Você já ouviu falar sobre os instapoemas? Se ainda não ouviu, você com certeza já deve ter se deparado com algum enquanto navegava pela sua rede social.

Os instapoemas, como o próprio nome diz, são formatos de poemas para o Instagram, que aderem à linguagem desta rede.

Um exemplo de instapoeta que fez grande sucesso é a indiana Rupi Kaur que começou escrevendo no Instagram e posteriormente lançou diversos livros.

Conhecendo o mundo da instapoesia

De acordo com Genaro Magri, músico e poeta de Bauru, a decisão de trazer a poesia para o Instagram está ligada às mudanças que a internet trouxe para a vida das pessoas.

Já que as redes sociais trazem uma nova linguagem e características de instantaneidade, o modo de consumo de arte e obras literárias foi uma das áreas que sofreu alterações neste mundo conectado em que vivemos.

A maneira de consumir está mudando muito. Hoje em dia todo mundo está no Instagram e acho que as pessoas lêem mais pela internet do que lêem livros físicos. Assim como a música que antes as pessoas escutavam por meio de discos e CDs e hoje está tudo no Youtube e Spotify. Então é um modo de adaptação a como o mundo está consumindo as artes. Acho que isso também faz com que a escrita se torne mais democrática, porque quando algo está na internet, qualquer pessoa pode ter acesso”, explica.

Genaro, que começou a escrever desde que era criança, como uma forma de entender o mundo e expressar seus sentimentos e inquietações, criou um perfil para seus textos em 2018.

O perfil chamado @planejandoobvio traz “textos com reflexões sobre relacionamentos, o tempo, a existência e a incompreensão das coisas, sobre a vida cotidiana e como ela é, porque isso é algo que me encanta muito”, conta o músico.

Homenageando pessoas

A bauruense Keila Moraes de Souza, conhecida carinhosamente como Keilinha, também começou a escrever quando era criança.

Ela desenvolveu o amor pela escrita logo cedo, quando escrevia em seus diários como forma de expressar o que estava sentindo. Posteriormente, Keila se encontrou na arte da poesia, já que esta é repleta de sentimentos e inspiração.

Há seis anos acordei no meio da noite e comecei a escrever um poema sobre perdão. Eu escrevi todo o poema em menos de dez minutos, guardei e dormi novamente. No outro dia, quando acordei, fiquei maravilhada com o que havia escrito, achei até que fosse uma letra de música. Mostrei apenas para minha mãe e minha irmã. Depois de um tempo, escrevi mais dois poemas, também sobre perdão, que foram guardados juntos com o primeiro”, conta sobre o início de sua trajetória poética.

Em 2020, no início da pandemia, a bauruense decidiu criar um perfil no Instagram para levar essas poesias para mais gente, como forma de aconchego para as pessoas neste momento difícil.

O primeiro poema que postei foi ‘Coronavírus, um alerta!’. Depois disso, vieram muitos outros e também o desejo de abraçar as pessoas de uma maneira mais forte. Então comecei a abrir a caixinha de perguntas dos stories, para quem quisesse escrever sobre si em poucas palavras. Depois eu escolhia algumas pessoas e as presenteava com um poema inspirado no que ela disse. Recebi muitas mensagens de pessoas que estavam tristes, deprimidas, ansiosas, que encontraram alegria para seguir através dos poemas que receberam”, revela.

A partir disso, Keilinha teve a ideia de realizar homenagens para pessoas por meio de seus poemas, contando sua história de vida e gravando vídeos declamando as poesias. Hoje, entre homenagens e outros temas, somente em seu perfil são 644 poemas, que a bauruense deseja futuramente reunir em um livro.

Espalhando o amor

A musicista Isabel Balderramas sempre gostou de contar histórias, inventar aventuras e passar tudo isso para o caderno. Assim, aos oito anos, idade em que decidiu aprender a tocar violão, a bauruense decidiu unir as histórias que criava com melodias.

As poesias propriamente ditas surgiram durante sua adolescência, mas a coragem de recitá-las nos palcos é recente e aconteceu pela primeira vez em 2019.

Como amante da poesia, Isabel achava em suas redes sociais uma fonte grande de boas leituras e referências, então acabou tendo a ideia de divulgar seus próprios poemas no Instagram a fim de dividi-los com mais pessoas.

