Segundo pesquisa da Sociedade Vegetariana Brasileira, o número de vegetarianos no Brasil atualmente soma mais de 30 milhões. Esse estilo de alimentação tem ganhado força entre a população, e os motivos são os mais variados.

A decisão de embarcar no vegetarianismo pode estar ligado à ética, busca por uma saúde melhor, consciência ambiental e até mesmo na atuação como cidadão.

No Brasil, são abatidos mais de 10 mil animais terrestres por minuto para a produção de carnes, leite e derivados, segundo a Sociedade Vegetariana Brasileira.

Além disso, muitos estudos científicos já comprovaram que o consumo frequente de carnes pode causar o aumento nas doenças crônicas e degenerativas, como diabetes, obesidade, hipertensão e alguns tipos de câncer.

Segundo a ONU, o setor pecuário é o maior responsável pela erosão de solos e contaminação de mananciais, sem contar o desperdício alimentício causado pela criação de animais, uma vez que são consumidos de 2 a 10 Kg de proteína vegetal (por exemplo, soja) para produzir apenas 1 Kg de proteína de origem animal.

Frente a esses e outros motivos, moradores de Bauru decidiram aderir à alimentação vegetariana e constaram algumas experiências e dicas.

Vegetarianismo por quem pratica

Abrir mão de alguns hábitos alimentares pode parecer difícil e até loucura para muita gente, contudo, para essas alunas de jornalismo da Unesp de Bauru, a decisão fez com que elas vivessem melhor e se sentissem bem consigo mesmas.

Marcela Benetti passou por duas experiências, que para ela, foram decisivas na hora de começar uma dieta vegetariana.

“Eu morei seis meses na África do Sul e comi muita carne, inclusive carnes exóticas e de caça como kudo, springbok, gnus, avestruz, zebra, rã. Quando cheguei ao Brasil percebi que estava saturada dessa alimentação carnívora”, explica Marcela.

E completa:

“Nesse intercâmbio também convivi com muitos alemães que eram vegetarianos, então eu aprendi receitas variadas e percebi que não era doloroso viver sem carne. Inclusive, eles eram muito saudáveis e envolvidos com esportes, o que me deixou despreocupada em relação à saúde”.

A universitária é ovolactovegetariana, ou seja, inclui na dieta alimentar ovos, leites e derivados. É importante ressaltar que muitas vezes ela ainda consome carne ou peixe, e isso não a torna menos vegetariana.

“Esse ‘de vez em quando’ é principalmente quando tenho a oportunidade de comer uma gastronomia diferente (estrangeira, por exemplo), experimento um pedacinho para saber como é, pois para mim culinária é cultura”, enfatiza ela.

Quem vive o mesmo que Marcela é a estudante Gabrielli Silva, que decidiu se tornar vegetariana após um trabalho da faculdade, onde ela e as amigas tiveram que aderir a essa dieta por alguns dias.

“O processo de transição foi relativamente fácil, eu não conseguia mais comer carne, então não foi só uma decisão. O mais difícil foi parar de comer frios, como salame, presunto e mortadela; às vezes eu sinto vontade, mas minha decisão por esse estilo de vida ainda é maior”, comenta Gabrielli.

Adepta ao ovolactovegetarianismo, conta que muitas vezes também acaba comendo algum tipo de carne quando sai para comer fora ou vai à casa de alguma pessoa.

“O mais complicado ainda é quando eu saio pra comer em algum lugar, porque não são todos os lugares que têm opções vegetarianas e quando tem, normalmente é apenas uma opção, enquanto as opções com carne são diversas”, conclui.

Victória Rangel também é graduanda em jornalismo, e conta que quando entrou na universidade e começou a preparar os próprios alimentos, percebeu que os nutrientes encontrados nas carnes, como a proteína, podem ser encontrados em outros lugares, como nos vegetais.

“Passei a me importar mais com o que colocava em meu prato. Se era um consumo necessário ou se poderia ser substituído por algo mais saudável. Se sim, eu dava preferência a isso”.

