Uma vez, eu estava conversando com um amigo e comentei que estagiei na Alto Astral, empresa do João Bidu. Ele, que não é bauruense, disse que não conhecia – nem a empresa, nem o tal dono dela. Inconformada, eu disse que isso era impossível, já que todo mundo conhece o João Bidu. Então, para me confrontar e mostrar que eu estava errada, ele mandou uma mensagem para a sua mãe e outra para sua avó, perguntando se elas já tinham ouvido falar no João Bidu. Em poucos minutos, a mesma resposta em ambas as mensagens: “Claro! Quem nunca ouviu falar no João Bidu?”
Entrevistar não é algo muito simples. Entrevistar alguém tão conhecido é algo ainda mais difícil. Mas a maravilha de entrevistar alguém é poder conhecer e se surpreender. O empresário de sucesso que comanda, ao lado de Pedro José, a Editora Alto Astral há quase 28 anos, todos conhecem. Aquele que virou ícone quando o assunto é astrologia e que fazia sua avó e sua mãe ficarem paradas ouvindo o horóscopo todos os dias no rádio, você também já conhece. Mas a seguir, você poderá conhecer o pai, o avô, a criança que amava futebol e o homem que, ainda hoje, dá conselhos para mulheres de todo o Brasil. “Eu sei que a responsabilidade é grande. Se a pessoa manda uma carta ou um email pedindo para eu solucionar um problema da vida dela, é claro que ela confia em mim. Mas, ao longo de todos esses anos de carreira, nunca tive problema. Pode até ter dado, porque eu sou falível, não sou um ‘deus’ como muita gente imagina”.
SB: Você é de Bauru, certo?
João: Isso, sou de Bauru.
SB: Você gosta de Bauru?
João: Adoro a cidade. Claro que tem alguns problemas, mas eu nunca saí de Bauru e não me vejo fora daqui.
SB: E como foi a sua infância aqui?
João: Ah, a minha infância foi muito gostosa, lá na Vila Dutra. Embora com deficiência, já que eu tive pólio com 2 anos e meio, eu fazia de tudo! Caçava até passarinho, coisa que hoje eu paro e penso: ‘poxa, como eu tive de coragem de matar um passarinho tão bonitinho?’. Mas eu nadava na lagoa, andava a cavalo e jogava bola. Foi uma infância realmente muito gostosa!
SB: E hoje como é a sua relação com os seus netos? Dá para fazer as mesmas coisas que você fazia na sua infância?
João: Ah, hoje não dá. Tudo mudou completamente. Os meus netos maiores vivem no celular, ‘conectados’. Tenho um neto de 18 anos, outro de 14, de 10, 4, e um de 7 meses. Consigo participar muito da rotina dos meus netos que moram em Bauru, já que dois estão no Rio de Janeiro. Mas a gente sempre se reúne.
SB: E dizem que o pai educa e o avô estraga a criança. Você é um avô assim?
João: Não, até que não sou um avô de ‘estragar’. Eu sou de brincar, adoro estar com eles, mas não sou de ‘estragar’. Dou bronca também e comigo não tem essa moleza, não! (risos)
SB: E como era a relação com os seus filhos?
João: Eu participei bastante da rotina deles. A relação com os meus filhos foi mais intensa do que é hoje com os netos. Os meus netos pertencem aos meus filhos.
SB: Você sempre quis trabalhar com comunicação?
João: Sempre com comunicação, mas na área esportiva. Como eu não podia jogar… quer dizer, às vezes eu jogava, sim. Eu entrava como ‘café com leite’! Como eu não podia correr, eles me colocavam nos times. Mesmo assim, eu adorava jogar bola! Aí, eu comecei a pegar umas latinhas e ficar na beira do campo narrando os jogos. As pessoas me incentivaram a ser locutor esportivo. Como eu gostava muito de futebol e ouvia muito rádio, nasceu em mim essa vontade de ser locutor esportivo. Aos 15 anos, eu comecei na antiga Rádio Terra Branca. Depois, fui para a 710, que nem existe mais. Em 1968, eu fui para a Rádio Auri-Verde, já como locutor esportivo e encerrei minha carreira em 1991 para me dedicar só às revistas.
SB: Então, você ficou com as duas carreiras?
