Atualmente em Bauru, quatro dos 44 patrimônios tombados são igrejas, assim, é possível identificar que a religião é uma parte importante da nossa história.

Segundo dados do IBGE, hoje encontramos por aqui a expressão de três principais religiões: católica (46,8%), evangélica (28,3%) e espírita (3,5%).

Esse panorama, com predomínio da religião católica, pode ser explicado a partir das origens da cidade. Isso porque em sua história há influências fortes da colonização e da imigração principalmente espanhola, italiana e portuguesa, que veio para Bauru entre os séculos XIX e XX para suprir a necessidade de mão-de-obra agrícola.

Buscando saber mais sobre o assunto e contar para vocês quais foram as primeiras instalações religiosas da cidade, a equipe do Social Bauru fez uma pesquisa.

Com a ajuda da historiadora Fabiana Ferreira Rocha, chefe de seção do Museu Histórico Municipal de Bauru, foi realizado um levantamento de documentos e registros presentes no acervo da instituição.

É importante salientar que as igrejas que falaremos aqui são as que estão presentes nos documentos da cidade, mas é possível que haja instalações mais antigas ou locais de outras matrizes religiosas que não foram registrados.

Segundo Fabiana isso pode acontecer pois os registros da época e documentos oficiais eram produzidos em sua maioria pela Igreja Católica.

Primeira instalação religiosa registrada

Nos primórdios da história de Bauru, nossa cidade fazia parte do território do distrito de Espírito Santo da Fortaleza.

De acordo com o documento oficial “Primeiros Tempos de Nossa Bauru”, foi por volta de 1856 que Felicíssimo Antônio de Souza Pereira e Antônio Teixeira do Espírito Santo se estabeleceram nesta região e começaram a povoar o que mais para frente virou o território bauruense.

Por volta desse período, segundo a pesquisa realizada por Fabiana, surge a primeira instalação religiosa presente nos registros da cidade, a capela do Espírito Santo de Piatã, construída em 1890.

Essa capela de 1890 era feita de tábuas de madeira rejuntadas e taipa, mas não ficava na região que compreende Bauru hoje, e sim na região de Piatã”, explica a historiadora.


Foto: Site Bauru Projeto

Capelinha do Divino Espírito Santo

Sabe a Catedral do Divino Espírito Santo que existe hoje na praça Rui Barbosa? Ela tem muita história para contar.

Isso porque ela foi criada em 1894 quando o Felicíssimo Antônio, moço já citado ali em cima, doou a terra, que corresponde hoje à região da praça Rui Barbosa, para construir uma capela.

Desse modo, feita com taipa e pilares de aroeira, a capela do Divino Espírito Santo foi concluída em 1897, mas a história desta instalação não para por aí, já que é repleta de reviravoltas.


Região da Praça Rui Barbosa e primeira capela do Divino Espírito Santo. Foto: Acervo do Museu Histórico Municipal de Bauru

Bauru excomungada

Na década de 1910, a região que comporta a praça Rui Barbosa era conhecida como Saara, devido ao seu solo arenoso e ao calor de Bauru. Nessa época, a existência da capela no local começou a dividir opiniões.

Enquanto o poder público exigia a área da capela para a urbanização da região central, os religiosos de Bauru e da diocese de Botucatu defendiam a permanência da estrutura. Depois de muito tempo da discussão, sem um consenso estabelecido, a capelinha foi demolida por moradores na calada da noite do dia 13 de agosto de 1913.

Isso gerou um grande descontentamento de Dom Lúcio Antunes de Souza, o então bispo da diocese de Botucatu, que excomungou nossa cidade e a condenou ao interdito, ou seja, à proibição da realização de quaisquer cerimônias e atos sacramentais em Bauru.

Em 1915, a partir de uma verba oferecida pela prefeitura, foi construída a Igreja Matriz Divino Espírito Santo em estilo neogótico com torre e sino.


Igreja Matriz em construção. Foto: Acervo do Museu Histórico Municipal de Bauru

Ao centro, a Igreja Matriz pronta. Foto: Acervo do Museu Histórico Municipal de Bauru

No entanto, no ano de 1955, em que Bauru ainda permanecia sob o interdito, a igreja foi novamente demolida para construir a que conhecemos hoje como Catedral do Divino Espírito Santo, datada de 1964 e edificada utilizando princípios da arquitetura moderna.

Embora tenha caído em esquecimento popular, a proibição da celebração de atos sacramentais só foi retirada em 1977, pelo papa Paulo VI que concedeu o perdão oficial à nossa cidade.

Até hoje o espaço antes ocupado pela primeira capelinha possui demarcação a partir de uma faixa branca presente no solo da praça Rui Barbosa.

igreja matriz
Catedral do Divino Espírito Santo nos dias atuais.  Foto: 94 fm

Santuário Nossa Senhora Aparecida

Durante o século XIX, era comum que fossem realizadas doações de terras para a construção de instituições religiosas. Portanto, foi a partir de um lote de terra oferecido por Antônio Teixeira do Espírito Santo, que começou a história do Santuário de Nossa Senhora de Aparecida.

