Você já pensou em casar duas vezes com a mesma pessoa? Se você nunca tinha pensado nisso, saiba que existe e é comum entre casais que decidem começar um negócio juntos. Aqui em Bauru, muitos pombinhos decidiram unir as forças além do matrimônio e embarcar na aventura com novas empresas.

Para saber como é essa história de conviver em casa e no trabalho, nós recolhemos depoimentos de casais bauruenses que resolveram empreender juntos. Eles comentaram sobre o dia a dia, as brigas, como separar casa e trabalho, mas, acima de tudo, sobre o amor.

Daniel e Daniele Dispoti (Owzone Coworking)

O Daniel tinha muita vontade de fazer algo, ele é formado em administração, e eu sou formada em pedagogia, então decidi fazer uma pós em administração de empresas para entender um pouco desse mundo e ajudá-lo. Ele foi pensando o que iria fazer e a gente decidiu, depois de muitas pesquisas, abrir o coworking há sete anos. Não foi uma decisão difícil e eu não duvidei que iria dar certo, porque, na verdade, ele expressava muito essa vontade, além de passar muita segurança pra mim. Já como casal, a gente já se dava muito bem e esse laço e a confiança não levantou muitas dúvidas, até porque a gente tinha que testar a ideia.

O frio na barriga todo mundo tem, não tem como evitar, mas o conhecimento do mercado e o apoio muito grande da Dani. A gente estava com vontade de fazer algo acontecer, então ajudou bastante e a jornada mexia mais com a gente do que de fato de dar certo ou não.

De lá, a gente também administra a nossa vida pessoal, eu convivo com ele 24 horas por dia e, em sete anos, nunca tivemos uma discussão em frente aos colaboradores ou clientes. Equilibrar esse convívio é muito difícil, é um desafio diário, a gente já tomou 90% do nosso convívio familiar falando de negócios. Tem que ser perspicaz em perceber que isso está atrapalhando e conversar, um vai lembrando o outro disso. Hoje, a gente tem a facilidade de resolver, mas no começo a gente vivia muito isso dentro de casa e percebemos que não podia deixar de perder a identidade como casal.

É um trabalho contínuo de não cair nessa armadilha de levar o trabalho pra casa. Um exercício para fazer é, quando a conversa começa a ficar mais acalorada, tem que parar e resolver no outro dia. Mas não é tão simples não. A gente tem sete anos, então amadurecemos e vamos aprendendo. O grande lance é saber aprender e ter mente aberta para aprender.

Estamos há 15 anos juntos e nunca tivemos brigas ou discussões. Já tivemos muitas conversas sérias, mas porque precisava ter. Não era pelo fato de trabalharmos juntos, era relacionado a processos e decisões dentro da empresa. Eu acho que algumas atitudes precisam ser tomadas de forma mais enérgica e, às vezes, o Dani quer fazer de uma maneira mais amigável, então cada um tem que mostrar o seu ponto de vista. Desde que a gente se conheceu, a gente já tinha uma sintonia. Nós fomos trabalhar juntos oito anos depois, então essa sintonia só aumentou. Quando a gente decidiu abrir, já estávamos casados, então estávamos muito equilibrados. O grande lance de não ter brigas e de não ser difícil, na minha opinião, é essa sintonia que a gente sempre teve.

Kaedra Silva Mendes e Cahê Scarcela Mendes (Mucho Mexicano)

Nós sempre brincamos que a primeira sociedade que abrimos foi dizer sim em frente aos nossos familiares e amigos. Nosso casamento já foi uma festa bem particular. Nós que fizemos todos os doces, a decoração, o convite. Sempre gostamos muito de trocar idéias, criar e desenvolver essas idéias juntos. Quando a proposta do Mucho nasceu, veio disso e do fato de que a maioria das reuniões com a família e amigos era em casa. Nós cozinhávamos e eles incentivavam a gente a abrir um delivery com a nossa comida.

Foi natural fazer juntos, cada um empenhado na área que sentia mais afinidade. Foi uma decisão muito fácil, na verdade. Nós conversávamos muito sobre o que gostaríamos que o Mucho fosse, mas acho que não tínhamos noção que ele poderia tomar as proporções que tomou. Nós éramos dois amantes de cozinha, sempre com as portas abertas para quem quisesse fazer uma bagunça em casa. Nós começamos sem nenhuma experiência em como administrar um negócio, gerenciar pessoas e negociar com fornecedores. Por isso, a decisão foi fácil mesmo. A manutenção dela, porém, nos fez olhar pra trás diversas vezes e nos perguntar: “A gente pensou mesmo que seria daquele jeito?” (risos). Mas se tem algo que nunca duvidamos é que daria certo. Até hoje acreditamos no que fazemos juntos. E que independente do que fizermos, faremos muito bem JUNTOS.

Como somos muito diferentes em diversos aspectos, isso torna o trabalho muito interessante. Olhamos com olhos muito diferentes para o Mucho, e isso gera um debate muito criativo e acredito que saudável também. Eu adoro trabalhar com ele. Não vejo alguém melhor para estar do meu lado nesse (e em todos) os projetos. Ficamos juntos boa parte do tempo sim, e já aconteceu de ficarmos mais. Hoje, tentamos separar algumas tarefas para que cada um consiga ir para um lado. Mas não tem jeito, o telefone está ligado o dia inteiro no WhatsApp pra confirmar detalhes, listas de compras, etc. No fim, verdade seja dita, não tem muito equilíbrio. Fazemos o melhor que podemos pra ter uma vida normal. Acredito que estamos progredindo no quesito equilíbrio. Vejo um longo caminho pela frente, mas ainda há esperança.

