A chegada da ferrovia trouxe várias mudanças para Bauru – o transporte de cargas e de pessoas transformou a cidade em referência para a região e para o país. Além do entroncamento da linha férrea, os funcionários da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil deixaram por aqui outra herança importante: o Esporte Clube Noroeste.

Fundado em 1º de setembro de 1910 – curiosamente no mesmo dia de fundação do Corinthians –, o Norusca guarda consigo uma trajetória rica em conquistas. Sob a sombra dos tradicionais eucaliptos do Estádio Alfredo de Castilho, os bauruenses puderam celebrar as vitórias e lamentar as derrotas do clube.

Mais do que apenas um time de futebol, o Noroeste faz parte da história e da cultura de Bauru. Independente de sua posição nas tabelas, o clube pode contar com o prestígio das famílias da cidade que vão ao campo para acompanhar os jogos e vibrar durante as partidas.

Torcida Sangue Rubro

Seja em Bauru, no Brasil ou no mundo, as torcidas organizadas são parte importante da estrutura de um clube. São elas quem coordenam o apoio à equipe dentro e fora de campo com cantos, bandeiras, baterias e mosaicos.

Acompanhando o time desde 1986, a Torcida Organizada Sangue Rubro é uma extensão do Noroeste nos arredores do Alfredão. A sede da associação (que também é um bar onde os noroestinos se reúnem), fica localizada em frente à entrada principal do estádio, e guarda memórias importantes dos 110 anos do clube.

José Roberto Pavanello, ex-presidente e atual diretor de patrimônio da torcida, é quem abre e fecha os portões do espaço. A Sangue Rubro foi fundada em sua casa, no bairro Beija-Flor, há pouco mais de 35 anos.

“Naquele ano tinha uma competição. Os jogos eram em Campinas, num campo neutro. Então a gente voltou daquele campeonato e fundou a Sangue Rubro em 13 de dezembro de 1986, conta Pavanello.

Segunda casa do noroestino

O bauruense lembra que, em dias de jogos pré-pandemia, a sede da torcida organizada era o ponto de encontro dos torcedores. “Aqui tem história, tem papo. Tinha gente que até chegava mais cedo pra tomar uma cervejinha, tocar um samba”, diz.

Na sede, Pavanello guarda recordações valiosas da história do clube como uniformes, fotos e recortes de jornais de época.

Com a presença dos veteranos de torcida e até mesmo de ex-jogadores e dirigentes do clube, todos podem se reunir para beber e relembrar os tempos de ouro do Norusca, contando histórias e fazendo brincadeiras.

“Nós fazemos questão de preservar essa memória e passamos isso para os mais novos, ressaltando o quanto é importante manter nosso clube”, explica.

No espaço, também está disposto um mural para lembrar os sócios que já se foram. Recentemente, Ewerton Armani, vice-presidente da Sangue Rubro, faleceu em decorrência da Covid-19. Sua foto está lá em homenagem ao seu empenho pela torcida.

É com a torcida também que muitos bauruenses tiveram a oportunidade de conhecer outras cidades, acompanhando a agenda de jogos do Noroeste. Pavanello conta que sempre levava os filhos – hoje já adultos – para ver os jogos. Em algumas ocasiões, se responsabilizou até mesmo pelos filhos de outras pessoas.

“Nós fomos ao Morumbi, Pacaembu, Parque Antártica, Vila Belmiro… Alguns caras puderam até ver o mar pela primeira vez lá em Santos”, completa o diretor.

Compromisso social

Além do apoio ao futebol, a Sangue Rubro também cumpre com compromissos sociais em Bauru. Na última semana, os torcedores foram até o albergue noturno para distribuir sopa para pessoas em situação de rua na cidade, assim como roupas.

“É emocionante. Como é bacana poder fazer esse tipo de gesto, ainda mais nesse momento difícil com tanta gente passando fome”, conta Pavanello.

A campanha do agasalho planejada pela torcida é outra forma de selar este compromisso com a população.

Para além disso, os torcedores mais jovens podem ter aulas de instrumentos de percussão com os veteranos e o uso de qualquer tipo de substância ilícita é terminantemente proibido, passível de banimento da associação.

Sangue Rubro sempre dentro das regras

A Torcida Sangue Rubro, assim como todas as outras organizadas do estado, precisam ser legalizadas pela Federação Paulista de Futebol (FPF) para poder entrar em estádios e prestar o apoio ao time.

A regulamentação é importante para garantir a segurança de todos os torcedores durante os jogos e, se necessários, punir responsáveis por confusões.

Pavanello explica que uma das grandes preocupações de sua gestão sempre foi evitar a violência entre torcidas. Um dos lemas estampados nas paredes da sede é, justamente, “paz no futebol”.

“Historicamente, dá pra contar nos dedos quantas vezes aconteceram tumultos ou brigas. A gente faz questão de passar isso para a molecada. Nossa filosofia aqui é essa”, elucida.

Os membros da torcida devem lembrar sempre que os adversários não são inimigos. “O futebol é isso, é brincadeira. Hoje eu estou bem e brinco com meu adversário, amanhã ele está bem e brinca comigo”, pontua Pavanello.

O trabalho de conservação do Esporte Clube Noroeste faz parte do dia a dia de todos os bauruenses, mas quem quiser pode participar ativamente da torcida como sócio-torcedor.

Atualmente, a Sangue Rubro conta com cerca de 100 associados e faz campanhas como feijoadas e pizzadas para continuar arrecadando e mantendo suas memórias vivas e honradas.

Serviço
Torcida Organizada Sangue Rubro
Endereço: Rua Wenceslau Braz, 13-12 – Vila Industrial
Horário de funcionamento: Todos os sábados, a partir das 12h
Facebook: /TSR1986
Instagram: @sanguerubro1986

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