Cidade do samba, o Rio de Janeiro sedia uma das maiores festas do mundo: os desfiles das escolas de samba no Carnaval. Desde 1984, as agremiações fazem exibições na Marquês de Sapucaí, um espaço criado especificamente para receber as apresentações de Carnaval.

Com o nome popular ‘sambódromo’, a proposta de Darcy Ribeiro era projetar um espaço que unisse o samba das agremiações carnavalescas com as alegorias, a bateria e as alas que criam o espetáculo visual.

Desde então, a ideia de um lugar específico para receber o Carnaval se espalhou pelo Brasil e, hoje, são mais de 15 sambódromos pelo país. O que talvez poucas pessoas saibam é que Bauru teve o terceiro sambódromo, inaugurado uma semana depois da abertura do mesmo espaço na capital do estado.

Por que Bauru criou um sambódromo? Como foi o primeiro desfile? Qual era o sentimento na época? Para responder a essas perguntas, vamos fazer uma viagem no tempo para o ano de 1991, por meio das notícias de jornal. 

Portanto, criamos matérias que teriam saído no Social Bauru nos cinco dias que marcaram essa época para mostrar como foi o período de inauguração do Sambódromo, no dia 8 de fevereiro, e celebrar os 30 anos do espaço

São textos baseados em informações recolhidas de arquivos do Jornal da Cidade de janeiro e fevereiro de 1991, assim como as fotos que ilustram a matéria. 

Obras aceleradas no sambódromo para entregar neste Carnaval

Quinta-feira, 7 de fevereiro de 1991

Sambódromo em obras (foto: Arquivo Jornal da Cidade)

Neste domingo (10), acontecem os desfiles das escolas de samba de Bauru que, neste ano, terão um brilho especial com a inauguração do sambódromo, o terceiro do país.

Conhecido popularmente como ‘Izzódromo’, em nome do prefeito Izzo Filho, a obra muda o panorama do Carnaval bauruense, entregando um espaço fixo e retirando a necessidade de instalar arquibancadas provisórias todo ano, além de projetar um parque de lazer no local para outros períodos do ano.

Para entregar a tempo da festa de 1991, a Prefeitura intensificou, nos últimos 40 dias, a obra do espaço, localizado na área do futuro Parque da Água Comprida, entre o núcleo Geisel e o Parque das Camélias.

A pedido da Prefeitura de Bauru visando adiantar a obra, as equipes que trabalhavam em outras obras da cidade foram deslocados para o local do Sambódromo, aumentando para 50 funcionários. 

Com a aceleração, a ideia é entregar a obra nesta sexta-feira (8), como informa o Secretário de Obras da Prefeitura, João David Felício.

Vale a pena fazer um sambódromo em Bauru?

Sexta-feira, 8 de fevereiro de 1991

Pedro Macéa, presidente do BAC (foto: Arquivo Jornal da Cidade)

Com a inauguração marcada para hoje à noite (8), o sambódromo de Bauru deixa uma pergunta: vale a pena? Enquanto uns comemoram o espaço próprio, outros criticam a distância.

Para o presidente do Bauru Atlético Clube (BAC), Pedro Macéa, o sambódromo só faz sentido se tiver um uso depois do Carnaval. Já o presidente da escola de samba Cartola, Paulo Madureira, é mais otimista com o novo espaço. “A gente tinha que partir para um local fixo, com arquibancadas e outras instalações”.

Pelas ruas da cidade, a população também divide opiniões. O técnico de televisão e bauruense Nésio Martins ainda prefere os desfiles no antigo local. “O Carnaval no centro seria bem melhor”, resume. Na mesma linha, o aposentado Natalino Zamaro, 55, lembra de outros carnavais. “O Carnaval tem que ser no centro para facilitar o acesso de todos, já que é uma festa do povo”, enfatiza.

Por outro lado, outras pessoas defendem a ideia. Na Vila Independência, o ex-dirigente de escola de samba Argeu de Oliveira, 44, elogiou a mudança e diz que “o público vai se habituar com a distância”. A estudante Claudinéia José, 20, também aprova o sambódromo. “Era preciso construir um lugar apropriado para o Carnaval, longe do tumulto”, comenta.

Prefeitura de Bauru entrega sambódromo, o terceiro do país, com custo de Cr$ 50 milhões

Sábado, 9 de fevereiro de 1991

O novo espaço do samba em Bauru (foto: Quioshi Goto/Arquivo Jornal da Cidade)

Com uma pista de asfalto de 688 metros de extensão, camarotes e arquibancada para 8 mil pessoas, a Prefeitura inaugurou ontem (8), às 20h30, o sambódromo de Bauru, uma obra de Cr$ 50 milhões.

Inaugurado menos de uma semana depois do sambódromo da capital, no Parque Anhembi, Bauru fica na história como o terceiro sambódromo do país.

E na festa de inauguração, o que não faltou foi samba. O primeiro dia do sambódromo, batizado com o nome do jornalista José Carlos Galvão de Moura, falecido no ano passado, contou com a apresentação de parte da bateria da escola de samba Deixa Falar, comandada pelo mestre Landinho.

