Ensinar pode ser um desafio. Os professores precisam lecionar em salas de aula com dezenas de alunos, cada um com sua individualidade e suas dificuldades.

Além disso, o modelo escolar quase sempre é o mesmo: livros didáticos, matéria na lousa, explicação, exercícios e provas. Porém, em alguns momentos, o padrão pode ser um obstáculo.

Mala Encantada, da professora Lorinisa Knaak

Há 11 anos, a professora e contadora de histórias Lorinisa Knaak deu aulas para um estudante com autismo que tinha dificuldade de concentração. “Ele tinha uma dificuldade muito grande para desenvolver as atividades na escola, e todas as estratégias que eu utilizava não estavam dando resultado”, lembra a educadora.

O aluno ainda era bastante ansioso e apresentava algumas reações agressivas. Então a preocupação, além do conteúdo, era também com o comportamento.

Foi aí que surgiu a ideia da Mala Encantada. A professora decorou uma mala e começou a colocar dentro dela objetos que o aluno gostava, inclusive livros. Conforme ia fazendo a leitura, tirava objetos de dentro da mala para ilustrar a história.

“Eu nunca imaginei que a contação de histórias seria tão forte na vida das crianças. Mas afinal, quem não gosta de ouvir um bom causo?”, questiona. Foi a partir dessa atividade que a professora, que também é especialista em educação especial, conseguiu estimular a atenção e a concentração do aluno.

O projeto, idealizado para um estudante em específico, foi ampliado e passou a atender diversas turmas. Atualmente, Lorinisa utiliza a Mala Encantada em todas as faixas etárias, do ensino infantil ao médio. “Para qualquer aluno aprender, com ou sem deficiência, é preciso ter atenção, concentração e imaginação”, conclui.

O ensino e a pandemia

Em 2020, alunos e alunas do mundo todo pararam de frequentar presencialmente a escola por conta da pandemia de Covid-19. Por conta disso, os educadores precisaram se adaptar e desenvolver atividades para serem feitas de forma remota, em casa e com a família.

Aqui em Bauru não foi diferente e alguns projetos foram iniciados e aplicados nesse contexto.

Alfabetização no formato remoto, da professora Luciana Apolonio

A professora Luciana Apolonio precisou adequar suas aulas para atender aos alunos em idade de alfabetização. “A decisão de uma alfabetização em aulas remotas foi uma prática emergente, que surgiu com a dificuldade de acessibilidade, recursos e com as demandas das famílias”, conta a professora.

Aluna da professora Luciana que passou pelo processo de alfabetização (Foto: arquivo pessoal)

Quando a pandemia começou, os professores das escolas de Bauru elaboravam blocos de atividades e as famílias buscavam os materiais na escola. Luciana desacreditou desta forma de organização e tomou a iniciativa de gravar vídeos complementares para ajudar os pais.

“Os vídeos ajudaram, mas não o tanto que precisávamos. Então decidi inserir as crianças nos materiais”, lembra a educadora. Ela passou a enviar o roteiro para que cada aluno gravasse sua participação. Ela conta que o resultado e o envolvimento das famílias foram positivos, mas não o suficiente para as demandas escolares.

Professora Luciana Apolonio e seus alunos no retorno presencial (Foto: arquivo pessoal)

Diariamente, Luciana continuava recebendo pedidos de ajuda dos alunos e dos pais. Foi aí que ela decidiu começar a dar aulas online de caráter opcional no período de maior adesão das famílias (noturno), já que uma de suas exigências era que um adulto estivesse presente para acompanhar as atividades.

Rotina de aulas

Cada aula tinha duração de uma hora e meia e a seguinte rotina:

  • Look do dia (o tema era definido previamente, podia ser uma fantasia, o time favorito, setembro amarelo, etc)
  • Novidades do dia
  • Atividades de estudo
  • Intervalo
  • Atividades de estudo

Em 2021, Luciana conta que o índice de participação nas aulas era muito bom: uma média de 15 a 18 alunos de um total de 25. Além das aulas online previstas, eles ainda tiveram outras atividades interativas, como:

  • Entrevista online com a comunidade indígena de Avaí
  • Aularraiá: festa junina online (com correio elegante!)

Aularraiá dos alunos da professora Luciana (Foto: arquivo pessoal)

  • Bingo online
  • Olimpíada da Leitura – com a finalidade de promover a mobilização da família para incentivar e estimular a participação em atividades de leitura, como a das letras do alfabeto, palavras e pequenos textos. O adversário, nesse caso, era a própria criança
  • Participação na II Mostra Cultural das Escolas Municipais de Bauru, promovida pela Secretaria Municipal da Educação, com a atividade “Família ABams”
  • Início da sequência didática do gênero “Adivinha” na modalidade online e que culminou na publicação e lançamento de um livro com as produções textuais da turma no modo presencial

Livro publicado pela turma (Foto: arquivo pessoal)

Além de todas essas atividades, a professora Luciana ainda ofereceu um grupo de reforço escolar para o desenvolvimento da leitura e outro grupo de “Histórias e Memórias” para trabalhar o gênero relato de experiência, na sua modalidade oral e escrita.

