Com o passar dos anos, as mulheres estão, cada vez mais, inseridas no mercado de trabalho. E, apesar de terem uma carga dobrada, já que os cuidados com a casa e com a família ainda são atribuídos a elas, conquistar um cargo é uma forma de trilhar uma carreira de sucesso e adquirir independência financeira

Contudo, quem nunca se deparou com regras, gestões, salários e tratos que diminuíssem mulheres dentro de uma companhia? Com essa realidade ainda presente em muitos espaços, o número de mulheres abrindo seus próprios negócios tem crescido exponencialmente.

Dados da pesquisa da Global Entrepreneurship Monitor, conduzida pelo Sebrae em 2019, mostram que o país tem aproximadamente 24 milhões de mulheres empreendedoras. Ainda de acordo com a entidade, elas são responsáveis por 34% dos empreendimentos criados no Brasil em 2018.

Dessa forma, a ONU criou, em 2014, o Dia do Empreendedorismo Feminino, comemorado nesta quinta (19). A data surgiu com o objetivo de incentivar e valorizar a abertura de negócios por mulheres, mostrando seu impacto no crescimento econômico regional. 

Para entender quais as dificuldades e vantagens de ser uma empreendedora, conversamos com a publicitária Lais Flores, com a designer e gestora de comunicação Bruna Ciafrei, com a proprietária da Bárbara Boutique, Fabiana Neuber e com as irmãs Daniele Camargo e Vânia Camargo, proprietárias da autoescola Sem Limites, em Bauru.

Enfrentando líderes

O empreendedorismo feminino diz respeito a negócios que são criados e geridos por mulheres. Porém, o conceito também abrange a liderança feminina, mudança que tem sido incentivada e vem crescendo dentro de grandes empresas. 

Essa nova estrutura é uma conquista, uma vez que, quando há uma liderança masculina, além da disparidade de salários – no ano passado, homens tinham salários 47,24% maiores que mulheres -, funcionárias ficam suscetíveis a assédios morais e sexuais. 

“Durante a minha vida, todos os meu líderes sempre foram homens. Isso significa um ambiente bem complicado; primeiro porque muitas vezes não somos levadas a sério. Segundo que os homens se sentem no direito de, além de nos tratar como pessoas submissas, também nos assediarem sexualmente”, pontua Lais.

Experiência colocada à prova

Ainda, dentro de situações constrangedoras às quais uma liderança masculina pode expor uma mulher, está o desdém. Ele está presente em ações como ignorar sugestões, descartar propostas e até duvidar da capacidade de uma funcionária apenas por ser uma mulher

“Eu tinha três sócios homens e passei por situações em que não poderia fazer reuniões se eles não estivessem presentes. Eu não era levada a sério, mesmo sendo uma das proprietárias da empresa. Infelizmente, o homem ainda passa muito mais credibilidade que a mulher”, relata Lais. 

Bruna, que é sócia em uma empresa de tecnologia, relata um de seus desafios de liderar ao lado de dois homens mais velhos que ela: ter sua autoridade reconhecida. 

“Meu trabalho já foi questionado indiretamente, no quesito responsabilidade. A sensação que eu tenho, na linha de frente de uma empresa, é que eu não consigo passar uma autoridade ideal para que as minhas ideias sejam contempladas. Então, existe muito boicote”, pontua a gestora de comunicação. 

mulheres à frente de empresas - Dia do Empreendedorismo Feminino

Por conta disso, Lais relembra que, para serem ouvidas no ambiente corporativo, muitas mulheres recorrem a uma postura ostensiva, que ainda pode ser interpretada como grosseria ou histeria.

“Eu sinto até dentro da minha própria empresa, que, por eu ser mulher, ninguém me escuta. Quando eu coloco o meu gestor de projetos, que é homem, para falar a mesma coisa aí a equipe escuta. Parece que a mulher para ser ouvida precisa gritar ou ser rude”, descreve.

Desafios de gerir um negócio

Além disso, Fabiana Neuber, que atua no segmento de festas e casamentos, destaca uma questão importante do empreendedorismo: a falta de suporte. 

Ser empreendedor é um desafio constante. O apoio da família é muito importante, mas realmente sinto falta de apoio de órgãos do governo, instituições financeiras, etc. No entanto, não posso deixar de ressaltar que o Sebrae faz um trabalho muito importante apoiando os pequenos empresários. Porém, ainda não é suficiente”, comenta a empresária

mulheres à frente de empresas - Dia do Empreendedorismo Feminino

Apesar dos sacrifícios que a função exige, Fabiana afirma que, ainda assim, empreender é muito gratificante. Sobre a melhor parte de gerir o próprio negócio, ela é pontual: “A liberdade de criar e colocar os sonhos em prática”. 

Empoderando outras mulheres 

Você já parou para pensar que mulheres empreendendo também inspiram outras mulheres? Esse é o caso das irmãs Daniele Camargo e Vânia Camargo, proprietárias da autoescola Sem Limites em Bauru. Elas conta que foram motivadas a empreender por Luiza Helena Trajano, empresária que comanda a rede de lojas de varejo Magazine Luiza.    

mulheres à frente de empresas - Dia do Empreendedorismo Feminino

Ainda, as empreendedoras consideram que ter mulheres à frente de negócios permite uma expansão de ideias e opiniões nos ambientes de trabalho. Para além de conquistas no âmbito pessoal, isso também possibilita a criação de espaços saudáveis para outras mulheres.

“É importante incentivar mulheres a empreenderem porque juntas somos mais fortes. Então, se nos unirmos nessa liderança feminina em empresas, as nossas relações interpessoais e profissionais serão muito mais fortalecidas e ouvidas. Teremos mais força na argumentação e defesa de ideias, na autoridade que geramos com nossas falas, com o nosso posicionamento”, reflete Bruna. 

Ainda, esse posicionamento também inspira outras mulheres a confiarem que são capazes de apostar em um negócio próprio e construírem suas próprias histórias. 

“Hoje, dentro da minha empresa, eu tenho 13 funcionários e apenas três são homens. E eu não pretendo ter mais (risos). Isso não tem a ver com competência, mas para mim, a potência é a mulher. Elas foram reprimidas por tanto tempo que têm muito para mostrar. A gente sofre pressão, sofre burnout, sofre um milhão de coisas e só queremos ser vistas e mostrar que a gente é competente e que merecemos mais que um salário baixo e um ‘parabéns’. Se depender de mim, minha empresa estará recheada de girl power e mulheres dominando o mundo”, finaliza Lais. 

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