Quando abriu a Ráfia em 2017, a ideia do Anderson Castro era ter uma loja de acessórios para todos os gêneros e baseados em sustentabilidade, “com a inspiração de amor pela natureza e também pela necessidade de acolher um público que não se sentia representado”, explica.
Pensada como loja online, foi na internet que Anderson fortaleceu a marca em Bauru. De início, vendia apenas alguns acessórios, mas com o tempo adicionou outros produtos, como camisetas 100% algodão e calças joggers.
Dessa forma, para o fundador, a internet foi essencial para essa diversificação de produtos. Além do e-commerce, ferramentas como Instagram, Facebook e WhatsApp ajudaram a construir uma relação com o público. “Não existiria marca se não fosse as redes sociais, pois lá nascemos e conquistamos cada cliente”, resume.
Com público já formado, o empresário decidiu abrir uma loja física. Apesar de não ser o plano inicial, ele viu, após participar de feiras e lojas colaborativas, como era importante ter um contato presencial. Pelo reconhecimento na internet, Anderson teve mais confiança para abrir a loja física.
Conseguiram também inaugurar o espaço sem medo de arriscar e podendo explorar o conceito da loja. “Conseguimos abrir a loja pensando em atender os nossos clientes, com toda nossa experiência de compras, desde o ambiente até o cheiro das roupas”, relata Anderson.
Facilitou a regularização
Para o especialista em empreendedorismo, professor da FIB e consultor do Sebrae, Clemilton Basseto, todo o ecossistema digital contribui para esses novos negócios como a Ráfia, desde a agilidade para regularização, o engajamento pelas redes sociais e o desenvolvimento do e-commerce.
Neste último ponto, o maior exemplo é o amadurecimento dos marketplaces (plataformas digitais para venda de produtos), como OLX e Mercado Livre, mais recentemente Americanas e Magazine Luiza, e os direcionados como Webmotors, Elo7 e Estante Virtual.
Até o Instagram aposta em oferecer um marketplace unido à rede social, com um serviço de vendas direto nas páginas. Outra ferramenta que contribui no dia a dia das empresas é o WhatsApp, para conversar com o cliente e até receber pagamentos.
O próprio poder público criou facilidades nesse sentido, como explica Basseto. O PIX ajuda o pagamento, além de reduzir custos por transação. Pela internet, mais de 460 atividades estão disponíveis para regularização por meio de Microempreendedor Individual (MEI). Com isso, sem precisar de contador e podendo trabalhar de casa (ou seja, economizando no aluguel), é possível emitir nota fiscal, aceitar cartão de crédito, ter conta jurídica e acesso a linhas de crédito.
Ou seja, a burocracia conseguiu acompanhar o desenvolvimento digital das vendas. “O próprio governo trouxe a facilidade de abrir a sua empresa de forma virtual. Permitiu esse acesso a novos empreendedores com novo perfil, entrando principalmente nesse mercado digital”, finaliza o especialista do Sebrae.
Loja colaborativa
Outras empresárias que aproveitaram as facilidades das redes sociais foram as bauruenses Roberta Marques, criadora da Rocochê, e Thaís Siqueira, fundadora da SIQX Lingerie, que vendiam peças de roupas pela internet.
Para Roberta, tudo começou com uma vontade de atrair todas as mulheres com uma moda atemporal e “sem padrões de beleza”. De início apenas para amigas, ela depois passou a divulgar nas redes sociais. Quem quisesse experimentar, tinha que ir ao pequeno ateliê dela. “Passei a atender mais clientes no ateliê que ficava na casa da minha mãe e o espaço ficando cada vez menor”, conta.
Thaís teve uma história similar com a sua marca de lingeries, com um ateliê inicialmente em Paraty (RJ) e depois em Bauru. Ambas precisavam de um espaço físico para que as clientes experimentassem os itens. Por isso, juntas, elas decidiram ter um local próprio, mas com um outro conceito: uma loja colaborativa.
Em setembro de 2019, as amigas abriram a Casa Autoral. Além da Rocochê e da SIQX Lingerie, o local serve como ponto físico para marcas artesanais de Bauru e região. “É uma grande rede de artistas, produtores e empreendedores num mesmo local, e não é simplesmente uma loja”, diz Thaís.
A necessidade de ter o próprio espaço físico surgiu da percepção do potencial nas redes sociais, tanto delas quanto de outros empreendedores na mesma situação. Inicialmente com 18 marcas, o espaço já tem uma rede de mais de 50 lojas. “Desde o início pensávamos em um espaço acolhedor e cheio de vida, com marcas e identidades múltiplas e acolhedor. Um reduto para a arte ter espaço”, finaliza Thaís.
Conexão com os clientes
Uma das formas de conseguir essa passagem do digital para o “analógico” foi entender que a rede social é feita para… socializar! Mais do que vender, o comércio por lá precisa criar uma relação com o cliente. “Aquele que consegue usar não só para vender, mas para divulgar conteúdo e assim criar interesse para o público, garante uma dinâmica diferente ao negócio”, diz Clemilton.
Com um conceito diferente e colaborativo, foram as interações nas redes sociais que ajudaram a Casa Autoral na pandemia. “O poder do coletivo e muito trabalho duro no online foram o que nos manteve de portas ‘abertas’. Ter um ponto de venda físico lindo não significa esquecer do online. Jamais”, diz Thaís.
