Desde sua criação como projeto de extensão da Unesp, em 2004, o Biblioteca Falada tem o objetivo de produzir conteúdo acessível para pessoas com deficiência visual.

Os participantes do projeto transformam livros, jornais e outros formatos impressos ou digitais para áudio e também realizam a audiodescrição de fotos, desenhos, filmes, novelas, videoclipes e produtos audiovisuais.

No entanto, ao frequentar o Lar Escola Santa Luzia para Cegos de Bauru para atender os pedidos das pessoas que fazem parte da entidade, os voluntários acabaram percebendo outro tipo de demanda.

Em 2019, o Lar começou um projeto para promover maior autonomia de seus alunos na locomoção pelos espaços públicos, realizando trajetos e treinando percursos com os cegos.

Entretanto, depois de um tempo, os alunos começaram a comentar que conseguiam percorrer Bauru sozinhos, mas que desejavam realmente conhecer os lugares e saber como eles são.

Eles queriam aquele tipo de informação visual, saber como era o prédio, a praça, o calçamento e o paisagismo”, conta Guilherme Magalhães, estudante de Relações Públicas que faz parte do Biblioteca Falada.

Assim, os participantes do projeto tiveram a ideia de produzir o aplicativo “Siga: mapa acessível de Bauru”, uma ferramenta com áudios e descrições espaciais e históricas sobre os principais pontos da cidade.

Siga: mapa acessível

Assim como qualquer outro aplicativo de mapa, o “Siga” mostrará um plano da cidade, com suas diferentes localidades.

Como diferencial, cada lugar terá dois áudios disponibilizados: um com informações sobre serviços, fatos históricos e curiosidades e outro, com a audiodescrição do espaço, ou seja, uma mídia sonora que descreve detalhadamente a aparência do local.

O intuito é o mesmo que o projeto Biblioteca Falada sempre teve, contribuir para ampliação e formação do repertório da pessoa com deficiência visual. Isso porque devemos ter a compreensão de que o acesso à informação e à comunicação é um direito de todos. Então, é necessário prover conteúdos e torná-los acessíveis. O mapa sonoro mantém esse propósito. Queremos oferecer e viabilizar informações sobre a cidade para as pessoas com deficiência visual que vivem aqui. Assim, damos elementos para que ela atue, viva e usufrua a cidade de maneira autônoma, independente, de acordo com aquilo que ela quer e como ela quer”, explica a coordenadora do projeto, Suely Maciel.

80 pontos acessíveis e muito mais vindo por aí

Os áudios sobre a história dos lugares escolhidos já estão prontos, mas as audiodescrições do app estão sendo feitas somente em locais ao ar livre por enquanto, devido às medidas de prevenção à Covid-19.

Além disso, nessa primeira fase de produção, estiveram em foco dois principais eixos da cidade: a Avenida Nações Unidas e a Avenida Rodrigues Alves.

Só nessas localizações, foram selecionados cerca de 80 pontos de interesse. Alguns deles estão no infográfico abaixo:

mapa acessível
Infográfico: Anne Hernandes

No geral, todos os prédios públicos, rodoviárias, shoppings e igrejas vão estar presentes também”,  acrescenta Guilherme.

E ainda serão explorados mais eixos de Bauru, como, por exemplo, a Alameda Dr. Otávio Brisolla e a Avenida Getúlio Vargas.

Ferramenta inovadora

Apesar de existirem iniciativas parecidas com a do “Siga” em outras cidades, Guilherme conta que nada igual foi produzido até o momento.

Depois que coletamos a demanda deles [alunos do Lar] de conhecer mais Bauru, pesquisamos como isso estava sendo feito em outros lugares e que tipo de aplicativo existia. Vimos que existem outras ferramentas, como, por exemplo, o AudioLab Geo, desenvolvido no Rio de Janeiro, que funciona de maneira muito semelhante, trazendo áudios históricos dos lugares e pegando os pontos mais turísticos. Tem um europeu, chamado Blind Explorer, que também propicia esse tipo de navegação para pessoas com deficiência visual. Mas nada da forma como a gente está trazendo aqui, aliando as informações de serviço e gerais, história, e audiodescrição. Isso é uma coisa nova que estamos criando”.

O aplicativo está sendo totalmente desenvolvido por estudantes dos cursos de Jornalismo, Relações Públicas e Ciência da Computação da Unesp-Bauru.

Além disso, a produção está sendo orientada por professores, que estão ajudando na pesquisa das informações, e consultores, pessoas com deficiência visual que tem formação em audiodescrição e checam se os áudios para o app estão cumprindo seu propósito.

Planos para o futuro

A previsão de estreia da primeira versão do app é entre 15 e 20 de janeiro para smartphones com o sistema Android.

Mas, apesar do lançamento não ter sido realizado ainda, Suely já conta que possui planos maiores para o aplicativo:

Temos a intenção de criar também um sistema que permita traçar rotas e orientar deslocamentos e, futuramente, ampliar esse mapa para o Brasil. Buscar prefeituras e até inserir descrições já existentes, de maneira a permitir que as pessoas acessem o aplicativo e vejam vários pontos de diversos lugares do país, começando por Bauru”, conta.

Assim, para ficar de olho em todas as novidades, acompanhe o Biblioteca Falada no Instagram e Facebook.

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