“As Aventuras de Tintim”, “As Meninas Super Poderosas”, “Pica-Pau”, “Super Patos” e “Três Espiãs Demais!”. Esses são alguns dos desenhos animados que Marcela Scota, animadora bauruense, acompanhou quando era criança.

A lista dela é extensa, se resume a “quase todos os desenhos que passavam na TV Cruj, TV Globinho, Cultura e Cartoon Netwoork”. Foi com essas influências que a bauruense adentrou no mundo criativo das animações.

Com um computador em mãos, desenvolveu um hobby: desenhar no Paint e editar vídeos de maneira independente.

Em 2011 entrou para Design Gráfico na Unesp, universidade pública com campus em Bauru, e desde então desenvolve animações de forma profissional. Dentre os trabalhos, estão “Boris e Rufus”, “Tuca o Mestre Cuca” e “Cantando com Ping e Pong”.

Foto: arquivo pessoal

Hoje, aos 30 anos, ela comemora a participação como animadora 2D em “Cuphead – A Série”, nova série da Netflix. Baseada no jogo de mesmo nome, a série, desenvolvida por Chad e Jared Moldernhaur, chegou ao streaming em fevereiro de 2022. A trama narra as desventuras dos irmãos Xicrinho e Caneco. Nas Ilhas Tinteiro, eles enfrentam o Diabo e outras criaturas.

Com tom cômico e nostálgico, só o trailer da série já coleciona mais de 10 milhões de visualizações.

“É muito legal fazer parte de um projeto tão grande, que pessoas do mundo todo estavam na expectativa. Já é muito legal fazer parte de projetos que passam na TV, mas Cuphead foi diferente pelo hype do jogo e da série. Os fãs interagem bastante com os conteúdos lançados, criam teorias sobre a história e os personagens, fazem vídeos reagindo às cenas”, afirma. “Saber que fiz parte disso, mesmo sendo uma animadora no meio de tanta gente talentosa, é para sentir orgulho mesmo”, complementa.

O Social Bauru conversou com Marcela sobre a trajetória no mundo criativo, carreira, atuação no “Cuphead – A Série” e planos para o futuro. Confira a entrevista na íntegra:

– Você se formou em Design na Unesp de Bauru?

Sim, entrei para o curso de Design Gráfico na Unesp Bauru em 2011 e me formei em 2017. Dentro desse período, também fiz um ano e meio de intercâmbio na UNSW (Sydney, Austrália) pelo Ciência Sem Fronteiras.

– Como você iniciou na área de animação? De onde vem essa vontade?

Sempre gostei dessa área mais criativa, desde criança. Quando ganhei meu primeiro computador, alguns dos meus hobbies eram desenhar no Paint e editar vídeos no Movie Maker, então, aos poucos fui criando gosto pelos trabalhos audiovisuais.

Consegui ter mais contato com animação já no meu primeiro estágio durante a faculdade. Trabalhei numa empresa de tecnologia e educação, onde criávamos jogos educacionais no antigo Flash. Também foi onde comecei a aprender After Effects e trabalhar com motion design.

Ainda na faculdade, fiz o “PIPOCADOS”, uma websérie animada, como Trabalho de Conclusão de Curso. Em 2017, logo depois de eu me formar, consegui uma vaga de trainee na Belli Studio, um estúdio de animação de Blumenau, Santa Catarina. Foi minha primeira oportunidade de trabalhar em uma série de animação para TV e uma experiência incrível! Fiquei lá por dois anos e, durante esse período, trabalhei em séries como “Boris e Rufus”, “Tuca o Mestre Cuca”, “Cantando com Ping e Pong”, entre outras.

Recebi a proposta da Lighthouse Studios no final de 2019 e, em 2020, me mudei para Irlanda para trabalhar em “Cuphead – A Série”

Lighthouse Studios. (Foto: arquivo pessoal)

– Você mora na Irlanda, certo? Se mudou por conta do emprego?

Sim, moro na Irlanda, na cidade de Kilkenny. Mudei pra cá em 2020 por conta do emprego que consegui aqui. No começo de 2019, ainda no Brasil, apliquei para várias vagas internacionais que via online. Esse estúdio irlandês [Lighthouse Studios] me respondeu e pediu um teste de animação. Depois agendaram uma entrevista e me fizeram uma oferta de trabalho.

Tirando a pandemia, que atrasou o processo e complicou um pouco as questões de viagem, foi tudo relativamente simples, o próprio estúdio cuidou da parte de visto/permissão de trabalho para eu entrar no país.

Foto: arquivo pessoal

– A animação do game ficou bem fiel aos desenhos da década de 30. Poderia falar mais sobre o estilo e processo de animação da série?

O jogo Cuphead tem um estilo bem único e é inspirado em desenhos da década de 1930, como “Silly Symphonies” da Walt Disney e os trabalhos da Fleischer Studios (Betty Boop, Bimbo, Popeye). O estilo de animação rubber hose, usado nessas animações, é definido por personagens cujos membros são basicamente “mangueiras de borracha”, ou seja, de formas simples, curva fluida, como se não tivessem articulações.

Imagem: Netflix/Cuphead – A Série

A série seguiu o mesmo estilo de arte, mas foi animada digitalmente no Toon Boom Harmony. Esse software permite criar “marionetes” (rigs) de cada personagem, facilitando o processo de animação, ou seja, não foi preciso desenhar todos os quadros à mão (como foi feito originalmente no jogo). Ainda assim, o objetivo era de criar uma animação mais orgânica e fluida, deixando mais próxima do estilo tradicional.

Foto: Netflix/Cuphead – A Série

– Antes de trabalhar com a “Cuphead – A Série”, já havia jogado o game?

Nunca joguei Cuphead, mas sei que é um jogo bem difícil e que as pessoas sofrem para passar as fases.

– Quais foram as suas maiores dificuldades no trabalho “Cuphead – A Série”?

The Cuphead Show foi o projeto mais desafiador que já trabalhei até hoje. O nível de exigência foi bem alto para manter a qualidade da série e precisava dar atenção para cada pequeno detalhe das cenas. O projeto me tirou bastante da zona de conforto, mas tive bastante suporte da equipe (animadores, leads, supervisores e diretor) e eu aprendi muito no processo.

Foto: arquivo pessoal

– Além dessa produção na Netflix, você tem sonho de trabalhar em algum lugar específico?

Quando eu era mais nova, eu ficava impressionada com as propagandas animadas da Coca-Cola e pensava que era lá que eu queria trabalhar (mal sabia eu, na época, que estúdios geralmente são terceirizados para esses trabalhos). Mas hoje eu não sonho em trabalhar em nenhum lugar específico. Talvez tenha alguns projetos que eu gostaria de ter a oportunidade de animar, como Hilda, que também é uma série da Netflix e uma das minhas animações favoritas da atualidade.

– Quais são os conselhos que daria para quem quer seguir na área assim como você?

Acho que é importante estudar desenho gestual, os princípios de animação e os softwares mais utilizados no mercado, como Toon Boom Harmony, Adobe Animate, Blender, entre outros. E também ser paciente, curtir o processo de estudo, evolução e tentar não se comparar com outros artistas. Cada um tem sua própria jornada!

 

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