Você já ouviu falar no termo “apropriação cultural”? A expressão tem trazido à tona vários questionamentos e discussões, mas poucos sabem o que realmente significa essa expressão.

O conceito tem relação com o capitalismo, o etnocentrismo, a hegemonia cultural e as relações de poder e dominação. Guardou bem essas palavras? Então vamos conversar sobre a apropriação cultural.

O que esse termo significa?

Antes de mais nada, temos que entender que vivemos em uma sociedade com minorias e maiorias e não estamos querendo dizer numericamente. Convivemos diariamente com um sistema social desigual, em que determinada cultura domina, ideologicamente, as demais (como ideias, elementos, valores e padrões).

Segundo a bacharel e mestre em ciências sociais, Marina Corrêa dos Santos, o termo apropriação cultural “significa apropriação indevida de elementos de uma cultura por outro grupo cultural diferente. Descreve um processo de aculturação de um grupo dominado por outro dominante, de forma a esvaziar o seu conteúdo crítico e a possibilidade de resistência”.

Exemplificando o termo de forma mais lúdica, o professor e doutor da Unesp-Bauru, Juarez Tadeu de Paula Xavier, simplifica:

É quando jovens brancos se apropriam da cultura hiphop sem se preocuparem ou se solidarizarem com o racismo sistêmico que provoca o genocídio generalizado da juventude negra no Brasil“, ele explica.

A questão, portanto, gira em torno da apropriação de culturas minoritárias sem se preocupar com o debate, com a história e com a ideologia que estão por trás delas.

Apropriação cultural em pauta

Como já foi afirmado, a apropriação cultural está em pauta, mas qual a importância desse debate?

É preciso falar sobre o termo para que, como já acontece, ele não seja distorcido e deturpado. É preciso entender o quanto a desigualdade, o racismo, a violência e a exclusão fazem parte do cotidiano da nossa sociedade.

Apropriação cultural, definitivamente, não diz respeito à apreciação ou homenagem aos grupos produtores de suas culturas. Pelo contrário, ela é uma forma de apagamento, de silenciamento, de desumanização desses sujeitos“, afirma a cientista social.

Como distinguir?

Conceitos e fatos explicados, vamos à parte da mão na massa: o que pode ser considerado apropriação cultural?

É qualquer elemento (acessórios, roupas, músicas, danças, etc) retirado sem referência e sem permissão de uma cultura minoritária por parte de um grupo hegemônico visando o lucro.

Podemos citar o samba, o rock e o reggae como casos clássicos de apropriação. A indústria da moda também oferece inúmeros exemplos: uso infundado de estampas étnicas, grafismos indígenas, túnicas tradicionais, turbantes, tranças africanas, dreadlocks, etc“, apronta Marina.

Muitos objetos são tidos, dentro de uma cultura, como símbolo de uma luta ou de um ideal e, quando levado para o campo mercadológico, perde seu sentido.

“Não posso usar mais nada?”

Essa frase, aqui em cima, é bem comum quando o assunto é apropriação cultural. Mas vamos parar de olhar para nós mesmo por um instante para que eu possa explicar:

A apropriação cultural não se trata de um indivíduo, mas sim da sociedade. O termo não foi criado como uma patrulha do que as pessoas podem, ou não, comprar e utilizar.

Muitos artistas já foram questionados sobre a apropriação cultural ao usar uma roupa ou um tipo de penteado, contudo, Marina comenta: “constitui até uma desonestidade desviar o foco do debate para esse tipo de questão“.

Portanto, a crítica não se diz a uma pessoa ou por ela ser branca, mas sim, pela desigualdade social e racista que é reforçada dentro do nosso sistema.

Mas calma! Já diziam nossas mães e avós: “o exemplo começa por nós mesmo”. Então, mesmo que o debate não seja voltado para o “eu”, é importante se informar, buscar o contexto e entender o significado daquela música que se está ouvindo, daquela arte, da roupa, etc.

É unir forças e contribuir para que pautas de luta, racismo e direitos iguais continuem avançando.

Por isso, o professor Juarez pede uma reflexão. “Acho que a pessoa que se propõe a usar artefatos de outros povos deveriam se perguntar: devo? É justo? Por exemplo, devo usar um kipa judaico? Devo usar uma burca islâmica? Devo usar uma trança africana? Devo usar um cocar indígena? Parto do princípio de que se fere a identidade de alguém que luta contra as violência físicas e símbolos, deve-se evitar o uso“.

Respeito acima de tudo

Nem é preciso dizer mais nada! O respeito é a principal chave contra a apropriação cultural.

Devemos respeitar o protagonismo desses povos, escutar, buscar conhecer as suas realidades, julgá-los dentro de seus próprios parâmetros, qualificar as discussões, lutar por direitos iguais e representatividade para todos“, finaliza a cientista social.

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