Facilidade com as palavras é uma das características do bauruense Rodrigo Carvalho. Muito antes de ser jornalista, ele já redigia alguns textos na adolescência, o formato? Poemas. Era dessa forma que Rodrigo traduzia tudo o que sentia, “era uma forma de colocar pra fora, como se fosse uma terapia”, conta.
Com o fim da adolescência, o jornalista e poeta tomou outros rumos e o hobby ficou de lado. Apesar da vida adulta tê-lo afastado da poesia, ela também o fez voltar para as palavras. E o recomeço foi em grande estilo, pela segunda vez, Rodrigo foi classificado no Concurso Nacional de Novos Poetas (Prêmio Poesia Livre 2018) e o seu poema “Estocolmo” estará na Antologia Poética, da Editora Vivara Nacional, ao lado de outras 149.
Para saber mais sobre como tudo isso aconteceu, o Social Bauru bateu um papo com o Rodrigo. Confira a entrevista:
– Você é jornalista, então presumo que goste de escrever. Mas o poema é algo mais complexo, como e quando você começou a seguir esse caminho?
Os poemas eu comecei a redigir assim que entrei na adolescência, acho que para expressar meus sentimentos, tanto amorosos, minhas descobertas, quanto outros, de vivência mesmo. Eu acho a adolescência é um período muito fértil na vida de cada ser humano, então eu traduzi esses sentimentos para os poemas. Eu sofria muito bullying na escola, então os poemas eram uma forma de colocar pra fora, como se fosse uma terapia.
Depois eu foquei em carreira, faculdade, mestrado e me casei. A vida foi tomando outro rumo e eu fui deixando de lado esse hobby. Agora, depois de um processo transformador na minha vida – minha vida mudou muito, me separei – eu me encontrei nesse momento de querer colocar em palavras, o meu sentimento, o que estava dentro de mim. Isso me ajuda muito a me libertar de algumas angústias, tristezas, saudades, lembranças e traumas. Meus poemas tratam de tudo isso. De alegrias também, porque não. Eu iniciei na adolescência, mas retornei agora, na vida adulta, depois de passar por uma série de vivências, eu me encontrei em um momento que foi ideal retomar esse gosto e tem me feito muito bem.
– Você acha que é um dom?
Eu não acho que seja um dom, acho que é mais uma característica de alguém que consegue lançar um olhar mais sensível para o mundo e até mesmo para dentro de si mesmo. Não é questão de usar palavras bonitas, eu não sigo nenhuma linha nesse sentido. Os meus textos são muitos simples, as palavras que eu uso são de vocabulário básico. Eu acho que é isso, uma sensibilidade mesmo. Eu sou muito sensível, observador, então às vezes uma coisa que é tão simples, que para algumas pessoas não teria nenhum sentido, para mim acaba tendo.
– Essa é a segunda vez que você foi classificado certo? Como é para você entrar em um livro ao lado de pessoas do Brasil inteiro?
Sim, dessa vez eu entrei no concurso em que participaram 2744 poetas e para mim é muito bom, fico muito feliz. Até por conta do poema que entrou esse ano, porque ele traduzia muito o período da minha separação, então foi uma forma bonita de selar o que eu perpetuei nesse texto, tem muito sentimento e muita profundidade para mim.
Mais do que o título e o status, o que conta pra mim é ter esse sentimento publicado e saber que outras pessoas vão ler. Acho que o principal, para a maioria dos autores que escrevem por prazer, porque gostam e porque têm na sua essência a literatura, o que ele quer, é ser lido. Não preciso saber que as pessoas leram, só de sentir que alguém leu o meu texto e aquilo a tocou. Teve um [poema] que eu publiquei no Jornal da Cidade, o 1642, eu recebi um feedback de uma pessoa distante que eu conheço e ela fez questão de me escrever uma mensagem linda e aquilo foi especial pra mim. O que eu sinto pode ser o que você sente, nós compartilhamos muitas vivências, muitas experiências, então é muito bonito receber isso, saber que eu impactei alguém.
– Para você, qual a importância desse título?
A importância é ser lido, saber que outras pessoas vão ler o meu texto e vão se emocionar. Que talvez eu possa mudar o pensamento de alguém, porque é muito importante que a gente consiga ressignificar as coisas ruins, isso ajuda a seguir adiante. Então é nesse sentido que eu escrevo, primeiramente para mim, para que eu possa ressignificar as coisas que me deixam tristes e que talvez isso possa ser o eixo transformador na vida de alguém também.
– Sobre o que é o poema “Estocolmo”?
Estocolmo é o título de uma síndrome onde fala que a pessoa cria uma certa relação de co-dependência com o seu agressor. Eu nunca sofri agressão, de fato, no que eu estava dizendo no meu texto, mas eu vivi uma relação de co-dependência, de um relacionamento abusivo. Então, Estocolmo fala de como eu me desprendi de certas coisas, o quanto um sentimento, que é o amor, que era pra ser algo bonito e me fazer bem, me fazia mal. Eu tinha medo de me libertar, então eu estava preso em culpas e medos, trancafiados na liberdade dos meus sentimentos, isso é muito profundo. Como você fica trancafiado na liberdade? É quase uma incoerência proposital. O poema foge à lógica do texto convencional, você pode usar de recursos que são ditos erros de redação, para justamente causar um impacto em quem vai ler, foi o que eu fiz aí. Estocolmo fala de como eu me libertei de vários pensamentos, várias culpas, várias inseguranças, medos, foi um processo muito difícil, foram 14 anos. Então foi muito significativo.
– O concurso é para novos poetas, qual a dica para quem quer começar a escrever?
A dica é observar o mundo, observar a si mesmo e olhar dentro de si. Tente expressar, sem se preocupar com a forma do texto, se preocupe mais com o conteúdo, com a mensagem que você está levando e se aquilo é genuíno, porque as pessoas vão se identificar uma vez que elas perceberem que aquilo tem sentimento. Se você escreve só para fazer um texto bonito, isso não vai ser tão incrível como o texto que realmente exprime aquilo que eu senti, essa é a grande diferença.
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