Até onde uma mãe pode ir por um filho? Essa era a pergunta que repercutia na minha cabeça de forma incessante enquanto estava dentro de um carro com destino a Duartina, cidade com 12 mil habitantes e que fica a 40 km de Bauru.

O endereço era claro e fácil de achar: Avenida São Paulo, número 50. Era lá, na loja Gata Atrevida, que tínhamos marcado um encontro com Simone Bizarro e Victória Santana, mãe e filha. O objetivo? Conhecer um pouco mais sobre a história das duas.

A loja dispõe de diversas araras com camisas, casacos, calças, saias, vestidos e acessórios. O estabelecimento é um brechó. “São roupas lavadas, higienizadas e passadas”, apresenta Simone.

A empresária explica que a ideia de montar uma loja de desapego surgiu para dar vida ao sonho que compartilha com a filha: vê-la como Miss São Paulo.

Tal mãe, tal filha

No auge dos 22 anos, Victória realiza o sonho de juventude da mãe: ser modelo. “Era o meu sonho. Quando eu era jovem, eu concorri a um concurso de Garota Duartina aqui em 93, fiquei entre as finais e meu pai cortou meu sonho”, afirma Simone.

Assim, acabou seguindo o caminho de muitas mulheres brasileiras que são encarregadas de cuidar da casa, do marido e dos filhos. Um trabalho tão árduo quanto qualquer outro.

Com o passar do tempo, Victória cresceu e começou a demonstrar que gostaria de fazer parte desse mundo. De acordo com ela, o estopim para a carreira de modelo foi uma peça teatral na escola, em que foi protagonista.

Então, não demorou muito para que a mãe percebesse o talento da filha e passasse a apoiá-la.

Aqui nasce uma Miss

Quando Victória completou 15 anos, Simone se dirigiu para Bauru e a inscreveu em uma agência tradicional de modelos na cidade. Entretanto, segundo elas, o problema é que essa área exige um alto investimento.

Desde então, Simone vem fazendo de tudo para financiar a filha, que já foi Miss Duartina e Miss Bauru. Em busca do Miss São Paulo, em mais uma empreitada para conseguir custeios, elas se depararam com pessoas má intencionadas.

“Uma vez, fui pedir patrocínio para um homem e ele quis comprar minha filha. Ela precisava de 5 mil reais para participar de um concurso e ele me falou: ‘Eu pago, só que eu quero ela’”, declara a mãe com tom de revolta.

Victória entra na conversa e explica que esse tipo de convite, infelizmente, é comum no mercado da beleza.

“É uma carreira muito difícil, muito suja. Já me quiseram como garota de programa. A primeira vez foi com 16 anos. Um cara ligou oferecendo o dinheiro e a fantasia dele e da esposa era que eu desfilasse só de calcinha e sutiã. Esse outro que tentou me comprar foi em 2018, assim que ganhei o Miss Bauru”, compartilha Victória.

De dona de casa a motorista de aplicativo

Após essa situação e com a falta de apoio financeiro, Simone e o marido, Glayton Vicentini, parcelaram um carro novo para que ela pudesse trabalhar como motorista de aplicativo.

“Fui trabalhar como Uber. Eu deixava a Victória, ela arrumava cabelo, se vestia para as lojas e trabalhos enquanto eu estava trabalhando de Uber em Bauru”, afirma.

Após passar por situações de risco, como assédio e tentativa de assalto, Simone deixou de ser motorista de aplicativo. Foi assim que ela deu início ao brechó.

O quintal de casa: onde tudo começou

“Achei uma arara emprestada. Coloquei 80 peças entre acessórios, roupas e sapatos para vender no Facebook e no grupo de WhatsApp. Foi aí que comecei”, compartilha Simone que selecionou peças próprias na tentativa de juntar dinheiro para que a filha pudesse participar do Miss São Paulo.

Foto: arquivo pessoal

De lá para cá, a Gata Atrevida já soma dois anos de atuação. O desapego fica ao lado da Victória Santana Boutique, loja de roupas novas também criada por Simone e gerenciada pela Miss Bauru.

Quando pergunto de onde veio tanta força e determinação em deixar de ser dona de casa e se transformar em empresária, os olhos de Simone lacrimejam, a voz se embriaga e a resposta sai enquanto olha para Victória: “Foi ela”.

“Coloquei as coisas na área de casa e comecei a vender. Da área foi para a vizinha, que tinha uma portinha. Aluguei o espaço dela. De lá, fui para um estabelecimento embaixo de um bar. Aí, crescemos e hoje estamos aqui”, conta.

Brechó de Simone anteriormente. (Foto: arquivo pessoal)

Laço materno

O nome que designamos a alguém pode significar muitas coisas. Como mulher de muita fé, Simone escolheu o nome mais preciso para a primogênita: Victória. Do latim, aquele ou aquela que é vitoriosa.

A primeira vitória de Victória foi ter nascido bem e saudável, na medida do possível, após uma gestação de risco.

“Eu tinha útero infantil. Era infantil, virado e aberto. Com quatro meses de gravidez, eu fiz uma ceclagem. Costurei o útero grávida dela. Durante a gravidez eu menstruava… a Victória é um milagre. Eu luto por ela desde sempre”, compartilha Simone com brilho nos olhos.

Por isso e muito mais, mãe e filha reconhecem o forte elo de vida entre si.

Pergunto para Victória sobre como é ter uma mãe e companheira como Simone. Com sorriso no rosto, as palavras dela dispensam recortes:

“Eu nunca vi alguém com tanto amor e fé. Às vezes eu quero desistir, eu encosto nela e ela me dá força. Às vezes ela quer desistir, e aí uma vai ajudando a outra. E por isso, ela é o meu maior incentivo, desde sempre. Passei por um processo de depressão e a única coisa que me fez reerguer foi minha mãe. Minha força, minha âncora foi e é ela”, responde.

Até onde uma mãe pode ir por um filho? Depois do nosso encontro, onde fomos recebidos com uma mesa vasta de quitutes e uma conversa cheia de história e inspiração, Simone conseguiu responder muito bem a esse questionamento.

“Louca, sonhadora, lutadora, vencedora e com fé inabalável”. É assim que Simone Bizarro, duartinense de 43 anos, empresária, mãe da Victória e do Júlio César e esposa do Glayton Vicentini, se define. E nós não duvidamos.

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Serviço
Gata Atrevida fica na Avenida São Paulo, n° 50, Duartina-SP
Horário de funcionamento: Segunda a Sábado das 09h às 18h
Instagram: @desapegogata.atrevida

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