Em pleno mês da Copa, é comum a discordância por parte dos torcedores em relação aos jogadores chamados e preteridos pelo técnico Tite. Sempre houve e haverá aqueles que aprovam e os que defendem a convocação de outros atletas. No entanto, um fato muito peculiar chamou a atenção na lista da seleção que disputaria a Copa de 1970, na qual o Brasil se tornou tricampeão.

Quem tem menos de 50 anos, não teve o apanágio de ver jogar Toninho Guerreiro. Seu nome era Antônio Ferreira e nasceu em Bauru, em 10 de agosto de 1942. Filho de dona Rosa e seu Arthur, tradicional família bauruense, que morava na avenida Rodrigues Alves, após o viaduto da Marechal Rondon.

Ainda garoto, começou a jogar bola nos campos de terra da várzea bauruense ao lado do pai, contrariando a vontade da mãe, que o queria trabalhando na Companhia Paulista de Estradas de Ferro, sonho de muitos bauruenses.

Iniciou sua carreira no Noroeste, em 1958, com apenas 15 anos. O filho do seu Arthur formou um belo time no Noroeste, jogando com Adézio, Gerolino, Geraldo, Julião, Aracito, Gualberto, Batista, Capelozza, Maneca, Gelson, Davi, dentre outros.

No final da temporada de 1962, o passe de Toninho, garoto que muito prometia, foi comprado pelo Santos por 100 mil cruzeiros, lá permanecendo até 1969. Posteriormente, foi vendido ao São Paulo, por 800 mil cruzeiros; lá jogou de 1970 a 1973.

A crônica esportiva da época apontava que, depois de Coutinho, Toninho teria sido o mais importante parceiro de Pelé, que também começou a jogar futebol em Bauru. Com ele fez sucesso nas tabelinhas arrasadoras.

Dentre inúmeras conquistas, principalmente jogando no Santos da Era Pelé e depois no Tricolor, Toninho conseguiu a façanha de ser o único pentacampeão do paulista de futebol. Ele ganhou o campeonato, seguidamente, três vezes pelo Santos (1967, 1968 e 1969) e duas vezes pelo São Paulo (1970 e 1971).

Foi um centroavante com muita raça, mas também uma técnica aprimorada. Tinha “fome” de gol, vindo a se tornar o quarto maior artilheiro na história do Santos F.C. Recebeu o apelido de Guerreiro, por parte dos colegas santistas, devido à sua extrema dedicação quando vestia a gloriosa camiseta praiana. No alvinegro praiano jogou 373 partidas e marcou 283 gols. No São Paulo, marcou 85 gols, em 170 jogos.

Ainda em 1973, já em declínio, foi emprestado ao Flamengo, onde ficou por pouco tempo; na temporada seguinte foi para o Operário de Campo Grande-MS. Em 1975, encerrou a carreira no E. C. Noroeste.

Em 1970, em pleno regime militar, Guerreiro fora convocado para a seleção brasileira, que iria jogar a Copa de 70, no México. No entanto, fato muito estranho aconteceu. Toninho foi cortado daquela seleção brasileira que teria apresentado o melhor futebol entre todas as Copas. O motivo alegado foi uma sinusite. Segundo os médicos da seleção ele teria problemas com a elevada altitude do México. Toninho jogou duas partidas pela seleção canarinho em 1969.

Segundo a revista Placar de abril de 2000, assim desabafou João Saldanha, o então técnico da seleção: “Sobrou pra mim. O médico fugiu da sala e eu fiquei com o laudo nas mãos para dar aquela notícia sórdida ao Toninho. Ele chorou e eu também chorei, de raiva… Deixei o Hotel Plaza me sentindo uma marionete”.

Diz a “lenda” que a sua desconvocação, em um momento em que jogava um grande futebol, teria sido pelo motivo do então presidente Garrastazu Médici forçar para que o centroavante do seu Atlético Mineiro, Dario Maravilha disputasse o mundial. Dadá acabou indo à Copa e Toninho, um avante notável, muito mais técnico do que Dadá, ficou de fora. Isto o teria deixado muito magoado e triste e provocou uma derrocada em sua vida.

Segundo Milton Neves, “o peso, a boemia e o cigarro foram minando o corpo de um dos mais competentes centroavantes que o Brasil teve em todos os tempos”. Para a revista Placar de agosto de 1987, gordo e aposentado, Toninho convivia com a graxa, trabalhando em uma oficina de retífica do bairro da Lapa, na Zona Oeste de São Paulo. Toninho faleceu de derrame cerebral, na capital paulista, em 26 de janeiro de 1990.

O Guerreiro bauruense conviveu com a gloria e a decadência. Injustiçado por alguns, recebeu os louros de outros tantos. Talvez sua façanha maior tenha sido formar com Pelé, uma das maiores duplas de ataque de todos os tempos. Foi um goleador brilhante, tanto no Santos de Pelé, Zito e Pepe, quanto no São Paulo de Gérson e Pedro Rocha.

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