Os meses de chuvas em Bauru se tornaram um verdadeiro pesadelo para os moradores da cidade. Com o histórico de alagamento, carros arrastados e famílias desabrigadas, cada vez mais são discutidas formas de solucionar os estragos deixados pelas tempestades.
Só no mês de março de 2018, as chuvas em Bauru bateram um recorde e colocaram o mês como mais chuvoso desde 2001, segundo dados do IPMet (Instituto de Pesquisas Meteorológicas) da Unesp. Foram registrados um total de 258.1mm de chuva no mês, o maior desde que o IPMet começou a contabilizar os dados.
E esse recorde trouxe muitos estragos para os bauruenses; além dos tradicionais pontos de alagamento, os temporais derrubaram muros e estruturas de casa dos cidadãos, danificaram carros após a queda de árvores e deixaram bairros sem energia.
Para solucionar um dos muitos problemas das chuvas de Bauru, a arquiteta Rafaela Zeola, formada pela USC (Universidade do Sagrado Coração), fez uma proposta de construção de abrigos emergenciais temporários com o objetivo de auxiliar famílias desabrigadas pelas tempestades na cidade.
Ideal da arquiteta
Como trabalho de conclusão de curso, Rafaela criou o projeto da criação de abrigos emergenciais temporários, feitos de painéis de bambu.
A função dos abrigos é dar uma habitação temporária para pessoas que não tenham abrigo, para que, aos poucos, sejam encontradas uma melhor habitação.
“A proposta é ajudar tanto pessoas que perderam suas residências quanto pessoas carentes que precisam de uma, porque ele é um projeto que dá um lar para quem precisa de forma temporária”, explica Rafaela.
O ideal temporário é reforçado pelo tamanho dos abrigos no projeto, planejados para que sejam algo mínimo, mas que ofereçam boas condições de habitação para a população. No projeto constam uma sala, uma cozinha com copa, dois quartos com beliche, e um banheiro.
Mesmo que, no projeto inicial, os abrigos tenham sido projetados para a população desabrigada pelas chuvas de Bauru, Rafaela reforça que eles podem ser aplicados em qualquer situação de desastre, para refugiados e família que perderam o lar.
“Como ele é feito através de pisos elevados, que se elevam de 7cm a 2m do chão, dá para ser usado em qualquer proposta, qualquer situação de desastre”, afirma a arquiteta.
Um projeto limpo
A escolha do bambu como principal matéria-prima dos abrigos se deu pela constatação de Rafaela sobre a grande quantidade de plantações de bambu em Bauru, principalmente na Unesp, pelo projeto Taquara.
O bambu, segundo a arquiteta, é um material oco, que após ser cortado em ripas e feita a imunização, é fácil de ser manuseado por qualquer pessoa.
Além disso, o bambu não causa desmatamento e é reutilizável, tornando o projeto totalmente ecológico.
Ainda que o bambu seja o protagonista do projeto dos abrigos temporários, Rafaela estuda a possibilidade da sua substituição, de forma que o foco continue sendo materiais que sejam de fácil acesso.
Um olhar humanitário para Bauru
Bauruense de nascimento, Rafaela se mostrou apaixonada por sua cidade e se sensibiliza pelos problemas causados pelas chuvas de Bauru. Quando questionada sobre seu projeto, a arquiteta mostra o entusiasmo em transformá-lo em realidade e poder ajudar a população.
“Eu queria fazer algo que fosse um benefício para a sociedade, tanto para a minha cidade quanto para qualquer parte do mundo; seria algo bem acessível”.
A principal inspiração do projeto, além dos problemas com as chuvas da cidade, foram as aulas de responsabilidade social e arquitetura contemporânea que Rafaela teve durante a graduação.
A arquiteta analisou outros países que já colocavam em prática propostas de abrigos temporários, principalmente no Japão, devido aos terremotos constantes no país. A partir daí, Rafaela iniciou seu trabalho em função de beneficiar a cidade de Bauru.
Mas o projeto da bauruense não ficou só no papel!
Rafaela levou o projeto dos abrigos temporários para a Defesa Civil de Bauru, que soliciou o orçamento para colocar a ideia em prática, portanto, a chance do projeto realmente ser aplicado é grande!
Tudo isso, desde a ideia do projeto até a busca por colocá-lo em prática veio do amor de Rafaela por Bauru, além do ideal de que a arquitetura tem como conceito básico a ajuda ao próximo, e essa é uma das principais características da arquiteta em sua profissão: trazer o pensamento humanitário para cada projeto.