Tudo pronto para os desfiles da escola de samba no novo sambódromo

Domingo, 10 de fevereiro de 1991

SambódromoPrimeira sambódromo do interior do Brasil (foto: Quioshi Goto/Arquivo Jornal da Cidade)

Hoje à noite (10) acontecem os desfiles das escolas de samba de Bauru, com entrada gratuita nas arquibancadas. Tradição da Bela Vista, Mocidade Independente, Deixa Falar e Império da Vila Nova Esperança estão prontas para brilhar no recém-inaugurado sambódromo da cidade. 

As quatro escolas concorrem ao título de campeã do Carnaval, e serão avaliadas nos quesitos bateria, evolução, harmonia, comissão de frente, mestre-sala e porta-bandeira, alegorias e adereços, samba-enredo, enredo e fantasia.

Além dos desfiles, quem também deve passar pela avenida samba bauruense são o Rei Momo e Rainha do Carnaval 91, que abrem os desfiles a partir das 19h. Eles prometem transmitir toda a alegria da festa. 

O Rei Momo Carlinhos Ford, 42, promete energia. “Sou sambista! Vou levar alegria para toda a avenida e muita animação para os clubes”, diz. A Rainha do Carnaval Adriana Pereira também deve levar muita animação. “Eu quero transmitir minha felicidade para o público”, garante. 

Cartola não vai desfilar

Uma das tradicionais escolas de samba de Bauru, a Cartola, não vai desfilar, devido a divergências com a Prefeitura e problemas internos na direção. Mesmo com figurinos prontos, a agremiação decidiu resolver a situação e brilhar ainda mais no próximo ano.

Como chegar

Com a expectativa de grande público, a Emdurb preparou um esquema especial de trânsito para a região do Sambódromo. Serão feitas modificações nas ruas dos Abacateiros e das Laranjeiras para facilitar o acesso. 

Já para quem está planejando ir ao sambódromo de ônibus, uma boa notícia: os ônibus que saírem da avenida Rodrigues Alves com direção ao sambódromo serão gratuitos – só a ida. Na volta, a Emdurb preparou um esquema especial com reforço nos ônibus saindo do local após os desfiles.

Desfiles agitam o recém-inaugurado Sambódromo em Bauru

Segunda-feira, 11 de fevereiro de 1991

SambódromoTradição da Bela Vista (foto: Quioshi Goto/Arquivo Jornal da Cidade)

Neste domingo (10), aconteceu o primeiro desfile das escolas de samba no Sambódromo. Apesar das preocupações de distância e mesmo com a chuva, o público compareceu em peso para a estreia da passarela do samba bauruense. 

Portanto, foi um dia marcado pela animação do público e pelo belo espetáculo apresentado pelas quatro escolas de samba que disputam o Carnaval de 91. Veja como foram os desfiles de cada uma das agremiações.

Império da Vila Nova Esperança

Quem abriu os desfiles foi a Império da Vila Nova Esperança. Com o tema ‘Alô, Bauru, seu programa está no Ar’, a escola de samba contou na avenida a história da comunicação radiofônica da cidade, trazendo referências sobre os programas de rádio e aspectos técnicos. A melhor atração da Império foi o acabamento das fantasias, alegorias e adereços, que utilizou materiais descartáveis, mostrando uma alternativa viável e criativa para compor os quesitos.

Deixa Falar

Em seguida, foi a vez da Deixa Falar passar pelo sambódromo, trazendo o enredo ‘Quem não tem cão, caça com gato’. A bateria comandada pelo mestre Landinho estava afinada e foi acompanhada pela animação do público, já que a escola é do Geisel, mesmo bairro do novo espaço do samba em Bauru. Entretanto, o enredo fraco (contando a rotina do bairro Geisel) e o exagero do improviso atrapalharam a agremiação.

Tradição da Bela Vista

‘De Galanga a Chico Rei: o Sonho da Liberdade’ foi o próximo tema na avenida do samba, apresentado pela Tradição da Bela Vista. Interpretando a trajetória de Chico Rei, a escola usou os grafismos africanos para representar a produção do enredo em quase todas as alas, especialmente nas fantasias de mestre-sala e porta-bandeira, destacados de branco na avenida do samba.

Mocidade Independente de Vila Falcão 

Com fogos de artifício, a Mocidade Independente de Vila Falcão entrou no palco às 00h40 e fez a plateia se aglomerar para ver o desfile da escola com mais títulos em Bauru. Com o enredo ‘Amazônia no Espelho das Águas’, a agremiação deixou claro que é a melhor entre as escolas de samba de 91.

A qualidade da escola de samba esteve presente desde a comissão de frente, nos cinco carros alegóricos e especialmente na ala Boto-Cor-de-Rosa, além da poesia do samba-enredo de Paulo Roberto Mamede e João Vecchi. Além da beleza do desfile, a mensagem contra os desmandos humanos cometidos contra a natureza deu um toque especial ao desfile da Mocidade.

Apesar do resultado sair apenas na tarde desta terça-feira (12), os desfiles de hoje à noite deixaram claro que a Mocidade deve ser mais uma vez a vencedora do Carnaval de Bauru.

Com informações das edições de arquivo do Jornal da Cidade coletadas com apoio do Museu Histórico Municipal de Bauru.

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