Com mais de 800 mil visitas por ano e cartão postal de Bauru, o Parque Vitória Régia foi um dos passos para a modernização da cidade nos anos 1970, transformando um terreno desnivelado em um símbolo do município.

Esse processo aconteceu quando Jurandyr Bueno Filho, arquiteto do parque, trabalhava na gestão municipal e comandou a projeção de diversas obras de infraestrutura, como a duplicação do viaduto Mauá, partes da Rua Dr. Otávio Pinheiro Brisola e da Av. Nações Unidas, e diversos viadutos da cidade.

Assim, foi um processo de modernização que misturou construções que aproximavam Bauru das grandes cidades com obras para singularizar o município.

Isso porque a ideia era que o Vitória Régia desse uma identidade para a cidade, assim como Torre Eiffel, Coliseu e Estátua da Liberdade. Bauru não tem espaços naturais e nem tinha prédios marcantes, então o arquiteto planejava criar um monumento para representar a cidade.

“Eu achava que Bauru não tinha uma cara”, relembrou Jurandyr Bueno em entrevista. “Salvador tem o Elevador Lacerda, Rio de Janeiro tem o Cristo Redentor e nós aqui no meio desse ‘cerradão’ paulista. Eu achava que a cidade tinha de ter uma identidade”.

Para pensar a estética do anfiteatro, a inspiração na Ágora grega veio após uma viagem de Jurandir para a Grécia, em 1971.

Parque Vitória Régia

Teatro na área aberta?

Além da representação visual caracterizada pelas placas acústicas esculturais, pela arquibancada e pelo palco no centro do lago – que nomeia o parque -, o local é um ponto para os bauruenses aproveitarem a cidade.

Os 42.810m² do Parque Vitória Régia permitem caminhadas, a área verde é ótima para piqueniques, o playground é um espaço a mais para as famílias e o anfiteatro sedia apresentações, isso sem contar as feiras e festas organizadas por lá e os restaurantes e lanchonetes próximos do local.

Entre esses espaços, uma das áreas utilizadas é o platô logo acima da arquibancada, aproveitando a característica nivelada. Apesar das vantagens, o primeiro projeto pensava em outro formato para o ponto! O projeto original previa a construção de um teatro no local.

Foi o que o arquiteto Renan Araújo encontrou durante a pesquisa para o projeto de conclusão de curso. “[Esse espaço plano] é tão inserido no parque que parece que faz parte, de que era para ser vazio mesmo. Mas não era”, comentou, em entrevista ao Social Bauru no fim de 2020.

 Projeto do Parque Vitória Régia (fonte: Relatório de pesquisa/Unesp)

“Vi em uma pesquisa que fala sobre pontos turísticos e fala sobre o Vitória Régia. [O Jurandyr], em cima daquele platô, tinha previsto a construção de um teatro fechado que ia ter uma comunicação subterrânea com a arquibancada de concreto”, explicou Renan.

É o que confirma o doutor em arquitetura e urbanismo, Alexandre Suárez. Em um relatório de pesquisa sobre “espaços de manifestações artísticas de Bauru”, o professor explana sobre a ideia inicial.

Parque Vitória Régia

“O projeto original do parque previa a construção de outro teatro coberto, com concepção tradicional ‘à italiana’. Esse segundo teatro seria construído de forma consecutiva ao anfiteatro, mas em uma implantação anterior a ele e confrontado com uma rua lateral ao parque. Esse teatro não chegou a ser projetado, mas sua localização estava prevista e no local hoje existe um platô”, pontua no texto.

Improviso?

Outra curiosidade sobre o Parque Vitória Régia é que ele foi um ‘improviso’. Quer dizer, ele foi planejado e cuidadosamente projetado pelo Jurandyr. Entretanto, ele não fazia parte das primeiras ideias de modernização da gestão da época.

“Era uma imensa erosão. Então, nós fizemos a conta e era mais caro tapar aquele buraco do que desapropriar, aproveitar o desnível existente e ali criar alguma coisa. E nós fizemos aquela obra com financiamento do Banco do Brasil, no qual não estava previsto a construção do anfiteatro”, contou Jurandyr, em entrevista ao programa Nota 10.

“O que nós fizemos: tomamos a decisão de nós mesmos construirmos a [Avenida] Nações Unidas com mão de obra da Prefeitura, de tal forma que nós compramos uma usina de asfalto com aqueles recursos. Então, nós mesmos, com nossa fábrica de guias e tubos fomos executando a Nações, e ia sobrando dinheiro referente a concreto e ferro. Por isso, eu projetei o Vitória Régia com a sobra de volume de concreto que eu tinha, complementou.

Na mesma entrevista, o arquiteto comentou sobre a proposta de transformar o Vitória Régia na identidade de Bauru. E mais: de como isso virou realidade. “Então aqui, todo mundo que chega em Bauru, já passa pela Nações, vê o Vitória Régia e identifica a cidade, disse.

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