Há 16 meses, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou pandemia. Dessa forma, são mais de 480 dias sem apresentações artísticas em casas de shows, bares, teatros e afins. Para os artistas, sobra a saudade de estar em cima de um palco.

“É a maneira que nos sentimos úteis. Faz uma diferença na nossa vida. Estar em contato com a galera, ouvir os gritos, pessoal batendo palma e cantando junto. Quer dizer, é uma sensação real, uma coisa verdadeira e quente”, resume Léo Couto, integrante das bandas 12 Cordas, Supersônica e Crônicas de Carolina.

Distantes fisicamente, os últimos meses foram de busca por novas formas de estar em contato com o público. Em Bauru, diversos artistas encontraram nas redes sociais um local para apresentar seus trabalhos. Assim, a internet virou um palco virtual.

Um exemplo foi a banda Gum Pop. No fim do mês passado, elas realizaram um show online – ou ‘live’ – em homenagem à Lady Gaga, passando por diversas eras da artista. Essa foi apenas uma das quatro apresentações ao vivo do grupo durante esse tempo longe dos palcos.

Nesse período, os editais ajudaram a aumentar a relação da Gum Pop com as redes sociais, como indica a integrante Samantha Ciuffa. Antes, elas postavam algumas versões acústicas caseiras. Agora, a banda produz um conteúdo mais estudado, planejado e organizado. Isso gerou mais repercussão. 

“Soltamos uma série de shows no Youtube, que foram contemplados pelo Proac LAB, e deixamos o chat aberto em todos eles. Rolou muita interação, fomos assistindo junto com a galera. Percebemos que nosso público curte bastante esse formato de show online”, finaliza Samantha. 

Banda fez lives no YouTube

Música no YouTube

Assim como a Gum Pop, outras bandas da região também apostaram nas lives no YouTube para adaptar suas apresentações, como o Quintal do Bras, a Supersônica, a dupla Mateus e Belini e o grupo gospel Banda Pax.

A 12 Cordas também investiu no formato. Convidada por um estúdio de Lençóis Paulista, a banda fez dois shows acústicos de pop rock, um em junho de 2020 e outro em março deste ano. Era uma forma de mostrar ao público que “continuavam vivos”, como brinca Leo Couto. 

12 Cordas (foto: Reprodução/YouTube)

Segundo o músico, o formato caiu como uma luva. “Sentimos o fervor do show novamente”, comenta, mesmo tendo que mudar um pouco o conteúdo e a exigência de qualidade. “A pessoa está sentando em frente ao computador, então o cuidado tem que ser maior”, diz.

O resultado foi a sensação de que, assim como eles sentem falta do público, o público sente falta deles. “É a sensação de saudade mesmo”, comenta Couto. “Um amigo meu me contou que foi fazer um churrasco uma vez, e colocou a nossa live para tocar. É muito legal ouvir isso”.

O importante é a interação

Além das lives, o YouTube também se tornou um bom espaço para os músicos conversarem com o público. Há 13 anos na estrada, a banda Calibrados fez shows online, mas recentemente passaram para outro formato: o podcast. A ideia surgiu da dica de um amigo da banda.

O projeto deu certo e foi levado para a TV FIB, a convite da universidade. O programa está na grade de programação da emissora (Canal 14, da NET), toda terça-feira, das 20h às 22h. Além disso, está disponível no canal deles no YouTube. 

“Estamos sempre em busca de novidades, sempre tentando nos reinventar. Então, tentamos ao máximo adequar a parte técnica às necessidades conforme elas vão surgindo”, diz Márcio Lanzarini, integrante da banda.

Ainda segundo ele, o podcast conseguiu manter os fãs em contato com a banda e ampliar a interação. Por exemplo, aumentou as vendas na loja online. “Para ter uma ideia, só com uma simples menção do lançamento dos moletons do Calibrados durante o programa já resultou na venda de quase o triplo do que esperávamos na primeira leva e os pedidos continuam a todo vapor”, comenta.