Ainda segundo a empresária, o contato serve também para atender clientes mais exigentes e que buscam conhecer a fundo as marcas, em busca de conceitos e valores. “O cliente não quer apenas o produto, ele quer o seu universo e sua proposta como um todo. Por isso, é por meio dos conteúdos que conseguimos que ele entre no mundo que você está propondo a ele”, diz.
“Aprendi que hoje loja física e redes sociais caminham juntas. É através das redes que mostro meus produtos, as clientes conseguem acompanhar todas as novidades e quando se interessam por alguma peça, geralmente já mandam mensagem e logo vão até a loja provar”, complementa Roberta.
Não é só estar na internet
A pandemia escancarou ainda mais a internet como alternativa para os negócios. Mostrou também como esse processo não é apenas estar online, e sim se adaptar e planejar estratégias específicas.
Clemilton lembra dos restaurantes, que vivem do espaço físico, mas precisaram migrar. “Às vezes, algo simples, como estar em um serviço de entrega, é uma grande mudança em termos de comportamento e adequação”, comenta.
Por isso, o criador da Estilo Ráfia alerta que se atualizar é um dos fatores mais importantes. “A internet e as redes sociais mudam todos os dias. Todo dia tem alguma tendência nova, então, tem que se manter ligado e por dentro de tudo!”, diz Anderson.
Uma das formas de aprender é buscar o Sebrae. Consultor da instituição, Clemilton já ajudou várias empresas a terem uma melhor presença na internet. Uma dessas foi uma loja de roupas de 30 anos em Bauru. “Com nossa orientação, a empresa adotou leilão virtual pelo WhatsApp. Uma ferramenta simples que todo mundo tem permitiu essa inserção digital e um aumento no faturamento”, relembra.
10 dicas para abrir o seu negócio na internet
Outro aspecto importante é aproveitar a força de Bauru, que está em 35º no Índice de Cidades Empreendedoras (ICE). “É uma cidade com grandes oportunidades”, resume Basseto.
“A localização estratégica e ser a maior cidade em uma raio de até 100 km fazem com que o entorno veja Bauru como um polo de desenvolvimento”.
E para você que ficou inspirado nas histórias do Anderson, da Thaís e da Roberta, reunimos algumas dicas passadas pelos entrevistados.
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Tem que planejar
Como qualquer negócio, a primeira etapa para ter sucesso e diminuir o risco é fazer um planejamento, incluindo reunir informações, pesquisar o mercado, quem são os clientes, qual o preço quero ofertar, conhecer fornecedores e quem são os concorrentes. (Clemilton Basseto)
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Como vai o seu dia?
Nesse processo, está também olhar como vai ser a operação da empresa, ou seja, calcular o dia a dia. Qual é a quantidade de compras necessárias, como estocar os produtos, definir formas de pagamentos, pensar se vai ter funcionários, como lidar com entrega, entre outros detalhes. (Clemilton Basseto)
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Não esqueça do investimento
Por fim, o planejamento inclui a parte financeira. Quanto é preciso investir e quanto lucro pretende ter. Com isso, dá para avaliar o mercado, a operação e o financeiro para saber se tem viabilidade técnica (você consegue entregar essa operação?) e econômica (isso vai dar resultados?). (Clemilton Basseto)
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Rede social é para produzir conteúdo
Estar na internet não significa somente publicar o produto, mas também ofertar um conteúdo que possa criar interesse e engajamento. Se vende roupas, pode publicar assuntos de moda, por exemplo. (Clemilton Basseto)
E não tenha vergonha de falar com as pessoas ou gravar vídeos. As pessoas gostam de ver pessoas! (Thaís Siqueira)
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Estude, estude e estude
O empenho inclui também a dedicação para estudar e buscar conhecer tudo sobre o seu ramo. Você pode pesquisar no mundo inteiro quais são as tendências e adaptar sua empresa para conseguir atender vários públicos, gostos, culturas e estilos. (Anderson Castro)
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Acredite no seu produto
Não desistir e acreditar no seu produto é o primeiro passo para que outras pessoas também acreditem. (Anderson Castro)
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O universo da sua marca
O cliente não quer apenas o produto, ele quer conhecer o universo e a proposta das empresas. Pelas redes sociais, o jargão ‘quer pagar quanto’ não faz muito sentido. Por lá, é sobre poder ter mais interação com o cliente através de conteúdos que o façam entrar no seu mundo. (Thaís Siqueira)
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Primeiro passo: começar. Segundo passo: continuar
Não tenha medo de começar! O frio na barriga não pode te paralisar. Além disso, é preciso constância. É necessário esforço diário, até mesmo porque raramente o resultado vem da noite para o dia. Nesse processo, é interessante também buscar parcerias com pessoas, marcas e empreendedores do seu nicho. (Thaís Siqueira)
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Fique atualizado
O empreendedor tem que estar ligado nas mudanças da sociedade, especialmente Bauru. Uma cidade dinâmica como a nossa apresenta oportunidades o tempo inteiro, e é preciso identificar essas oportunidades e saber como poder aproveitar da melhor forma possível. (Clemilton Basseto)
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Não suma nunca
Empreender nas redes sociais é algo bem trabalhoso, mas não pode desistir. É preciso estar o tempo inteiro presente na internet. A constância ajuda a divulgar a marca. Quem não é visto, não é lembrado, então tente sempre estar aparecendo nas redes. (Roberta Marques)