Após a abolição da escravidão no Brasil, os negros não tiveram nenhum tipo de assistência para continuarem suas vidas, o que fez com que eles vivessem em condições precárias nas diversas regiões do país.

Inclusive, por volta da década de 1930, profissionais da saúde brasileiros buscavam comprovar, cientificamente, a superioridade da raça branca em relação às demais. Muitos médicos estudavam formas de embranquecer a população para que ela fosse o mais “pura” possível. Essas práticas ficaram conhecidas como eugenistas.

O tempo passou, mas nem tanto tempo assim. Em um período histórico, menos de cem anos não são quase nada. Dessa forma, os impactos dos mais de 300 anos de escravidão ainda são muito visíveis.

Quantos negros?

Apesar de termos avançado muito, ainda há um caminho longo a ser percorrido quando o assunto é igualdade racial. Em 2021, o então estudante de nutrição da UNIP Bauru, Jocinei Lopes fez uma pesquisa na região para mapear nutricionistas negras que atendem por aqui.

Para a surpresa dele, encontrou apenas seis. E ainda descobriu que, segundo o Conselho Federal de Nutrição, quase 70% dos nutricionistas são brancos. 

Depois disso, ele fez uma publicação no Instagram da universidade falando sobre a importância da representatividade negra na nutrição e citando as profissionais.

Representatividade é importante

Quando falamos em representatividade, indicamos que alguém pode ser exemplo para outras pessoas que se identificam com suas características.

Para uma pessoa negra, por exemplo, a falta de representatividade pode sinalizar que em determinados ambientes – ou profissões, nesse caso – ela não é bem-vinda. 

Essas impressões já começam antes mesmo de decidir o que se quer fazer. Jocinei explica por que é importante ser e se posicionar como uma pessoa negra na nutrição. 

(Foto: Ana Gabriela e Mael/014 Fotografia)

“A nutrição é uma área muito embranquecida, e muitas vezes as pessoas negras não se veem nessa profissão. Ver nutricionistas negros ajuda na representatividade para que mais pessoas negras queiram cursar essa faculdade”, explica.

“Cara de nutricionista”

Em maio deste ano, Jocinei compartilhou em suas redes sociais uma situação. Uma pessoa disse para ele: “mas você nem tem cara de nutricionista”.

“Será que são os meus óculos? Meu nariz largo? Minha boca grande? Será que é a cor da minha pele? Qual traço no meu rosto ou no meu perfil ou no meu jeito não condiz com a imagem de um Nutricionista?”, escreveu o profissional no Instagram. 

Isso acendeu para Jocinei ainda mais a ideia do quão importante é a representatividade e o que ela significa para as pessoas. 

(Foto: Ana Gabriela e Mael/014 Fotografia)

De nós para nós

Mas antes de pensar sobre todas essas questões, ele conta que não estava muito animado com o curso, até descobrir o “racismo na nutrição”

“O tema diz que a fome tem cor. Na insegurança alimentar, as pessoas que mais morrem de fome no Brasil são as pessoas negras, e são elas que têm mais dificuldade de acesso a alimentos e a um sistema de saúde de qualidade”, explica. 

Hoje, o já formado nutricionista se mostra muito animado e confiante com sua especialização. “Na área da saúde, a gente se sente empoderado para defender nosso povo da desigualdade. E quando a gente consegue dar um passo para mudar a vida da população negra, é maravilhoso”, comemora. 

(Foto: Ana Gabriela e Mael/014 Fotografia)

Médico negro

Fred Nicácio, médico dermatologista que mora em Bauru, também volta sua atenção à população negra e, assim como Jocinei, ressalta a falta de profissionais negros na área da saúde. 

Em 2018, um post de Fred viralizou na internet contando que uma paciente de 74 anos atendida por ele disse que aquela era a primeira vez que era consultada por um médico negro em toda a sua vida. 

Hoje, o médico também é influenciador e se posiciona pelas causas negra e LGBTQIAP+

Saúde da população negra

Jocinei se baseia na Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, um documento oficial do governo brasileiro e do SUS, que indica doenças e outros fatores de maior prevalência na população negra

Conhecendo essas individualidades, é possível traçar planos de ação para diminuir as desigualdades étnico-raciais.

(Foto: Ana Gabriela e Mael/014 Fotografia)

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