Há 30 anos, em 7 de julho de 1993, nascia a Academia Bauruense de Letras (ABLetras).

A organização foi fruto do sonho de muitas pessoas que tinham o mesmo intuito: divulgar e fomentar a língua portuguesa e a literatura, em especial, a da região de Bauru.

Celina Lourdes Alves Neves, professora,  incentivadora cultural e pessoa que hoje dá nome ao Teatro Municipal de Bauru, foi a primeira presidente da ABLetras e uma das responsáveis por, finalmente, criar a Academia.

Isso porque, antes do trabalho de Celina, houve duas tentativas de criação de uma Academia Bauruense de Letras. Ambas fracassaram. É o que conta Cecília Lara, professora aposentada de Literatura Brasileira e atual responsável pelo projeto Memória ABLetras, que reúne documentos e cuida da história da ABLetras.

“Teve um projeto de autoria do então vereador Wanderley José Francisco que não foi pelo caminho que era mais adequado e acabou barrado. Passou 15 anos. Quando a Dona Celina começou a fundar a Academia, ela chamou Wanderley para uma segunda tentativa, que também não deu certo. O pessoal dizia que a Academia era muito tradicional e conservadora, baseada na Academia Brasileira de Letras e na francesa. Assim, a dona Celina modernizou o projeto pela terceira vez, que foi a definitiva”, informa Cecília Lara.

De acordo com Cecília Lara, o contexto cultural bauruense da época estava mais alinhado aos movimentos de vanguarda, caracterizados por romperem com as características da arte vigente. Nesse escopo, um dos destaques em Bauru era o grupo “Apenas”, formado por Luiz Vitor Martinello, Raul Aparecido Paula, Alberto Sérgio Sanches, Luiz Carlos de Oliveira e Rubens Gonçalves Paula, e de linhagem mais moderna com abandono de sinais de pontuação, frases rápidas, curtas e objetivas, além da linguagem substantiva.

Dessa forma, segundo Cecília, não havia sentido criar uma Academia Bauruense de Letras que fosse inspirada em Academias tradicionais e conservadoras.

“Aqui em Bauru, os poetas eram mais vanguardistas, estavam na rua, escreviam para jornais, estavam nas escolas. Muitos estavam ligados ao Oswald de Andrade. Em reuniões, eles [poetas e escritores] desaprovaram e disseram que a criação era muito conservadora, citando também a relação com trajes, a maneira que dirigiam-se aos colegas. Eles achavam que não ia dar muito certo”, afirma Cecília Lara. “Ai a Dona Celina, por conta da vontade que ela já tinha, foi e modernizou o estatuto. Houve várias reuniões na casa dela, publicações no jornal e uma festa para oficializar a criação”, complementa ao informar que chegou a essa conclusão ao acessar documentos antigos.

Cecília durante evento de comemoração dos 30 anos da Academia Bauruense de Letras (Foto: divulgação)

Na última sexta-feira (07/07), a Academia Bauruense de Letras completou 30 anos de atividades em evento no Salão Nobre da OAB. Além de acadêmicos (integrantes da organização) e autoridades, o evento contou com presenças ilustres, como o poeta Edimilson Eufrásio (Presidente da Academia Jahuense de Letras), a Profa. e escritora Silvia Pereira (membro da Academia de Letras de Botucatu) e o Prof. e escritor Dr. Tiago Romano (membro da Academia de Araraquara).

Como funciona uma Academia

O principal objetivo da ABLetras é preservar a cultura da Língua Portuguesa e sua literatura. Para isso, a organização realiza palestras, eventos, ações em locais específicos, concursos culturais e publicações de obras com o próprio selo – disponíveis para empréstimo na Biblioteca Municipal de Bauru.

Alguns projetos da ABLetras incluem ações com universidades, escolas e artistas independentes. Como o caso das edições de Antologia Aberta, que reúnem textos de acadêmicos e produções literárias de diversos autores de Bauru e região.

Tudo é organizado pelos membros, também conhecidos como acadêmicos. De acordo com a definição estatutária, a Academia Bauruense de Letras deve ser composta por 40 membros efetivos, agregados em número indeterminado, 20 membros honorários e 20 correspondentes (que estão em outras localidades).

Para cada membro efetivo, há um patrono. No caso de Ana Maria Barbosa Machado, membro da cadeira 7, o patrono é Octávio Pinheiro Brizolla, o mesmo que dá nome a uma das alamedas mais importantes de Bauru.

“É importante porque mantém a história dessas pessoas”, afirma Ana Maria.

Ana Maria durante entrevista

A bauruense é poeta, escritora, curadora, editora e produtora cultural independente. Começou na Academia em 2006, há mais de 17 anos. Ela explica que para fazer parte do corpo efetivo é necessário ser convidado por algum membro fixo.

Por se diferenciar das Academias tradicionais, na ABLetras não é necessário ter ensino superior ou estudos avançados na área, apenas atuação cultural literária em Bauru. É o caso da própria Ana.

Desde 1999, a bauruense atua com o grupo literário “Expressão Poética”. Além disso, edita e escreve livros de memórias, poesias, crônicas e literatura infantil – área que mais atua nos últimos anos.

Hoje em dia, faz parte da diretoria da ABLetras com o cargo de bibliotecária. Todas as antologias, publicações, revistas e jornais já publicados pela organização estão com ela.

Antologia Literária 11 

Sede da ABLetras

Desde a criação, durante 22 anos, a ABLetras nunca teve uma sede própria. Todavia, em 2015, a gestão do então prefeito Rodrigo Agostinho cedeu um lugar para a Academia utilizar com prazo indeterminado na Estação Ferroviária de Bauru, nomeada como Estação das Artes.

De acordo com Cecília e Ana Maria, a sede foi resultado das reivindicações de uma comissão de acadêmicos que há muito tempo estava à procura de um lugar próprio.

Lá, foi possível reunir, em um único lugar, os caixotes e estantes com as publicações e história da Academia, que antes estavam espalhados pelas casas dos membros. Todavia, durante a pandemia, a ABLetras voltou a ficar sem sede com a interdição da Estação Ferroviária por questões estruturais.

Hoje em dia, a ABLetras está sem sede e com materiais espalhados nas casas dos acadêmicos. Até o momento, não há perspectivas de um novo espaço.

“O que é cedido para nós, pela prefeitura, é o espaço da Biblioteca Municipal. Mas não é o suficiente. Precisamos de um espaço próprio para nos reunirmos, juntarmos nossos materiais e pensarmos novos projetos”, conta Ana.

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