No Brasil, mais de 12 milhões de pessoas vivem em comunidades carentes, segundo pesquisa realizada pela Geofusion, empresa especializada em inteligência geográfica.

O estudo ainda apontou que em 2015, existiam no país 6.329 comunidades em todo o território urbano.

Ainda que esse número seja expressivo, muitas dessas comunidades não são retratadas da forma como deveriam. E em Bauru, o projeto Voz do Nicéia tenta mudar esse fato, dando visibilidade para os moradores dessa região.

O que é o Voz do Nicéia?

Projeto de extensão universitária da Unesp, o jornal comunitário “Voz do Nicéia” é uma ferramenta de comunicação e mediação entre a comunidade do bairro, os órgãos públicos e o restante da cidade.

Em 2018, o projeto está completando dez anos, e o principal objetivo é informar e orientar a população do Jardim Nicéia sobre questões de interesse coletivo como legalização e reformas urbanas e sociais, de forma a melhorar o bem-estar da comunidade.

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Foto: Voz do Nicéia

O editor-chefe do projeto, Vitor Soares ainda explica como o jornal funciona:

“Atuamos em quatro frentes: o bimestral impresso, o meio digital, a pesquisa científica e a produção de eventos que nos aproximam da população”.

Hoje, o projeto também conta com uma editora adjunta, uma coordenadora de eventos, uma gestora de mídias e um grupo de repórteres de texto e imagem, somando 33 jornalistas, incluindo o professor responsável, Angelo Sottovia.

“Recebemos verba da Pró-reitoria de Extensão (Proex), que serve para imprimir as 4 edições anuais do jornal. Ademais, conseguimos também doações de voluntários para realização de eventos no bairro”, explica Vitor.

A produção

Todo o processo de produção do jornal é feito em parceria com a comunidade, que dizem o que querem noticiar e ver no projeto.

“Promovemos um levantamento de pautas bimestrais junto com a população para compreender o que mais tem impactado o dia a dia das pessoas. Desse levantamento, procuramos desenvolver matérias que correspondam ao interesse coletivo da população do bairro, ou seja, que digam respeito a todos de modo geral e não a somente um grupo”, explica o editor-chefe.

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Foto: Voz do Nicéia

E continua:

“Atuamos também como sentinelas. Se o poder público ou ações dele tendem a impactar o bairro, nós tentamos informar a população. Na maior parte do tempo, cobramos os órgãos da Prefeitura no tocante a essas questões que, como disse, são de interesse coletivo da comunidade. É importante sempre que busquemos ser claros em nossas exposições e que façamos as checagens pertinentes para não deixar com que boatos fiquem soltos no debate do bairro”.

Jardim Nicéia tem voz

Segundo Vitor, o projeto sempre se mostrava como uma forma de gerar contribuições a alguma parcela da população de Bauru.

“Acredito que existem algumas necessidades de primeira importância para qualquer povo. Precisamos de comida, água e reconhecimento social. Se nossas batalhas diárias não são levadas a sério, se não ganham credibilidade diante da sociedade, nós perdemos força. É algo que melhora a autoestima social do indivíduo. É por isso que o Voz do Nicéia é tão importante”, ele conta.

Mariana Soares também participa do projeto, estando hoje na frente de eventos, e conta que escolheu o projeto porque ele faz com que o jornalista ponha a mão na massa, fazendo funções que só uma jornalista formada faz.

No Voz do Nicéia você tem uma chance de tentar fazer algo diferente de uma mídia tradicional. Como o Jardim Nicéia é um bairro carente, ele é sempre reportado pela mídia tradicional de uma forma negativa. “Com o projeto, a gente tem a chance de fazer diferente, e fazer um jornal dos moradores e para os moradores”, ela afirma.

Em Bauru e no país

Não é só em Bauru que as comunidades carentes sofrem descaso, isso é um quadro de todo o país, como afirma Vitor e Mariana.

“Bauru não oferece auxílio aos bairros carentes, até porque, como a maior parte deles não são bairros localizados, a prefeitura se esconde atrás dessa desculpa para não fazer nada. A maioria não tem saneamento básico e as linhas de ônibus são precárias. Mas não é exclusivo de Bauru, no Brasil todo é assim”, conta Mariana.

“Bauru não foge à regra das demais cidades brasileiras. É uma cidade que segrega e exclui os menos favorecidos economicamente. Mas se os três anos que trabalho diretamente com a comunidade do Jardim Nicéia fossem meu único parâmetro para medir como o poder público lida com as comunidades carentes, diria que é com desprezo e ironia. A Prefeitura promete as melhorias, mas não cumpre de modo quase rotineiro”, finaliza Vitor.

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