No início de 2020, antes do rolo compressor que nos atropelou ter iniciado sua marcha, fui convidado por uma instituição que produz conteúdo para faculdades para escrever um livro para a disciplina de um curso de pós-graduação (porque nem só de colunas engraçadinhas vive o escritor). O tema era criptomoedas e blockchain e, embora não fosse estranho para mim, chamou minha atenção que finalmente os holofotes acadêmicos apontassem para o assunto.

De fato, blockchain, bitcoin e criptomoedas são um assunto que me interessaram desde a primeira vez que eu ouvi falar, através de um ex-estagiário (atual amigo) que falava de uma moeda digital criada a partir de matemática pesada, criptografia e redes distribuídas de computadores.

Como acadêmico e profissional da área de computação, fiquei curioso e empolgado com o assunto. Como supervisor de estágio, achei que talvez o curso, o estágio e o tempo programando pudesse estar cozinhando os neurônios do meu nobre colega de trabalho. Pelo sim e pelo não, comecei a ler e estudar o assunto e até cheguei a adquirir algumas frações de bitcoin na época.

Um dos pontos interessantes sobre o bitcoin é que você não compra um ou dez, pois no momento da escrita deste texto uma unidade custa quase R$ 250 mil reais. Isso mesmo. Uma moeda digital, que na prática é só um bloco de arquivo encriptado de computador, espalhado por diversos computadores no mundo, vale o mesmo que um apartamento bem localizado.

Embora hoje eu pudesse estar escrevendo esse artigo do meu jatinho particular ou de uma suíte nos alpes, meu tino científico sempre foi mais apurado que o econômico. E hoje sou só mais um acadêmico pobretão que sabe muito sobre um assunto que deixam outras pessoas milionárias. Apesar disso, o ponto aqui não é sobre enriquecer ou investir, pois não tenho gabarito para falar nem de um, nem do outro assunto. Fazendo jus ao título, você precisa saber porque bitcoins e blockchains têm se tornado grande alvo de interesse. E como essa revolução já chegou no seu bolso. Aí mesmo, onde você coloca o seu smartphone.

Isso porque, embora criptomoedas ainda pareça papo de hipster, a revolução do dinheiro digital já começou e você não se deu conta. As iniciativas das fintechs, os tais bancos de aplicativo, partem de uma proposta de gerenciamento de recursos financeiros totalmente baseada em transações através de aplicativos de celular. Grandes bancos foram na mesma onda e já disponibilizaram recursos semelhantes em seus apps. Lembra de quando pra pagar você usava um cheque? Hoje, cartões de crédito por aproximação são aceitos de concessionárias aos pipoqueiros. E com certeza você já pagou uma vaquinha para o churrasco com um Pix.

Mas calma, Pix e aplicativos de bancos não usam criptomedas, embora emprestem o conceito. Enquanto os primeiros são dispositivos centralizados controlados por uma instituição (no caso do Pix, o próprio Bacen controla esse sistema de troca de dados entre os outros bancos), as criptomoedas são baseadas em sistemas descentralizados e autônomos.

De forma que uma transação feita nessa rede é confirmada por centenas de milhares de computadores no mundo todo, o que a torna a prova de fraude. E embora o Bitcoin possa sim ser utilizado como reserva de valor e até como moeda, sua principal característica é a imutabilidade e segurança da rede, que pode ser utilizada para registros transparentes. É como um grande cartório 24 horas a prova de fraudes, roubos, incêndio e maloqueragem.

Dito isso, por que você, cidadão comum, deveria conhecer melhor e talvez até comprar algumas frações de bitcoin? Bom, em primeiro lugar é importante deixar claro que isso não é uma dica de investimento, mas ativos como o ouro e o Bitcoin funcionaram como reserva de valor durante a queda das ações durante a pandemia, embora tenham caído significativamente no começo.

Se você tem uma pequena loja, talvez aceitar criptomoedas não seja ainda uma opção, uma vez que a maioria delas, como o Bitcoin, são muito voláteis, chegando a oscilar em 20%, 40% em um curto espaço de tempo. Porém, para empresários que tem negócios na área de veículos de luxo, imóveis e joalheria, talvez começar a pensar em aceitar Bitcoin como pagamento seja uma opção.

A moeda tem se valorizado muito, e logo haverão pessoas interessadas em adquirir bens duráveis com suas moedas digitais. Embora no Brasil já haja corretoras confiáveis e até bancos digitais que aceitam depósito e saque em criptomoedas, diminuir um atravessador é sempre interessante. E criptomedas já podem ser declaradas por pessoas físicas e jurídicas ao imposto de renda, sem problemas.

Por último, mas não menos importante: o Bitcoin tem valor? Bem, isso depende. Na Roma antiga, os soldados eram pagos com sal (daí o nome, salarium, dado pro nosso pingado de cada mês). Bois, trigo, pedaços de argila cunhada e até conchas já foram, na história da humanidade, usadas como forma de pagamento.

Porque o valor de algo e sua capacidade de ser usado como moeda não é definido por suas características físicas, mas por sua escassez e pelo interesse despertado nas pessoas. Como o Bitcoin não pode, ao contrário de outros arquivos de computador, ser copiado e colado, ele é escasso.

E vai ficar cada vez mais, uma vez que só estão previstas pelo software a produção de 21 milhões de unidades (até hoje, existem cerca de 18 milhões, sendo que uma certa parte dessas podem estar perdidas para sempre). E, como demonstrou o próprio fundador da Tesla recentemente, quando comprou US$ 1,5 bi em Bitcoins, o interesse pelas criptomoedas só aumenta.

Moral da história: se você não quiser comprar Bitcoins agora, tudo bem. Mas se alguém quiser te pagar com eles, aceite. No momento pode parecer só um pedaço de concha inútil, mas no futuro poderá valer mais do que barras de ouro que, como todo mundo que cresceu ouvindo o SBT sabe, valem mais do que dinheiro.

Confira mais textos do colunista: www.socialbauru.com.br/author/eugeniomira.

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