Eu sentia que estava sendo egoísta quando escrevia algo que me tocava profundamente e escondia. Então o Instagram foi a forma que encontrei de compartilhar. Acredito que as redes sociais possibilitam o compartilhamento da arte autoral, aumentando o espaço e diversidade das obras. Para aqueles que se interessam, o conteúdo é vasto! E falando sobre interesse, quando a poesia era encontrada apenas em livros, muito provavelmente, somente aqueles que gostavam do gênero teriam contato com ela”, elucida.

As poesias de Isabel falam sobre a forma que ela enxerga suas próprias experiências e a daqueles a sua volta, sobre o amor e a busca incansável de vivê-lo.

O amor traz vida, é como um balanço em um terreno baldio. De um lugar vazio ou cheio de mato e entulhos, para um lugar de alegria, diversão, onde se pode ouvir risos de crianças. Desde então, escrevo para espalhar balanços em terrenos baldios. O amor é a minha inspiração!”, afirma.

Demonstrando o gostar

Também foi por meio da vontade de demonstrar sentimentos e emoções que a estudante Lara Magalhães de Faria começou a escrever poesias em 2017.

A bauruense conta que começou a escrever para expressar seu carinho por alguém que foi muito importante para ela naquela época.

Primeiro, Lara criou um blog para não perder os textos, depois, em 2018, quando participou de um show de talentos de sua escola, começou a ter vontade de compartilhá-los com outras pessoas.

Nesse evento, eu li um dos textos que eu mais gostava na época e percebi que tinha capacidade e vontade de compartilhar meus poemas. Então fui amadurecendo a ideia, falei com uma amiga que faz as artes do Instagram pra ela me ajudar. Desse modo, em maio de 2020 criei meu perfil, dessa vez não só pra guardar minhas produções, mas também para mostrar para as pessoas, para que elas possam se identificar com os textos”, explica.

Desde então, o perfil de textos de Lara, @oquepoderiamostersido, possui produções que falam sobre pessoas que passaram em sua vida, assuntos políticos, sexualidade e outras questões que marcaram sua trajetória.

Do tradicional ao online

A internet não somente abre espaço para novos poetas, mas também para aqueles que já são grandes mestres na arte da poesia, como é o caso de Luiz Vitor Martinello, que começou a escrever seus poemas na década de 60.

O poeta começou seu contato com literatura quando cursava o seminário de padres em Pirassununga. Entre os professores, o padre Humberto Capobianco foi o responsável por introduzir os alunos à poesia.

Ele sensibilizava os alunos para a magia da palavra bem escrita, notadamente a poesia. Foi por conta dessa atmosfera literária que desenvolvi um gosto especial pelos versos, principalmente quando conheci e me deslumbrei com três poetas: Bandeira, Drummond e Quintana. De quebra, Cassiano Ricardo. Através deles descobri (ainda naqueles tempos de seminário) que para fazer poesia não era mais obrigatória a rima, a palavra dourada e o verso decassílabo. Devo dizer que cultivávamos a frase de efeito, os sonetos parnasianos, as belas metáforas românticas. No entanto, a descoberta dos modernistas abriu-me os olhos para outro tipo de poesia, em que os elementos básicos são a ironia, o humor, o coloquial, a fragmentação. E muito cotidiano”, revela Vitor.

O primeiro livro do autor foi lançado em 1978, com o nome “Mãos nos bolsos”. Depois vieram diversas outras obras.

Atualmente, com a ajuda de Thiago Augusto Corrêa, que modera seu Instagram, Luiz Vitor começou a divulgar suas obras por meio da rede, além de desenvolver novos formatos que se adaptam à linguagem da internet.

As redes sociais abrangem um maior público em potencial. As poesias ilustradas são uma adequação a esses novos tempos, unindo a imagem ao texto, atraindo leitores antigos e também novos. É uma nova linguagem para destacar a grande poesia do Vitor”, explica Thiago.

Portanto, a poesia que antes era vista como difícil ou elitista, tem migrado para o ambiente virtual em formato de pílulas poéticas, desmistificando essa visão e alcançando mais leitores.

Contudo, Vitor alerta que ainda há uma certa limitação de divulgação, já que são sempre as mesmas pessoas a acessarem seu perfil.

Apesar disso, Thiago afirma “perfis desse estilo em Bauru são importantes para que reconheçamos nossa literatura local. Há muita qualidade literária na cidade e, como leitores, temos de consumi-la também”.

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