No início do século XX, o Japão estava superpovoado e começou a colocar em prática uma política emigratória, enquanto o Brasil, além de estar passando por uma política de “branqueamento” da população, precisava de mão de obra para a produção de café.

Em decorrência disso, em 1908, o navio Kasato Maru aportou em Santos trazendo cerca de 780 japoneses para o solo brasileiro.

Desde então, a comunidade japonesa se estabeleceu no Brasil e deu fruto a descendentes nipo-brasileiros como as estudantes de jornalismo da Unesp, Nádia Linhares e Ingrid Midory.

Unidas por sua ascendência japonesa, as estudantes decidiram fazer um TCC em que pudessem abordar temas relacionados à identidade dos descendentes de japoneses em Bauru.

 Japa Websérie

O produto audiovisual “Japa Websérie”, criado pelas estudantes, retrata a vivência de descendentes de japoneses em Bauru, falando sobre suas experiências, os preconceitos sofridos e os estereótipos a que estão ligados.

O nome da websérie tem o papel de atuar como crítica ao “apelido” recebido por qualquer asiático amarelo, e também de mostrar ao público, logo de cara, qual assunto será abordado.

A produção foi realizada com visitas a diversos locais que são relacionados à cultura japonesa, como, por exemplo, a Igreja Tenrikyo e o Clube Cultural Nipo Brasileiro de Bauru. Nesses lugares, Nádia e Ingrid contaram a história de diversas pessoas e de como elas se ligam com as tradições do Japão.

Contra os estigmas

Para realizar a websérie, foi necessária uma pesquisa sobre imigração. Durante sua realização, as estudantes se surpreenderam ao se darem conta que o Brasil não foi um bom anfitrião para os japoneses que chegaram.

Por causa do política de branqueamento, os japoneses, que são amarelos, não eram bem vistos como os imigrantes europeus. E depois, quando o país entra na ditadura com um viés nacionalista, a cultura foi muito censurada. Nessa época foi proibido falar japonês ou expressar a cultura em público”, explica Nádia.

Além disso, até hoje, diversos estigmas estão ligados de forma intrínseca aos descendentes, que acabam sempre ouvindo coisas como “todo japonês é bom em matemática” ou “todo japonês é inteligente e organizado”.

Nesse quesito, outro ponto interessante da pesquisa foi descobrir de onde vieram alguns desses estereótipos.

A estrutura no Brasil não era igual a do Japão e por causa da diferença linguística, muitos sofriam bullying. Mas foi interessante saber que essa pode ter sido a origem do estereótipo do ‘japa bom de matemática’. Como a matemática é universal, os imigrantes não tinham dificuldade nesta matéria, mesmo não sabendo português”, conta Nádia.

Em nossa sociedade é importante dar atenção a estes estigmas, já que eles podem afetar psicologicamente as pessoas, porque há uma pressão muito grande para que elas se encaixem nesses padrões. Segundo Nádia “apontar para esses problemas é um primeiro passo para reconhecermos e lidarmos com isso”.

A questão da identidade

Não importa qual ascendência tenhamos, é interessante termos ligações com nossas origens para sabermos de onde viemos.

Tem pessoas que possuem mais ligação e afinidade com a cultura de seus antepassados e outras menos, mas isso não faz com que uma seja menos descendentes que a outra, até porque depende de como a tradição passa de geração em geração na família de cada um.

A série traz essa oposição com Nádia, que teve muitas experiências ligadas à tradição japonesa, e Ingrid, que quase não teve contato com essa cultura.

Esse contraponto foi muito legal na hora de montarmos o roteiro. Tivemos várias discussões interessantes sobre como cada uma entendia os elementos e trouxe uma maior pluralidade de pensamentos”, revela.

Disponível na telinha

Quem ficou curioso para conferir a produção pode ter acesso a todos os episódios da websérie no Youtube!

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