significa envelhecer ou sobre todas as questões físicas, psicológicas e sociais que giram em torno da velhice humana.

Ah, aliás, eu posso chamá-lo de filme, de curta ou de documentário?
O documentário ficou com exatos 48 minutos. Considerado um longa no resto do mundo, mas aqui ele é
um média-metragem haha. E ouvir alguém chamando de “filme” é sempre gostoso de ouvir.

Quantas pessoas estão envolvidas no projeto? Quais os nomes e as funções?
Somos em 9 ao todo.
Evandro Souza: direção, roteiro, produção, produção executiva, edição, trilha sonora
Rosa Rubin de Celis: roteiro
Henrique Moraes: Direção de Fotografia, motion design, filmagem
Mayara Bailo: assistente de produção
Produção Executiva: Evandro Souza
José Rubens Leal: edição
Liene Nunes Saddi: Colorização:
Helder Faria: Edição de Som
Thiago Duarte: Técnico de Som
Camila Oliveira: Narração

E sobre o que Rugas de Vida conta?
Partindo daquele princípio de querer pensar um pouco sobre essa fase da vida, eu fui buscar alguns dados da ONU e da Organização Mundial da Saúde sobre envelhecimento populacional, expectativa de vida, etc. Mas, desde o começo da ideia eu acreditei que a melhor maneira de falar sobre esse assunto seria ouvindo o que os próprios idosos teriam a dizer. Assim, nós buscamos idosos que fossem diferentes uns dos outros, com histórias e pensamentos diferentes, e os entrevistamos. Todas as entrevistas tiveram um tom de conversa informal, para que eles ficassem mais à vontade possível. Íamos batendo um papo, perguntando sobre casamento, filhos, trabalho, até chegar em questões mais delicadas como a morte e como eles enxergam o mundo atual.

Qual o objetivo do projeto?
O objetivo é realmente fazer com que as pessoas parem um pouco e olhem para essas pessoas que já viveram uma vida longa, que tem histórias incríveis para contar, que tem reflexões muito preciosas sobre coisas que, para nós que estamos ainda na faixa dos 20 anos, são dilemas terríveis. Quem sabe assim, tendo um contato maior com os idosos de hoje, nós possamos nos preparar melhor pro futuro e pras etapas da vida que ainda virão (e tomara que venham).

As gravações foram feitas somente em Bauru?
Sim, todas. A maior parte das entrevistas foram feitas nas casas dos entrevistados, com exceção de duas realizadas no Instituto Lauro de Souza Lima. Outras foram realizadas com grupos no SESI e no SESC da cidade.

Como encontraram estes personagens? E o que vocês estavam procurando?
Eu não queria traçar nenhum modelo perfeito de terceira idade. Não queria que o filme passasse a mensagem de que você precisa viver de determinada maneira para chegar aos 80 anos. Então, buscamos pessoas diferentes umas das outras, com rotinas diferentes, com maneiras diversas de olhar pra vida. Alguns foram encontrados por intermédio de conhecidos da equipe que indicaram avós e parentes, outros foram com ajuda do SESI e do Lauro de Souza Lima.

Vocês têm alguma história curiosa das gravações?
Várias. Mas acho que as mais marcantes são dos momentos em que a gente precisava respirar e dar aquela disfarçada para não chorar ali na frente do entrevistado. Não que os relatos fossem dramáticos, mas a maneira com que eles falavam sobre alguns aspectos da vida era realmente muito linda. Ainda mais levando em conta que a equipe esteve sempre completamente envolvida e aberta para ouvir o que eles tivessem para contar.

E como foi gravar sobre este tema? Vocês começaram a pensar a velhice de uma outra forma? De que forma?
Primeiramente, foi surpreendente para todos. Não esperávamos que fossemos encontrar relatos e reflexões tão profundas e intensas como as que eles nos apresentaram. Com toda essa experiência, em conversa com a equipe, nós percebemos uma coisa óbvia, mas que passa muito despercebida no dia a dia: a vida é muito, muito preciosa, mesmo com os perrengues que a gente passa. Eles são inevitáveis, mas não podem tirar o brilho da vida. Ela passa depressa demais no fim das contas. A gente não pode perder tempo com as coisas que não valem a pena.

Hoje a ansiedade é um dos grandes problemas da humanidade. Vocês têm esta ansiedade em relação ao futuro?
A minha ansiedade, em particular, é muito a curtíssimo prazo. Fico ansioso com coisas que podem ou estão prestes a acontecer. Já fui mais ansioso com o futuro, mas hoje não paro muito. Consegui trabalhar um pouco essa angústia pra conseguir viver cada dia de uma vez. E esse trabalho me ajudou muito nisso.

O projeto será exibido em algum local aqui em Bauru?
Ele será exibido dia 26 de abril, às 20h, no Teatro Municipal da cidade, com entrada gratuita. Por enquanto, é a única data que temos.

Ele já está finalizado? O que acharam do resultado?
Já está terminado. Nós gostamos bastante e ficamos surpresos com diversas coisas. No total foram mais
de 7 horas de vídeos gravados e, o filme que era para ter ficado com 30 minutos, acabou com 48.
Chegou um momento na edição em que nós decidimos nos desapegar do tempo e deixar a cabeça livre
para ‘sentir” o documentário para que ele pudesse contar o que fosse preciso, ficando com o tempo que
quisesse ficar. Por fim, ficamos muito satisfeitos e esperamos agora que quem o assistir possa sentir a
mesma emoção e a alegria que nós sentimos em realizá-lo.

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