João: Ah, sim! Antes de 1986, quando eu lancei a Guia Astral, a gente já lançava os anuários, mas só (em nível) regional. Em 1985, fizemos o lançamento nacional com 30 mil exemplares para todo o Brasil. Em abril de 1986, lançamos a Guia Astral. Então, durante um bom tempo, eu e o Pedro José (sócio da Editora Alto Astral) seguimos as duas carreiras. Eu trabalhava na rádio e ele, além de também trabalhar na rádio, trabalhava na Rede Globo e cuidava da parte técnica.
SB: Como você começou a trabalhar com astrologia?
João: Ah, com astrologia foi totalmente um acidente – ou incidente – de percurso! Eu trabalhava na Rádio Auri-Verde como locutor esportivo. Naquele tempo, a disputa por audiência em Bauru era muito grande entre a Rádio Auri-Verde e a Rádio Bauru Áudio Clube. Em determinado momento, o Tobias Ferreira, que era o sócio-proprietário da Rádio Auri-Verde, decidiu mudar a programação pra ver se conseguia ganhar a liderança e inventou esse personagem João Bidu. Mas, na verdade, ele não seria astrólogo, era apenas o apresentador de um programa das 7h30 às 8h30 chamado Bom Dia Mesmo. Nessa época, o horóscopo era do Omar Cardoso. Mas, ao ter contato com a astrologia e o público feminino, porque no futebol eu só trabalhava com homens, eu vi um mundo novo e me entusiasmei com a astrologia também. Foi nessa época que eu adquiri esses conhecimentos, porque as pessoas me pediam para falar sobre os signos delas e eu só lia tudo. Mas eu não sabia, por exemplo, por que Libra era o inferno astral de Virgem ou o que era a primeira casa astral. Eu não conhecia o zodíaco. Aí, eu comecei a passar vergonha, porque as pessoas me paravam e me perguntavam na rua. Senti a necessidade de conhecer, de fato, a astrologia e adquiri conhecimentos. Nesse ínterim, o Omar Cardoso foi contratado pela Rádio Bandeirantes, em São Paulo, que adquiriu a Rádio Clube, em Bauru. Como ele saiu da Auri-Verde, eu me tornei o astrólogo do programa. Foi assim que começou a minha carreira astrológica.
SB: E como surgiu a revista Guia Astral?
João: A Guia Astral foi uma ideia minha em função dos anuários que eu lançava com o Pedro. Como a gente mandava para outras cidades, onde eu não era conhecido, eu pensei: ‘poxa, acho que temos condições de fazer uma revista mensal’. Algumas pessoas até me disseram que eu estava louco e que isso nunca daria certo. Mas a gente quis tentar mesmo assim e fizemos a Guia Astral, sem pesquisa nenhuma. A revista era a partir da nossa experiência em rádio, uma coisa bem simplória. Mas parece que era isso que o povo queria porque foi um sucesso extraordinário.
SB: E já era pela editora Alto Astral?
João: Ainda não. No começo, eu tinha uma empresa de publicidade porque na rádio eu não era contratado. Como eu vendia publicidade, eu tinha essa empresa. Tanto que o primeiro lançamento foi pela Alto Astral Publicidade. Mas, durante quase 10 anos, a editora Alto Astral era só astrológica, depois que vieram as outras publicações. O avanço veio em 1995 com o lançamento da revista Todateen – uma revista maior, com papel mais bonito, toda colorida, visando atingir um outro público.
SB: E hoje só existe uma publicação da Editora Alto Astral feita em São Paulo. Todas as outras são produzidas aqui em Bauru. Por que você e o Pedro sempre ficaram em Bauru?
João: Olha, essa é uma boa pergunta! Teve um tempo que a gente queria sair de Bauru porque aqui a dificuldade era muito grande. A gente tinha que viajar muito e a gente ficou com vontade de transferir a editora para as proximidades de São Paulo. Mas na última hora eu falei: ‘Pedro, sossega. Vamos ficar por aqui mesmo porque vai ser uma mudança muito complicada. O Omar Cardoso é de Campinas, então o João Bidu também tem que ser do interior, tem que ficar em Bauru. Até porque Bauru é de Leão, a décima casa astral de Escorpião e vamos esquecer esse negócio de mudar’. (risos) Foi aí que ficamos. E com a Internet tudo ficou mais fácil. Decidimos ficar por aqui e acho que a escolha foi acertada.
