Você pode até não identificar quem é Aleksander Rodrigues de O. Soares, mas todo bauruense o conhece. Ele é responsável por dar vida ao palhaço mais famoso da cidade, o Faisca. E o reconhecimento não é à toa, neste mês de agosto, ele comemora 30 anos de carreira!

Nascido e criado em Bauru, Aleksander idealizou o Faisca ainda quando tinha 12 anos e hoje já soma três décadas de história, sendo, inclusive, apadrinhado pelo palhaço Espirro, da famosa dupla Atchim e Espirro. Em entrevista ao Social Bauru, ele conta um pouco mais sobre o começo da carreira e acontecimentos marcantes durante os anos como palhaço.

– Aleksander, quando e como nasceu o palhaço Faisca?

O palhaço Faisca nasceu dia 18 de agosto de 1990, mais ou menos umas 11 horas da manhã (risos). Tinha um projeto de lazer da Prefeitura de Bauru que acontecia durante todo o dia. De manhã e a tarde era nos bairros e a noite era na praça. Nesse projeto tinha a parte de shows. Dentro desse projeto que acontecia nos bairros, o próprio bairro podia apresentar uma atração, seja de música ou dança, a prefeitura abria este espaço. Como eu fiz, aos nove anos, um laboratório de circo no Circo Palco Livre, aprendi algumas coisas lá e tinha uma bagagem. Quando me mudei para o Bauru XVI, fiquei sabendo que teria esse projeto e a moça da prefeitura, sabendo que eu já tinha feito escola de circo, deu a ideia de montar algo para apresentar pelo bairro.

Eu comecei juntar meus vizinhos, meus sobrinhos, um primo que morava lá na época e ensaiei a galera toda. Foram praticamente 30 dias de ensaio todas as noites, a gente pegava firme mesmo. O pessoal do bairro ia assistir os ensaios, então tinha essa expectativa para a apresentação. Como nós éramos muito simples, eu não usava essa tinta que uso hoje, eu usava Minancora e o blush para dar a cor. No dia em que fomos nos apresentar, quando a pessoa que estava à frente deste projeto nos viu, levou um susto. Lembro dela falando “Eles são horríveis. O prefeito está aqui e eles não vão poder se apresentar, são muito feios”. Essa frase, graças a Deus, não me abalou, mas abalou todo o grupo. Era tudo muito simples, mas nós ficamos lá até acabar o evento e, graças a isso, o Faisca nasceu.

– Vocês conseguiram se apresentar neste dia?

Então, lá fora estavam acontecendo as apresentações e as paquitas estavam no palco. Os shorts de três paquitas rasgaram e elas descerem do palco, que ficou sem atração. A moça do projeto se viu encurralada e como a gente era do bairro ela decidiu deixar a gente se apresentar. Quando ela perguntou o que a gente ia fazer e o nome da atração, eu falei: vamos cantar e se chama Faisca Show. Nos apresentamos e todo mundo cantou as músicas, porque eles estavam acompanhando os ensaios.

O prefeito e o secretário da cultura viu nossa apresentação. Quando eu terminei, desci do palco e fui até minha mãe que estava do lado do prefeito e ele já me abordou para dar parabéns. Eu perguntei “o senhor gostou?”, ele falou “gostei”. Aí o secretário de cultura me cumprimentou e perguntou se eu queria me apresentar nos projetos da prefeitura. Eu falei que teria que pedir para minha mãe, porque era menor de idade. Então eles já conversaram com a minha mãe e ela falou “esse é o sonho dele”.

Algum tempo depois, vendo o sucesso do Faisca, aquela moça que me chamou de horrível se tornou a minha empresária e nós fizemos vários trabalhos juntos. A minha primeira apresentação como contratado pela prefeitura foi na Regional do Redentor. Eu fiz dez shows e quando caiu o meu primeiro cachê, nós compramos tecido e eu procurei uma costureira, que até cinco anos fazia meu figurino, e ela confeccionou meu primeiro figurino. Aí começou o Faisca.

– Desde então você se apresenta em parceria com a Prefeitura?

Isso, hoje eu faço eventos na Prefeitura e também faço eventos particulares. Nesses 30 anos, eu participo dos principais eventos da cidade, como o Viva Bauru, a Casinha do Papai Noel, o Dia das Crianças e algumas inaugurações. Inclusive eu sou um artista, com a figura do palhaço, que mais apresentou uma festa durante muitos anos. Porque apresento o Viva Bauru há 16 anos ininterruptamente, desde o primeiro até o último dia da festa.

– Quando começou, aos 12 anos, era muito novo para pensar no que queria ser. Com a carreira dando certo desde então, hoje, você considera essa sua profissão?