Começamos sempre falando das crianças. Afinal de contas elas são a maior motivação para todo o trabalho que fazemos. Mas não tem muito jeito de separar, porque começamos, por exemplo, a falar da rotina delas, da roupa suja, das compras pra casa e pronto, já partimos para as compras do Mucho, e a rotina da cozinha, e a limpeza do restaurante. Acho que porque temos o restaurante como nossa segunda casa fica tudo ainda mais interligado. Até tentamos conversar sobre assuntos diferentes, como música, mas não dá cinco minutos e já voltamos pro Mucho (risos).

A primeira promessa que quebramos foi que os assuntos do Mucho não poderiam causar problemas com a nossa vida pessoal. A falha nessa promessa é que o Mucho mudou a nossa vida pessoal por completo. Hoje, os dois estão diretamente envolvidos tanto no operacional quanto no administrativo da empresa. Então quando briga, briga mesmo. Grita, vira as costas, como todo mundo. Porém, temos percebido com o tempo que a melhor coisa é extravasar na hora, passar uns dez minutos sozinho refletindo e depois colocar tudo numa conversa. A gente sempre se ajeita em 20 minutos. No máximo. A vantagem de ser sócia do Cahê é que eu já tinha casado com meu melhor amigo, aí decidi abrir um negócio com ele. Melhor parceria.

Beatriz Wenzel e Kamila Feldenheimer (Happig Empório Vegano)

Eu tenho a Happig desde 2014 e no Natal de 2017 eu tive uma agenda muito grande de pedido. Eu chamei a Bia para me dar uma mão com o menu de Natal, principalmente o Tender do Bem, que é muito trabalhoso e é o que mais sai. Tinha acabado o contrato de estágio dela, então ela me ajudou final de novembro e dezembro inteiro. Em fevereiro do outro ano, ela teria que entregar o imóvel que ela morava, porque a família dela não é de Bauru. Aí eu perguntei “você curtiu?”, se você sobreviveu a dezembro, você pode trabalhar comigo, mora em casa e quando você arrumar algo em engenharia você vai. Ela começou a trabalhar comigo e gostou, não foi para a engenharia, ela ficou na cozinha. Exatamente um ano depois que ela começou a trabalhar comigo, a gente mudou para uma casa e a gente conseguiu dobrar a produção, porque eu fazia tudo sozinha. A gente dividiu e conseguiu render muito mais. Foi tranquilo, eu chamei, ela veio, gostou  ficou.

É gostoso trabalhar juntas, porque a gente tem o mesmo propósito. Eu falo que a gente não tem um negócio, é uma missão. Ela também é vegana e a gente acredita demais no que a gente faz, então trabalhar é tranquilo. Tem parte que tem briga? Tem! A gente fica juntas 24 horas por dia, não tem separação de assunto de trabalho e casa. Mas, infelizmente, não tem essa separação, hora de reunião e quando acabou é só relacionamento.

Nós somos muito organizadas, então deixamos o fim de semana para a faxina pesada. Durante o dia a gente produz, almoça e produz a tarde de novo. Nós fazemos cronograma e programação, então a gente consegue organizar a rotina de trabalho muito bem, então fica meio de lado organizar as outras rotinas, mas dá tudo certo.

Quando brigamos não tem o que fazer. Se eu quiser ir embora, não dá, porque eu moro com ela. Se eu quiser largar tudo, também não posso, porque eu faço metade do serviço. O que acontece é a gente amassar o hambúrguer mais forte (risos), brincadeira! Mas não tem o que fazer, nós fazemos as pazes.

Rodrigo Peters e Amanda Gaspar (Bença Parrilla)

Foi bem natural empreender juntos. Era um sonho que a gente compartilhava, que começou como um projeto e depois virou o Bença. Tínhamos esse prazer de receber as pessoas em casa e cozinhar. Veio naturalmente dessa vontade de surpreender as pessoas e acabou virando um empreendimento. Agora, nesses últimos passos do Bença até à ampliação, é mais comp porque envolve muita coisa mas tem sido muito gratificante.

Trabalhar com a esposa é muito tranquilo, porque a gente se dá muito bem. Acho que essa imersão juntos até nos aproximou. Ficamos muito tempo juntos e no tempo livre tentamos até fazer mais coisas juntos. Até porque quando estamos no trabalho, estamos no mesmo lugar, mas não estamos passando o tempo juntos. Então não desgasta e quando não estamos trabalhando é muito legal estar junto, sair pra jantar, fazer algo diferente. É um pouco desse equilíbrio também.

Para separar assuntos do trabalho de casa? Ah, é muito comum estar em casa resolvendo assuntos do trabalho. A gente tenta separar, mas é difícil, principalmente no começo. Tentamos salvar alguns horários específicos para isso. Quanto à briga, nós somos muito tranquilos, como temos um objetivo muito claro, não brigamos. Claro que tem algumas discussões sobre o que cada um quer fazer, mas não brigas.

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