A transição

Para as garotas, a transição para o veganismo não foi fácil, pois muitas pessoas já chegaram a criticá-las pela escolha, sem contar a falta de opções vegetarianas em muitos restaurantes e supermercados.

“Muitas pessoas não entendem o que é essa escolha. Já ouvi comentários como ‘mas essa é a cadeia alimentar’ ou que minha atitude ‘é frescura’. Mas isso não me incomoda tanto, pois eu sei que é um processo pelo qual muitas pessoas não passam, e eu tive a felicidade de passar. Pois antes, inclusive, eu também achava que não comer carne era uma ‘frescura’”, comenta Victória.

A estudante ainda recomenda, para quem também quer seguir uma alimentação vegetariana que não se importe com os comentários alheios, e que ter vontade de comer carne no início do processo é normal e não tem problema algum!

“Precisamos compreender que nossa alimentação desde o início da vida foi, essencialmente, carnívora, e é difícil se desvencilhar desses hábitos de anos – 20 anos, no meu caso. Mas se há vontade de deixar o consumo de carnes de lado, vale a pena insistir sempre”, completa ela.

Marcela ainda completa a fala de Victória ao aconselhar as pessoas a não serem radicais e abolirem a carne da noite para o dia, pois isso pode causar problemas de saúde em algumas pessoas.

“Muito importante a ajuda profissional, além de sempre estudar o assunto. Tem vários blogs, páginas do facebook e perfis do instagram que ajudam também”, conta Marcela

O olhar profissional

Para quem pretende começar uma dieta vegetariana, é muito importante a busca por orientação de um nutricionista

Maria Grossi Machado é professora de nutrição da Universidade do Sagrado Coração(USC) e especialista em nutrição clínica. Ela explica que, para quem quer começar esse tipo de alimentação, primeiro deve-se ter a certeza do que se quer e não deixar de lado o cuidado com a saúde.

“Nessa perspectiva, a pessoa deve ter em mente que parar de comer alimentos animais demanda a procura por um profissional que entenda de alimentação, no caso um nutricionista. Isso porque os alimentos de origem animal possuem proteínas importantes, que chamamos de proteínas de alto valor biológico, que dão pro corpo aminoácidos, que vão fazer muitas ações no organismo que são importantes, como formação de hormônios, enzimas, do sistema imunológico”, a nutricionista explica.

Ela ainda conta que é possível, sim, encontrar as proteínas em alimentos de origem vegetal, como ervilha, lentilha, grão-de-bico, soja, alguns cereais, cogumelos e toda a classe de leguminosas.

Contudo, é necessária a orientação de um nutricionista para que seja feita uma adaptação alimentar para a nova dieta, para que o paciente não acabe ficando com déficit na alimentação.

Keli Bortholazzi também é nutricionista, e explica que a exclusão radical de alimentos de origem animal, sem o acompanhamento nutricional, pode acarretar deficiências de cálcio, ferro, vitamina D e vitamina B12.

“Em uma dieta vegetariana o planejamento feito pelo nutricionista, visa adequar principalmente os macronutrientes, (carboidratos, proteínas vegetais e gorduras de boa qualidade) além das calorias suficientes ao organismo de cada indivíduo”, conclui Keli.

A professora de nutrição da USC aconselha que a transição para a alimentação vegetariana seja com cuidado e com aconselhamento.

Um estilo de vida

Para Marcela Benetti, o vegetarianismo se tornou um estilo de vida, mas a universitária explica que para quem não quer ser vegetariano, mas se preocupa com a causa, pode-se diminuir o consumo de carne.

“Não precisamos comer carne e embutidos em todas as refeições, como acontece na vida de muitos brasileiros”, aconselha.

Isso porque, o vegetarianismo vai além de um estilo alimentar, mas principalmente é um estilo de pensar e ter consciência sobre as consequências do consumo de alimentos. Portanto, não há uma regra para o vegetarianismo.

“Vegetarianismo é principalmente uma consciência; se você tem e faz a opção, então você é vegetariano. Obviamente muitas pessoas vão discordar, o assunto é polêmico, mas acho que quem coloca as regras é cada um, afinal é uma opção pessoal”.

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