No último sábado, 30 de janeiro, foi comemorado o Dia Nacional dos Quadrinhos.

A ocasião, que passou a ser celebrada em 1984, comemora o dia em que foi publicada a primeira história em quadrinhos brasileira “As Aventuras de Nhô-Quim ou Impressões de uma Viagem à Corte”, do cartunista Angelo Agostini.

Desse modo, para não deixar a data passar em branco, a equipe do Social Bauru entrevistou quatro quadrinistas que fazem parte da história da cidade para contar como eles se apaixonaram por este universo.

Uma porta de entrada na leitura

Conhecidos também como HQ ‘s, os quadrinhos contam as histórias por meio de quadros sequenciais, unindo elementos textuais com imagens. Por ter essa forma mais dinâmica de leitura, esse gênero acaba se tornando uma grande porta de entrada para as crianças na literatura.

Esse foi o caso do ilustrador e fotógrafo Fernando Hideki Miyabara que é formado em Design pelo UNISAGRADO.

Fernando, que não era muito fã dos livros, mas que sempre adorou desenhos, ingressou no mundo da leitura graças aos quadrinhos.

Comecei com a Turma da Mônica e com o passar do tempo fui me aventurando mais nesse mundo, com os mangás (quadrinhos japoneses) e as HQ ‘s da Marvel e DC”, revela.

Além disso, outra característica que fez Fernando se apaixonar pelos quadrinhos foi a possibilidade de conhecer novas realidades através deles. Segundo o ilustrador, as histórias são uma forma de “conhecer costumes, culturas e locais que não se conhece ou que só existem no mundo das HQ’s”.

De acordo com ele, todo esse estímulo de conhecer novos lugares e personagens fantásticos, é enriquecedor para a imaginação de qualquer pessoa.

Mergulhando nesse universo

Quem concorda com Fernando é Gleisson Cipriano, formado em Design pela Unesp-Bauru em 2017.

Segundo ele, a forma de leitura dos quadrinhos é dinâmica e participativa, por isso é tão envolvente e diferente dos outros gêneros.

Assim, duas grandes influências durante a alfabetização de Gleisson foram as histórias da Turma da Mônica e do Ziraldo (autor responsável pela criação do Menino Maluquinho e da Turma do Pererê).

Depois disso, ao perceber que a maioria dos seus desenhos favoritos que passavam na TV eram provenientes também desse gênero literário, o ilustrador mergulhou mais a fundo nesse universo.

Para se tornar quadrinista independente e professor de artes, Gleisson trilhou uma trajetória repleta de cursos e especializações que lhe deram o conhecimento para seguir nessa área que tanto ama.

Em 2014 fiz uma oficina sobre o tema com o artista Camilo Solano. Alguns meses depois, tive a oportunidade de fazer matérias relacionadas ao assunto durante intercâmbio para os Estados Unidos na Savannah College of Arts and Design (SCAD). Na volta desta experiência, comecei a assistir e desenvolver oficinas e palestras no coletivo/grupo de estudos GAS, formado por estudantes da UNESP de Bauru. Este período, entre 2015 e 2017, foi o de maior desenvolvimento, com muita produção prática, tentativa, erro e feedback. Recentemente finalizei o curso de História em Quadrinhos da Quanta Academia de Artes, que ajudou muito com todas as informações mais técnicas que não tive acesso durante a graduação em Design” conta.

Passando a paixão adiante

O artista visual Guilherme Massau também teve seu primeiro contato com as HQ’s durante a infância. Quando era criança ele já era apaixonado por arte e acabou herdando de seu tio uma coleção de 2 mil quadrinhos.

Não satisfeito em guardar essa paixão para si, Guilherme a passou para seu primo e os dois começaram a criar suas próprias histórias aos oito anos.

Atualmente, o artista visual atua como professor e continua passando adiante seu amor pelas HQ’s e ajudando novas pessoas a ingressar nesse mundo fantástico.

Ele foi o responsável pela criação do coletivo Caneca HQ,  que surgiu a partir de um curso que ministrou com o apoio da Prefeitura de Bauru em 2017.

O coletivo, que hoje tem como membros Guilherme, Fernando Hideki e Mbona Paulo, é uma maneira de divulgar seus trabalhos autorais, produzir ilustrações para livros e também organizar novos cursos.


Lançamento dos quadrinhos "Narrativas" do Caneca HQ na Biblioteca Municipal

Bauru e o futuro dos quadrinhos

Sobre a produção artística na cidade, os quadrinistas entrevistados entram em consenso quando falam que apesar da dificuldade de reconhecimento enfrentada pelos profissionais de arte, as histórias em quadrinhos são algo cada vez mais forte por aqui.

Isso acontece porque a internet abre espaço para que novas pessoas conheçam os quadrinhos.

Assim, a produção independente é grande em Bauru, apesar de muitos ilustradores terem outras atividades para se manter enquanto colocam em prática sua paixão pelas HQ’s.

Para o quadrinista e designer bauruense Renato Quirino, que começou a produzir por conta própria suas histórias, a prática e o desenvolvimento contínuo são os melhores amigos de quem está começando na área.

Dessa maneira, como dica para iniciar nesse mundo, ele recomenda: “Comece! Não espere saber tudo. Escreva, leia, desenhe, amasse tudo e comece de novo. Publique na internet e converse com outros artistas”.

Com o mesmo raciocínio, Gleisson completa: “é cometendo os erros que se aprende. As recompensas de errar e se expor costumam ser muito mais elevadas do que as de se esperar pela hora de certa. Então, faça seus quadrinhos do melhor jeito que conseguir no momento, mostre para as pessoas e entenda o que você realmente vai precisar estudar e aprimorar dali em diante”.

Indicações de leitura

Para finalizar este texto não poderiam faltar indicações de leitura, certo?

Assim, como maneira de fomentar e valorizar as produções da cidade, as indicações, claro, são das obras de nossos entrevistados.

Renato Quirino

  • “Aokigahara” – com roteiro de André Turtelli Poles, a história fala sobre a floresta dos suicidas do Japão.

 

Coletivo Caneca HQ

As obras contém uma história de cada membro do Caneca HQ, assim tem temáticas variadas dentro de cada uma.
Enquanto Guilherme produz histórias com dramas mais intimistas misturados à fantasia, Fernando traz ficções que envolvem heróis e também sentimentos como a desilusão amorosa.

  • “Narrativas”
  • “Zine Baú 0”
  • “Zine Baú 1

Gleisson Cipriano

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  • “Caçada Azul – indicada ao prêmio HQMix, situada no mesmo universo de animais detetives, narra o último dia de trabalho de um veterano perseguindo uma gangue de animais marginais.

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