Sim. Desde quando eu comecei, já tinha em mente que eu queria ser artista. Tanto que eu trabalhava em uma farmácia e me recordo que o dono queria que eu estudasse para tocar a farmácia pra ele. Uma certa vez ele falou ‘vamos acabar com essa palhaçada, você vai pegar firme nos estudos, quero que você trabalhe aqui e não vai ter tempo de fazer show’. Então, eu tomei a decisão de pedir as contas, porque o que eu queria era ser artista. Ele foi em casa conversar com a minha mãe e ela me apoiou 100%. Meu patrão acabou entendendo, viu que era o que eu mais amava fazer e acabou me ajudando mais ainda.

– O que mais te encanta em ser palhaço?

É o lúdico e a magia. É saber que mesmo hoje, com todas as informações que as crianças têm, elas ainda acreditam que o palhaço é um personagem real. Teve uma vez que o menino que estava fazendo aniversário me deu o primeiro pedaço de bolo. Ele pediu para que eu comesse o bolo, porque ele era diabético e não podia comer, naquela época não existia opções. Isso ficou marcado para sempre, recebo o carinho das crianças de todas as idades, de zero até 120 anos.

– Depois de três décadas, você passou por várias gerações de crianças, como você mantem a relação com elas?

Eu sempre permaneço naquele palhaço tradicional. Porque mesmo tendo toda essa tecnologia, a criança ainda quer correr, pular, brincar, saltar. Então mesmo tendo todos esses recursos que o mundo virtual oferece, quando chega o palhaço elas querem brincar. Então mantenho essa linha, até porque o meu padrinho fala que não podemos mudar, porque vamos mudar o mundo.

– Mesmo mantendo uma linha tradicional, você renova as piadas e apresentações?

Sim, tem que ir renovando tudo, inclusive as músicas. Eu já tenho cinco músicas próprias com compositores de Bauru. O Cris Castilho, do Sereno, compôs duas músicas e o Leonardo Moura também fez músicas para mim. Tem uma música do Marcos Fiel, maior compositor infantil e um dos Bozos dos anos 80, em que participei. Fizemos um clipe pedindo paz para o mundo junto com grandes palhaços do Brasil. Infelizmente dependemos de recursos e patrocinadores, então ainda não lancei um CD e um DVD, mas é uma ideia que eu tenho.

– Você também fez trabalhos na televisão né?

Fiz TV aqui em Bauru durante 15 anos. Estreei primeiro na TV Com, a atual TVC. Depois eu fui pra TV Prevê. Hoje tenho meus programas sendo reprisados na TV FIB.

– Todos os momentos são de alegria ou você já passou por alguma dificuldade na carreira?

Já tive momentos tristes e até preconceitos. Como eu sou negro e o palhaço Faisca tinha o rosto branco, hoje eu uso uma base mais creme, mas antigamente tinha muita gente que achava que o Faisca era branco. Uma vez fui me apresentar em uma casa e a dona da festa assustou porque eu era negro e ela não sabia. Eu fiquei meio assim, mas quis fazer a apresentação, porque a criança está esperando o personagem, ela não está esperando um homem. Então eu me troquei no banheiro de um bar ao lado da casa dela.

Essa foi uma das fases complicadas que eu vivi na minha carreira. Também quando minha mãe faleceu, porque no dia depois que ela foi sepultada eu estava trazendo a Galinha Pintadinha pela primeira vez para Bauru. Eu tinha três shows para apresentar, foi muito difícil, mas mesmo com o coração doendo eu subi ao palco.

– Falando sobre as coisas boas, você ganhou um título também, certo?

Há cinco anos, foi escolhido um artista de cada estado para ser o embaixador da animação infantil pelo ENAI (Encontro Nacional de Animadores Infantis). Pelo trabalho que a pessoa tem realizado, pelo comprometimento com o público infantil e pelo tempo de carreira, eles escolheram os embaixadores da animação. Foi uma homenagem que me deixou muito feliz. Eles fizeram contato perguntando do palhaço Faisca, se teria disponibilidade para participar da convenção em um único dia com a oportunidade de falar sobre o trabalho. Era lá em São Paulo. Foi em 2017, quando eu cheguei lá, na verdade, era para receber o título de embaixador da animação infantil pelo estado de São Paulo. Foi uma surpresa maravilhosa.

Também já recebi duas moções de aplauso. A primeira em 2015, por sugestão do vereador Markinho da Diversidade, pelos 25 anos de carreira. A segunda foi por iniciativa da vereadora Chiara Ranieri pelos 27 anos de carreira. Também foi um grande reconhecimento.

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