Dentro dessa terra, no ano de 1898, José Lopes Souza, conhecido como Zé Candinho, construiu uma capela chamada Nossa Senhora Aparecida. Apesar de ter sido edificada em praça pública, inicialmente, ela não era usada como igreja, pois o bispo de São Paulo a considerava como sendo particular.

Foi com a chegada do Padre João Van Del Hust, missionário do Sagrado Coração, vindo de Pirajuí em 1931, que a situação mudou, já que a evangelização na cidade tomou mais força.

O sacerdote foi responsável pela idealização de diversas instituições religiosas em Bauru. No ano de 1934, ele construiu, em uma praça da cidade, um templo em louvor a Santa Teresinha e logo depois idealizou uma nova igreja para homenagear Nossa Senhora Aparecida.

Então, a capela de 1898 foi demolida e o padre começou a construção em um novo local, na Praça Washington Luiz, no dia 1 de dezembro de 1937, utilizando fundos angariados a partir de quermesses realizadas com a ajuda de moradores da região.

Com as contribuições arrecadadas, a Igreja Nossa Senhora Aparecida teve sua inauguração oficial em 30 de maio de 1942, mesmo sem estar totalmente concluída.

Atualmente o santuário possui um carrilhão de sete sinos que é patrimônio histórico cultural da cidade.

igreja nossa senhora aparecida
Igreja Nossa Senhora Aparecida antes e depois. Fotos: Acervo do Museu Histórico Municipal de Bauru e Mapio.net

Igreja Santa Teresinha do Menino Jesus

Como citado, a Igreja Santa Teresinha do Menino Jesus também foi idealizada pelo Padre João Van Del Hust.
Inspirada na planta do arquiteto holandês João Stiit, a construção teve início em outubro de 1931 e foi inaugurada em 15 de novembro de 1934.

Localizada na Praça Rodrigues de Abreu, no centro da cidade, a instituição religiosa foi construída com o intuito de ser a maior igreja católica de Bauru, de acordo com dados do Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural (Codepac).

igreja santa terezinha
Construção da Igreja Santa Teresinha. Foto: Bauru que não vivi

Dessa forma, a construção é maior que a própria matriz na praça Rui Barbosa, sendo uma edificação de marco visual para a cidade.

Sua arquitetura tem influências neogóticas e sua planta ainda guarda todas as características originais com espaços internos grandes, arcos ogivais e pé direito alto.

De acordo com a historiadora Fabiana Ferreira, a igreja, que é um bem tombado, conta com uma torre de 40 metros e com um relógio que foi doado pela colônia portuguesa.


Igreja Santa Teresinha concluída, como está nos dias atuais. Foto: Acervo do Museu Histórico Municipal de Bauru

Igreja Presbiteriana Independente

Com 102 anos de fundação oficial, a primeira Igreja Presbiteriana Independente de Bauru teve seu templo original erguido na Rua Antônio Alves no ano de 1922.

Posteriormente, a sede mudou para a esquina das ruas Treze de Maio e Cussy Junior. Só depois foi para o prédio atual, construído na década de 1940, na esquina das ruas Agenor Meira e Cussy Junior, onde permanece.

A igreja a qual nos referimos é a sede-mãe, que deu origem a quatro sub-sedes localizadas no Jardim Bela Vista, Parque Vista Alegre, Vila Falcão e Parque Jaraguá.

A instituição religiosa possui uma arquitetura neogótica simétrica, rica em detalhes e possui uma torre que pode ser avistada de longe. O local é também patrimônio histórico cultural da cidade.


Primeira Igreja Presbiteriana Independente de Bauru antes e depois. Fotos: Acervo do Museu Histórico Municipal de Bauru e Priscila Medeiros

Igreja Santo Antônio

A Igreja Santo Antônio, situada na Rua Santo Antônio no Jardim Bela Vista, teve seu surgimento a partir de uma capela inaugurada em 1940 pelo bispo diocesano Dom Luiz de Sant’ana.

Depois desta inauguração, todas às terças-feiras, os padres missionários do Sagrado Coração de Jesus vinham da Paróquia São Benedito na Vila Falcão (que hoje não existe mais) para comemorar missas em homenagem a Santo Antônio na capela. Os franciscanos continuaram esta tradição quando chegaram aqui na cidade em 1951.

Em 1955 o bispo diocesano de Botucatu, Dom Henrique Golland Trindade, promulgou o decreto de criação da Paróquia Santo Antônio que passou a ser desvinculada das paróquias de São Benedito da Vila Falcão e de Nossa Senhora Aparecida.

Assim, na década de 60, a igreja foi demolida para a construção de uma nova estrutura no mesmo local, que corresponde à que conhecemos hoje.

igreja santo antonio
Primeira Igreja Santo Antônio e a atual, que foi construída posteriormente no mesmo local. Foto: Site Franciscanos
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