SB: Hoje sua rotina na empresa é a mesma de antigamente?
João: Não, hoje eu participo menos da gestão. Outras pessoas cuidam para mim e eu tenho uma vida mais tranquila. Até por que já estou com 66 anos! Está na hora de tirar o pé do acelerador (risos).
SB: Mas a vontade de vir até a empresa é a mesma?
João: Ah, essa vontade não passa! Se eu não vier até aqui, parece que o dia não está completo. Venho sempre de sábado e aqui é, realmente, a minha casa. Eu adoro vir aqui na editora.
SB: Os signos sempre influenciaram a sua vida?
João: Ah, antigamente não, mas hoje uso alguns conhecimentos astrológicos para tomar as decisões.
SB: E o que você costuma falar para quem não acredita em horóscopo?
João: Eu acho que horóscopo é como religião: tem gente que não gosta e não acredita. E a gente tem que respeitar as pessoas, até por que a astrologia não é uma ciência. É bom que isso fique bem claro: astrologia é uma arte. É através de símbolos e coisas antigas que a pessoa consegue fazer a previsão. Mas eu sempre digo que, se a astrologia não tivesse validade nenhuma, ela já teria sido ‘varrida’ pelo povo há muito tempo! O povo é muito sábio e só permanece aquilo que tem algum valor. Agora, o que é discutível é como a pessoa deve encarar a informação astrológica. Tem muita gente que é fanática como é na religião. Acha que tudo depende do horóscopo, mas não é assim. A astrologia é apenas uma tendência do que a pessoa pode encontrar e fazer.
SB: Durante a sua carreira, você pensou em desistir em algum momento?
João: Não, imagina! Tanto a carreira de radialista quando a editora sempre foram minhas paixões.
SB: E qual a sua religião?
João: Eu não tenho.
SB: Isso mudou depois que você começou a trabalhar com astrologia?
João: Não, nunca influenciou. Antigamente, eu era católico, mas nunca fui de frequentar igreja. Depois, eu fiquei mais realista. Eu acredito nos astros, mas não tenho religião.
SB: E como surgiu trabalhar com a Sorri?
João: Fui convidado, em função da minha deficiência, pelo Thomas Frister, que foi um dos idealizadores da Sorri. Ele me convidou para ser conselheiro por causa da minha deficiência e porque eu estava na mídia. Então eu entrei na Sorri apenas para ser do conselho. Mas o que eu não esperava é que eu iria ser presidente tão rápido! As pessoas foram saindo e, quando eu vi, já era vice-presidente. Isso aconteceu em 5, 6 anos no máximo. E, de repente, eu já era presidente e estou nessa função há mais de 25 anos. Agora vou cumprir o meu último mandato porque o estatuto não permite ficar mais tempo. Acho bom que haja essa renovação.
SB: Como surgiu o projeto da Fundação João Bidu?
João: Eu e o Pedro sempre achamos que não basta ter uma empresa, uma ilha de prosperidade, com tantos funcionários, se você fica só ali. Você tem que cuidar um pouco também do entorno. Tem que devolver para sociedade um pouco do que você ganha. A gente fazia ações esporádicas e reunimos tudo isso na nossa fundação, que hoje atende 60 crianças: 30 de manhã e 30 de tarde. Nós damos reforço escolar, atividades lúdicas, esportes, sempre pensando em não deixar a criança na rua porque você sabe quais os perigos que existem, né?
SB: Você tem algum hobby?
João: Olha, acho que não… (risos) Eu gosto de assistir televisão e ler. Adoro ler! Não leio tanto livro, mas gosto muito de ler as nossas revistas e as outras também.
SB: E a sua popularidade já te preocupou em algum momento? As pessoas enviam emails pedindo os seus conselhos…
João: Eu sei que a responsabilidade é grande. Se a pessoa manda uma carta ou um email pedindo para eu solucionar um problema da vida dela, é claro que ela confia em mim. Então, eu tenho um discernimento, um cuidado todo especial para falar com ela. É uma dúvida da vida dela. A Maria, o José e a Josefa podem não ter, mas a Amélia que mandou aquela carta tem. Isso dá uma responsabilidade muito grande. Mas, ao longo de todos esses anos de carreira, nunca tive problema. Pode até ter dado, porque eu sou falível, não sou um ‘deus’ como muita gente imagina.