Apesar de todo o trabalho desenvolvido durante a pandemia, a professora reforça que o contexto das aulas remotas não se assemelha às aulas presenciais e, mesmo com toda a dedicação, o resultado do ensino-aprendizagem não foi tão satisfatório. A professora Luciana é favorável e adepta ao ensino presencial na escola.

Portfólio digital, da professora Fernanda Paiva

O projeto da professora Fernanda Paiva também começou a ser desenvolvido durante a pandemia, ainda em 2020. Na época, ninguém sabia ao certo quanto tempo seria preciso ficar longe da escola.

Segundo ela, foi difícil para todos: professores, pais e alunos. “Quando se trabalha com crianças, tudo isso é muito complexo. Tanto para nós, quanto para os pais, que de repente estavam com atividades, mas não sabiam aplicar e nem gerar um ambiente propício para esse desenvolvimento”, comenta.

Nesse cenário, Fernanda começou a gravar vídeos direcionados às famílias para tentar diminuir o distanciamento – pelo menos um pouco. “Os vídeos tinham atividades pedagógicas e eu também dava um alô para as crianças, para dizer que estávamos juntos naquele momento”, lembra a professora.

Os vídeos de Fernanda foram publicados em suas redes sociais. A repercussão fez com que a própria Prefeitura Municipal e outros veículos de comunicação da cidade a procurassem para conversar sobre o projeto.

Aplicação do portfólio

Quase dois anos depois do início do isolamento, as crianças finalmente voltaram a frequentar as escolas normalmente. A professora Fernanda, no entanto, entende que a tecnologia pode ser muito benéfica para o dia a dia escolar e criou o portfólio digital, uma forma dos pais acompanharem o desenvolvimento dos filhos na escola por meio de vídeos.

Para a professora, “o portfólio digital ajuda a dar aos pais a oportunidade de acompanhar o trabalho docente dentro das escolas municipais de Bauru”. Ela faz gravações semanais dos pequenos e disponibiliza um link para os pais no dia da reunião.

Quando a criança chega na escola, ela está em um estágio. A aprendizagem promove o desenvolvimento, mas não é possível transmitir essa evolução de forma textual. Dessa forma, os vídeos podem ilustrar para os pais exatamente quais são as mudanças pelas quais os filhos estão passando com a rotina pedagógica.

Na opinião de Fernanda, professores que exploram as potencialidades da tecnologia podem elaborar estratégias e projetos diferentes. “Eles estão um passo à frente porque não temem o novo. E a educação tem essa capacidade de se reinventar”, finaliza.

Viajando pela cultura africana, da professora Suzi Dornelas

Um projeto idealizado e aplicado por uma professora de Bauru em 2019 chegou a ganhar um prêmio de reconhecimento nacional: o Educador Nota 10, promovido pela Fundação Victor Civita com apoio da Editora Abril, Globo e Fundação Roberto Marinho, que contempla professores e gestores de todo o país.

A professora Suzi Dornelas desenvolveu o “Viajando pela cultura africana”, que inseriu no currículo das aulas de educação física, conteúdos de valorização das culturas africanas, afrobrasileiras e indígenas.

Professora Suzi Dornelas, idealizadora do projeto “Viajando pela cultura africana” (Foto: arquivo pessoal)

“Percebi que havia pouca representatividade desses temas na escola, principalmente na educação física. Esse projeto se tornou a minha dissertação de mestrado e ainda possibilitou a construção de dois produtos pedagógicos, que têm o intuito de subsidiar educadores/as no planejamento de aulas que foquem no desenvolvimento de conteúdos de matriz africana”, comenta Suzi.

Um dos produtos é o material audiovisual disponível do YouTube sobre o projeto. O outro é um e-book de planejamento pedagógico para que outros profissionais da educação física possam aplicar as atividades com suas turmas.

Nas aulas, os estudantes do 5º ano tiveram a oportunidade de conhecer brincadeiras e jogos tradicionais de países do continente africano e, dessa forma, ter acesso a dados geográficos, históricos e culturais dos locais trabalhados.

Alunos em uma das aulas do projeto “Viajando pela cultura africana” (Foto: arquivo pessoal)

As crianças ainda fizeram cadernos de registros com explicações sobre os jogos, discussões da classe e informações que aprenderam durante o programa, que durou um semestre.

Projetos como esse têm respaldo de leis federais e da própria Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que visa a obrigatoriedade da educação para as relações étnico-raciais na educação básica brasileira.

“Houve o envolvimento de toda comunidade escolar. A gestão reconheceu o trabalho, valorizou e contribuiu para que se tornasse efetivo. As crianças compartilharam os aprendizados para além dos muros da escola e as famílias também participaram, inclusive vieram até a escola para saber um pouco mais sobre essas culturas com os alunos”, lembra a educadora.

Alunos em uma das aulas do projeto “Viajando pela cultura africana” (Foto: arquivo pessoal)

Aqui em Bauru, as professoras apresentadas buscaram alternativas para incentivar o estudo de seus alunos e desenvolveram projetos a fim de sair da caixinha do dia a dia e tornar o aprendizado mais dinâmico e atrativo.

As propostas são super interessantes para integrar os estudantes e fazer a diferença dentro e fora das salas de aula.

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