Nas terras aradas pelo sertanejo do interior paulista se encontram as raízes da música caipira, marcada pela união das culturas indígenas, europeias e africanas. As cantigas de raiz contavam histórias do dia a dia do trabalho na terra, de amores não correspondidos e até mesmo as incertezas sobre a modernidade que o Brasil passava.

Para Sebastião Laerte de Camargo, fundador do “Clube da Viola” em Bauru, a música caipira “conta parte da nossa história”, sendo que muitas prosas sertanejas narram marcos históricos como o descobrimento do Brasil.

O sertanejo de raiz, como se conhece nos dias de hoje com Sérgio Reis, Milionário e José Rico, entre outros nomes, só surgiu no cenário musical na década de 20, com Cornélio Pires, que começou a divulgar as canções no meio comercial, iniciando as gravações em estúdio e as mudanças do que, antes, era conhecido como música caipira.

No vértice das cidades de Botucatu, Piracicaba e Sorocaba surgiram as primeiras duplas sertanejas, carregando debaixo do braço a viola, o violão e a sanfona, os instrumentos primários da música caipira.

O sertão de Bauru

Bauru também está no meio desse vértice da música sertaneja no interior de São Paulo. Na cidade, a dupla feminina Maria de Jesus Castro e Lourdes Amaral Castro começaram sua carreira em 1938 na Rádio Clube de Bauru, onde foram as vencedoras do concurso de calouros “Descobrindo Astros do Futuro”.

Depois, ainda em Bauru, surgiu o Duo Irmãos Vieira, com Zito Vieira e Maria Vieira, ambos nascidos e criados na cidade. Esses bauruenses já levaram o nome da “Cidade Sem Limites” para todos os cantos do Brasil!

Novos cenários no sertanejo

Hoje, nas rádios que tocavam as modas sertanejas, mal se ouvem falar delas. O sertanejo universitário tomou conta das pessoas, desde os mais jovens até os mais velhos.

Com a construção de grandes cidades e prédios ainda maiores, o cenário do campo já não é uma realidade que faça parte do nosso dia a dia. Com isso, a música raiz vem se apagando da história como as estradas de terra perdem espaço para o asfalto.

“Todos os estilos musicais perdem espaço com o passar do tempo em virtude de mudanças de estilo de vida, mudanças de valores, etc”, explica Sebastião.

E a mudança na música não é percebida só por quem a vive 24 horas por dia. Pedro Henrique Carneiro é funcionário público e cresceu em um ambiente familiar regado a modas sertanejas, violas e violões.

Para esse bauruenses, a música reflete o modo de vida da sociedade, e se esse modo já não existe, a música segue a mesma trilha.

“A música sertaneja raiz está ligada ao modo de vida do sertanejo raiz, a partir do momento que esse modo de vida vai se acabando a expressão do povo que vivia dessa maneira também tende a se acabar”.

Preservar é relembrar

A música é parte da cultura brasileira e criar a história do país, e como samba conta a história dos cariocas, o baião, dos nordestinos e o xote, dos gaúchos, o sertanejo de raiz tem suas linhas nas tradições caipiras.

Dessa forma, ainda que o cenário da música raiz não tenha renovações, todas as modas criadas são marcas de uma história que deve ser preservada.

Renan Augusto é cantor sertanejo em Bauru,e para ele, a música raiz nunca irá perder seu espaço:

“Para mim, o sertanejo é um estilo que nunca vai morrer, porque é um clássico da cultura. A música sertaneja é eterna!”, conta.

E a verdade é que você gostando ou não da música de raiz, quando a viola chora, não tem quem não tenha uma ou duas canções na ponta da língua.

Compartilhe!
Carregar mais em Cultura

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Verifique também

Banda bauruense leva composições autorais ao Teatro Municipal de Botucatu

Com sonoridade pós-punk e composições autorais, a banda bauruense “Obscuro Lavrador” se ap…