Toda forma de arte

Além da música, outros estilos artísticos, como o teatro, também fazem da internet um palco. O diretor e ator Gabriel Duarte levou o espetáculo A.M.I. para o YouTube, na Mostra LA(B)auru. No teatro desde 2016, Duarte conta como a distância é ainda mais difícil para a área.

Peça que foi publicada no YouTube

“Acredito que o teatro em si, enquanto ofício, só se concretiza com a troca com o público. Além disso, estar no palco envolve toda uma preparação, a concentração nas coxias, os encontros, ensaios, o medo de errar, a vontade de acertar. Isso faz muita falta”, diz ele.

Dessa forma, para o espetáculo, o desafio foi encontrar o caminho entre o teatro e o vídeo. “No final, fica um produto híbrido com união de elementos das duas áreas”, conclui o diretor, que contou com a colaboração de Ana Evaristo, Tiago Rosa, Mariana Vita, Denis Augusto e Thiago Neves.

Fora do Youtube, mas ainda na internet, quem encontra espaço são as artes visuais. Produzindo colagens desde 2019, Daiana Terra, conhecida como Subversiva, se inspira em artistas como No Martins, Criola, Flavinho Cerqueira, Michael Aboya e Denisse Arian Pérez.

SubVersiva (foto: Acervo Pessoal)

Recentemente, resolveu publicar seus trabalhos na internet. Era uma forma de ficar mais conhecida na área. “Minha intenção ao expor meus trabalhos na internet é ser vista. Ainda que não gostem do que faço, quero que vejam minhas obras e saibam que eu existo, assim como a minha arte”, diz ela.

Com isso, começou a pensar na melhor forma de publicar as obras, especialmente no Instagram. As fotos precisavam ser adaptáveis ao tamanho da rede social, as cores das postagens precisavam deixar um feed mais organizado e padronizado, e os textos que acompanham a obra são mais pensados e trazem reflexões.

Colagem ‘Cortando o mau pela raiz’ (foto: Divulgação/SubVersiva)

Explorando os formatos além do YouTube

Dessa forma, a experimentação fez parte do processo de adaptação dos artistas ao palco virtual. Para a Gum Pop, o avanço foi a entrada em redes sociais como TikTok e os Reels do Instagram, mídias de, no máximo, 60 segundos. Cada um a seu jeito, foram opções para somar ao YouTube.

“Os vídeos mais curtinhos são mais fáceis de fazer, mas é mais difícil de inserir conteúdos musicais. Então, é tudo uma questão de entender qual o objetivo é fazer um planejamento para produzir aquilo que você se propõe”, diz Samantha.

Professora de canto usa o YouTube para publicar trabalhos dos alunos

Para a escola de canto da Adriana Rossetto, que não podia fazer os recitais (apresentações ao vivo dos alunos), a solução foram os collabs, que são vídeos em conjunto no qual cada um canta de casa. Em um ano, a escolha apresentou oito vídeos, com músicas de Lulu Santos, Tribalistas, Tom Jobim e John Lennon.

A mudança exigiu repensar em como levar emoção e “olho no olho” mesmo à distância, o que inclui planejar filmagem e edição. Pelo menos, o trabalho deu resultado. “Chegou em muito lugar e para pessoas que não conhecíamos. Um show no teatro se limita à capacidade do teatro, agora vemos chegar a vários lugares e recebemos feedback do nosso trabalho”, comenta Adriana.

Ou seja, experimentar formatos tornou-se um caminho natural para os artistas, que já pensam no futuro. Mesmo com a volta dos palcos, o virtual deve continuar sendo um ponto de encontro. Leo Couto planeja usar o YouTube para fazer live dos bastidores, publicar clipes ou divulgar vídeos sobre a banda.

Para a Samantha da Gum Pop, é um palco que sempre continuará aberto. “Uma vez que a porta se abriu, não tem como fechar mais (risos). O importante é manter uma constância e trabalhar para sempre ter conteúdos novos e atrativos”, diz ela. Até mesmo porque, “o Youtube é uma forma de imortalizar o nosso trabalho”, como resume Adriana Rossetto.

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